segunda-feira, 18 de setembro de 2023
EM DEFESA DO ABORTO LIVRE (01/2021)
A Argentina aprovou o aborto livre até as 14 semanas de gestação. Sou a favor.
Sou a favor da liberdade de abortar. Ninguém comemora o aborto, ou um aborto. E
quem passou por isso, em geral, sabe do que eu estou falando. Abortar não é uma
decisão fácil. Mas deve, sim, ser um direito, livre, para quem assim decidir.
Não é possível expor razões verdadeiramente científicas para explicar ou
justificar esta escolha. Para quem concebe que a vida humana começa na
fecundação e atribui um valor absoluto à vida humana, para estes, tanto faz qdo
o cérebro ou sequer os rudimentos do sistema nervoso se formam. Todo aborto é,
para eles, de qualquer modo, a eliminação de uma vida humana. Alguns vão ser
contra o aborto como são contra a pena de morte. Para estes não é aceitável que
seres humanos tirem a vida de outros seres humanos sob nenhuma hipótese. Eu fico
imaginando que mesmo estes admitem a morte de outra pessoa por legítima defesa.
Mas essa não seria, para eles, a situação nos casos de aborto, nem de pena de
morte Tem quem é contra o aborto e a favor da pena de morte. A diferença sendo a
inocência do embrião e a culpa do condenado. Eu sou a favor de ambos, do direito
de abortar livremente e da pena de morte. Por razões morais ou existenciais. Não
por razões científicas. Pois, realmente não acredito que haja qualquer razão
científica capaz de dirimir esta questão. Sou a favor do aborto por dois motivos
éticos (morais, existenciais):. 1. porque não reconheço nada absoluto, nem mesmo
a vida humana. Certamente sou a favor da morte por legitima defesa. E também da
pena de morte. E portanto, eu considero que uma decisão social, que não pode ser
considerada como uma legitima defesa, é, realmente, e pode ser, moralmente,
superior à vida de qualquer indivíduo e determinar a sua morte. 2. Porque
considero que, se não é nenhum absoluto, a vida em formação na fase embrionária,
no útero da mãe, certamente é um projeto de vida que esta mesma mãe deve poder
confirmar ou não. É um projeto de vida dela e do seu parceiro e deve ser dada a
ela, aos dois, a liberdade de confirmar ou negar. E quando o fazem certamente há
um conteúdo de legitima defesa aí. O nascimento de uma criança pode ser
devastador para a vida de uma adolescente, de uma jovem, de uma mulher, e de um
homem também, em qualquer momento da sua vida. E só a ela, ou aos dois cabe o
direito e a responsabilidade de tomar a decisão de por ou não uma nova criança
no mundo. Muitas pessoas vão comparar o direito ao aborto com a tolerância com a
morte de crianças que existe em certas culturas. Só há sentido nisso se se
considera aquele absoluto da vida humana desde a fecundação. Mas, de fato, na
vida real, praticamente nenhuma dessas pessoas atribui nada parecido com um
valor absoluto à vida dos outros. Desprezam, incentivam e praticam a violência e
até extremos como tortura e assassinato de inimigos. Mas isso nem vem ao caso.
Não é de fato possível fazer essa aproximação de culturas tão diferentes e
ninguém na nossa cultura, especialmente não as pessoas que defendem a liberdade
de abortar, estão defendendo o direito de matar crianças por qualquer
justificativa. Nem crianças, nem deficientes, nem idosos. Mas é razoável que
pessoas que defendem o direito do aborto tb defendam o direito à eutanásia e a
liberdade das pessoas escolherem o momento da sua morte. Bom, esta é,
certamente, a minha posição. Quero dizer aos anti abortistas que não se
preocupem. Que cuidem das suas vidas. Que não abortem e apóiem e orientem os
seus para não abortar. Mas não se metam com quem tomou a decisão de abortar. Ela
não é fácil. Em geral. É decisão extrema. Não se metam com isso. Cuidem das suas
vidas. Abre seu olho e fecha sua boca, é o q diz o ditado. E, objetivamente, a
história comprova que a liberdade de abortar não vem acompanhada do aumento do
número de abortos. Mas, sim da diminuição das complicações, mortes e de toda a
sorte de traumas para quem aborta. É em defesa da vida, portanto, que se defende
a liberdade do aborto.
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