terça-feira, 19 de julho de 2022

O MOVIMENTO PENDULAR DA ECONOMIA CAPITALISTA E O MOMENTO HISTÓRICO ATUAL

 Eu tive uma primeira intuição do movimento pendular entre liberalismo e socialismo, digamos assim, para simplificar, dentro do capitalismo contemporâneo, no início da década de 80. Quando me pareceu claro que as estruturas econômicas (inter)nacionais e sociais democratas, que tinham ganhado corpo no pós guerra e dado forma à economia mundial desde então, haviam se tornado relativamente obsoletas e se tornado em empecilhos ao avanço do desenvolvimento econômico (sociotecnológico) mundial.

Uma necessária onda liberalizante vinha para dar alguma correção a isto.
Eu via claramente, naquela época, que a globalização era uma necessidade econômica incontrastável e que as forças que se opunham a ela seriam vencidas. E foi o que aconteceu, ainda que hoje, em aparente paradoxo, as forças liberais que conduziram a globalização, lutem contra ela.
O liberalismo venceu naquele momento histórico e muitas barreiras nacionais e sociais democratas foram superadas, em meio a um novo salto tecnológico e econômico mundial que veio até a primeira década do atual século. De lá para cá este ciclo chegou ao nível de uma crise estrutural de grandes proporções. Na qual estamos atualmente.
Na minha análise essa grande crise estrutural era, também, previsível, já que na essência do modelo de desenvolvimento liberal a concentração de riquezas surge como um resultado necessário e um verdadeiro princípio inconteste. E a concentração acentuada das riquezas leva a dificuldades crescentes para a realização do capital e, portanto, para o desenvolvimento capitalista.
Desta crise e por esta razão deverá resultar um novo ciclo, um novo movimento do pêndulo, desta vez, como nos anos que se seguiram à grande crise do século passado, o movimento no sentido socializante. No sentido do socialismo. É a resposta correta e necessária à crise capitalista. Aumentar o controle público e as medidas socialistas de proteção social e universalização dos serviços vitais para as populações.
Mas, a cada momento deste movimento histórico, a superação do processo de crise econômica estrutural do capitalismo vem acompanhado de muito estresse social e político, destruição econômica, muita dor e sofrimento humanos. É só a custa destas desgraças que o sistema reage mudando o seu rumo.
Na tradição histórica temos os seguintes problemas diretamente oriundos da crise econômica capitalista e de suas consequências imediatas: o crescimento do desemprego, quebras generalizadas em setores da economia, perda de renda e da capacidade de compra, aumento da pobreza e da miséria. No curso da história contemporânea já desenvolvemos, é claro, todo um sistema de mecanismos econômicos anticíclicos e de proteção social para lidar com estes problemas e suas consequências. Mas, no fim de um verdadeiro ciclo liberal estes mecanismos não são suficientes para conter a crise. Ela estala e arrasta tudo ao seu redor em sua sanha destrutiva. Muitas atitudes que seriam consideradas completamente irracionais e inaceitáveis em outro momento, dado o seu caráter destrutivo, para a economia e até diretamente para a vida de milhares e milhões de pessoas, se tornam aparentemente necessárias ou inevitáveis em grande escala, em escala global.
É isto o que estamos vivendo hoje. Os sistemas de regulação econômica e proteção social certamente têm impedido um mal muito maior do que seria se ainda não tivéssemos esses recursos sociais democratas desenvolvidos e historicamente testados. Haveria muito mais fome, miséria e servidão humana no mundo, como foi, por exemplo no início do século passado. Mas, está claro, agora, que os recursos socialistas já desenvolvidos e após submetidos ao impacto das décadas de liberalismo, não são capazes de barrar o vetor destrutivo da grande crise em que estamos metidos. As loucuras como aquelas do combate à pandemia e aquelas da guerra são chamadas ao grande palco mundial. E aquilo que em qualquer outro momento pareceria uma completa estupidez passa a ser considerado uma necessidade racional.
No que toca à resposta à pandemia, eu percebi desde o princípio a irracionalidade da ideia que foi vencedora no mundo ocidental, em geral, de fazer-se uma quarentena generalizada, de toda a população, por tempo indefinido, até se conseguir o controle da epidemia, provavelmente com a vacinação. Esse delírio completo foi então considerado como alta racionalidade científica e continua sendo. Mas, em geral, deu errado pra todo lado onde foi implantado. Não impediu a disseminação da epidemia e quebrou a economia. Deu errado porque a sua implantação efetiva era praticamente inviável e porque seus resultados acrescentavam perdas sociais imensas ao drama da epidemia e suas consequências. A estratégia correta teria que ser baseada na realização em massa e reiterada dos testes para a identificação de contaminados e sua rede de contatos e as medidas de isolamento e proteção consequentes, como mandaria qualquer manual de vigilância epidemiológica. Mas, nessas situações, a simples racionalidade perde sentido e o delírio surge como verdade incontestável. Caramba, e eu tomei bastante porrada por causa disso. Inclusive de gente que nunca seguiu as regras, realmente absurdas, da quarentena generalizada. Mas isso não importa. Falem o que quiserem, eu vou continuar fazendo as minhas análises.
Até mesmo a estratégia chinesa no primeiro momento, com o lockdown em Wuhan, por algumas semanas, me pareceu exagerada, ¨coisa de comunista¨, mas logo depois surgiu como uma forma bem razoável de se fazer a prevenção, diante do absurdo fiasco da estratégia do mundo ocidental. Pois, ainda que bloqueasse um pequeno território por completo, por um período limitado, isso permitia que a vida social e a economia do país continuassem sem maiores prejuízos, resultando em crescimento do PIB, mesmo em 2021. Mas, agora que a estratégia de COVID zero tem levado a sucessivos lockdowns em cidades realmente importantes do país, está claro que realmente esta também é uma reação exagerada e prejudicial, levando a novas desestruturações da economia local e mundial. É claro que, apesar disto, a resposta chinesa ainda é muito mais equilibrada e certamente muito mais efetiva na prevenção à pandemia do que a ocidental, que, em geral, além de não dar certo no controle da doença, resultou em prejuízos muito maiores à economia e à vida social em geral.
Seja como for, a resposta à epidemia realmente cumpriu e continua cumprindo o papel de desestruturar cadeias de produção e forçar o desaquecimento e a reestruturação da economia mundial.
Mas não foi o suficiente e agora a guerra da Ucrânia veio dar continuidade e reforçar esse freio de arrumação na economia mundial, aprofundando ainda mais a crise e forçando ainda mais a reestruturação econômica, social e geopolítica mundial. A guerra, assim como a pandemia não podem ser atribuídas à crise econômica, mas eu entendo que teríamos respostas bem diferentes a estas circunstâncias se não fosse a crise econômica que já está em curso. Nas condições atuais as respostas à epidemia e à operação especial russa foram justamente aquelas que mais aprofundavam a crise econômica mundial, mesmo que não tivessem eficácia real. Assim como a quarentena generalizada não resultou em efetiva prevenção contra a pandemia, também as sanções econômicas contra a Rússia e o envio de armas e outros recursos militares para a Ucrânia não têm qualquer efeito decisivo sobre o curso da guerra, além de prolonga-lo e assim o seu resultado em destruição e morte, sobretudo de Ucranianos. Ambas estas respostas foram, são, absurdas do ponto de vista do controle da epidemia e da solução do conflito, mas certamente resultam, do mesmo modo, em profundas quebras em cadeias produtivas mundiais e alimentam a crise.
Agora a alta inflacionária se alastra, forçando a alta generalizada dos juros básicos, a Europa está perto de uma crise energética que pode ser extrema, no mesmo momento em que as duas maiores economias do mundo se encontram, simultaneamente, no limiar da recessão técnica. Parece que a China conseguirá manter a crise restrita ao setor imobiliário, mas parece impossível para os EUA evitarem a recessão generalizada, que, certamente já se alastra pelo mundo, de algum modo.
É claro que agora há um conjunto de ações anticíclicas e de proteção social em ação, em parte, justamente responsáveis pelo aumento da inflação, mas que, certamente, estão mitigando e muito a gravidade da crise e o do seu dano social. Mas, parece que estamos ainda longe de uma solução para esta grande crise estrutural da economia capitalista em que nos encontramos.
E esta crise, em especial, está associada a uma dupla transição histórica, que a torna ainda mais dramática. Por um lado estamos na transição final da hegemonia dos EUA na economia e na geopolítica mundial. Hoje o poderio dos EUA é muito mais assentado no militarismo do que na economia, o seu predomínio militar é hoje muito maior do que o seu predomínio econômico e esta diferença só crescerá daqui em diante. Inclusive porque para se manter com tal poderio militar os EUA perde cada vez mais a proeminência econômica, simplesmente porque tem que investir desproporcionalmente muito mais do que as outras grandes potências nos recursos militares, um invertimento que é, obviamente, ao fim, fundamentalmente destrutivo. Esta desproporção, sinal claro da queda da hegemonia americana, pode, deve, talvez, infelizmente, conduzir a novas e maiores guerras nos próximos anos e décadas. É mais ou menos óbvio que tão mais o poder dos EUA se repouse no militarismo, tanto mais ele terá que se provar na realidade, através de guerras. Guerras inúteis, pois, ao fim nada irá barrar esta queda do poder unipolar dos EUA e a emergência de um mundo realmente multipolar.
A outra transição é, de fato, o objeto deste texto, desde o princípio. Trata-se da transição econômico social para além do capitalismo. A transição social democrata e socialista. Como eu disse no primeiro parágrafo, há, nesta transição um movimento pendular, hora em direção ao liberalismo capitalista, até um extremo que, por força das crises que resultam deste movimento, ele se reverte em um movimento no sentido da socialização, do controle público sobre a economia, da proteção social e da universalização do acesso a recursos e serviços. E agora estamos em um momento crucial deste movimento pendular, o momento em que a transição de hegemonia econômica e geopolítica mundial vem sendo pontilhada por uma potência emergente socialista. Isto certamente levará o pêndulo histórico, neste movimento socializante, a uma intensidade e disseminação mundial que não poderia ter acontecido antes. Algo mais radical ocorrerá então e a transição da hegemonia dos EUA para um mundo multipolar será também um forte movimento de transição para o socialismo mundial.
Talvez seja possível rastrear esse movimento pendular, característico do capitalismo contemporâneo, até o século XIX, mas, certamente, ele é suficientemente perceptível a partir do século XX, quando um momento liberalizante que vinha desde antes do início do século, conduziu à grande crise de 29 e às grandes guerras e, claramente, um movimento socializante em resposta, a partir de então e perdurando até o início dos anos 80. É o período de expansão e estabilização do modelo social-democrata, do Estado de bem-estar social, como alternativa sistêmica concreta ao liberalismo econômico. Efetivamente a social democracia vingou de forma mais plena apenas na Europa Ocidental e mais ainda nos países do Norte da Europa Ocidental. Mas, é bem verdadeiro que esta doutrina e suas práticas tiveram projeção e penetração mundial. E, de fato, o mundo todo avançou um tanto no sentido socializante, em termos de regulação da economia, proteção social e acesso a recursos e serviços básicos. Até que, novamente, o movimento de desenvolvimento econômico encontrou fortes entraves no modelo político vigente no cenário mundial e forçou a superação de partes da estrutura social democrata e o redirecionamento do pêndulo histórico do capitalismo no sentido liberalizante, a partir do início dos anos 80. Está claro que, naquele momento histórico, o vetor socializante não podia, não pôde, atingir um ponto de transição ou de não retorno, para além do capitalismo.
Mas, eu afirmei que a transição social democrata e socialista é a transição econômico social para além do capitalismo. E isto me parece tão seguro agora. Apenas é preciso estar consciente que isto se dá através de longo processo histórico, onde se observa este característico movimento pendular que eu estou descrevendo. O movimento pendular histórico entre liberalismo e socialismo na estrutura do sistema econômico mundial. E este movimento tem como sentido inquestionável o aumento progressivo do socialismo nesta estrutura.
Alguns entre aqueles que estiveram presentes na primeira onda deste desenvolvimento e perceberam o seu sentido socializante, puderam antever que, ao fim, seria este o curso histórico predominante. Mas, muitos deles acreditaram que seria já naquela onda, naquele primeiro pêndulo à esquerda, digamos assim, que esta transição se completaria. Vendo do nível histórico atual, sabemos, com certeza, que não foi assim que aconteceu.
O que nós podemos dizer que se vê claramente na história recente é mesmo um longo processo de desenvolvimento dos mecanismos socializantes na estrutura econômico social que, simultaneamente, se integra mais, mundialmente.
Este processo é contraditório e se dá através de um movimento em ondas de avanços e retrocessos, desenvolvimento e crises que presenciamos na história contemporânea, mas, tem realmente o sentido socializante. E isto significa que a cada momento histórico em que o pêndulo vai em direção socialista, as mudanças se tornam mais profundas e permanentes na estrutura da vida social, no sistema econômico e social.
A partir de uma base verdadeiramente liberal, oriunda do surgimento do capitalismo, com a fragilidade das estruturas dos estados nacionais e da organização social de então, vemos surgindo, ao longo das décadas e séculos, em ondas de avanços e retrocessos, mas, progressivamente se enraizando, os sistemas públicos de educação de base universal, os sistemas de previdência e proteção social e garantia de renda, a regulação pública das condições e da renda do trabalho e, enfim, da economia e das finanças em geral. E isso é tão verdadeiro que parece impossível mesmo aos mais extremos liberais de hoje em dia propor a regressão liberalizante até o ponto de romper completamente com estas estruturas socialistas. No capitalismo atual isto é mais do que impossível, é impensável. Mesmo que cada momento liberalizante desfaça parte do que foi realizado e anule conquistas reais, muitas são já parte integrante e ineliminável do sistema social atual e isto é progressivo. E acabam penetrando até no próprio ideário liberal.
A experiência social democrata e socialista se fortalece no curso da história contemporânea e já foi realmente capaz de solidificar, na Europa Ocidental, um sistema de equilíbrio e bem estar social e, na China, a mais impressionante conquista histórica recente em termos de desenvolvimento humano social em geral. E isto se estenderá e se intensificará ainda mais na resolução da grande crise atual. As catástrofes da grande crise econômica e da inviabilidade de soluções civilizadas dentro do capitalismo liberal, a extrema concentração de riquezas, o desemprego, o empobrecimento e a falta de perspectivas e toda a tragédia social que vem junto com isto, incluindo o ressurgimento e a ascensão das correntes fascistas, como última forma do poder político liberal, e as guerras como soluções finais da crise, por mais que nos façam desacreditar de qualquer avanço, trazem, justamente, o estresse social necessário para que, mais uma vez, o sistema reconheça a necessidade de redirecionar-se no sentido mais racional e menos destrutivo. E, agora, num patamar ainda mais avançado e mais mundializado.
E é assim que eu vejo o socialismo se desenvolvendo, se disseminando e se enraizando na estrutura mesma do capitalismo mundial em transição. Mas não espero, nem para este atual momento pendular socializante, que está começando e deverá durar, talvez, uns 30 a 50 anos, uma ruptura completa que nos leve realmente, de fato e por fim, para além do capitalismo. Mas certamente estaremos num mundo muito mais socialista do que estamos hoje. Talvez este raciocínio nem se aplique mesmo mais ao momento atual e ao que virá na sequência, porque, de verdade, ao tempo em que estas estruturas socialistas se incorporam ao modelo social contemporâneo transformando-o inexoravelmente, se inicia também o desenvolvimento progressivo das formas anarquistas de organização e vida, que serão aquelas que, creio eu, realizarão a transição final para além do capitalismo.
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, barba e água
Manuel Romário Saldanha Guajajara, Bia Rodrigues e outras 3 pessoas
21 compartilhamentos
Curtir
Comentar
Compartilhar

MAIS UM EXERCÍCIO DE SALA DE SITUAÇÃO 240422

MAIS UM EXERCÍCIO DE SALA DE SITUAÇÃO Estou dentro do meu quarto, ouvindo, lá de fora, um forró que virou a madrugada com zabumba, triângulo e sanfona e o pessoal não arredou o pé, ou pelo menos não parou de cantar, até agora. É uma festa tão distante de mim que não podia ser mais estranho. E até um certo alívio. Que não estejam preocupados como eu estou, ou que estejam e tocaram o foda-se nisso também. É só um feriado, o primeiro depois da pandemia e eu estou me recuperando de covid pela quarta vez, eu acho. Sim, creio que peguei covid umas 04 vezes. Eu propriamente não testei nenhuma vez, mas desta última agora meus filhos que vieram me visitar testaram e aqui em casa todo mundo pegou, como das outras vezes. E tivemos gripe também. Tudo isto no período de uns 6 meses. Mas eu não estou preocupado com isto exatamente não. Estou já bem melhor e como das outras vezes isso passa sem deixar rastro. No meu caso. Podem me criticar muito porque eu me expus a risco e porque eu não me testei. Devem estar certos no seu raciocínio. Eu sei é que na situação brasileira o meu comportamento não alterou o risco real da epidemia. Especialmente depois da vacinação, isso não pode ter alterado porque o foco, o direcionamento e a execução das medidas preventivas estava todo muito errado. Erro que, em geral, não foi apenas nosso, mas, estranhamente, de todo o mundo ocidental, digamos assim. Não é de se esperar que em uma doença qualquer as ações de prevenção e tratamento sejam tão ou mais ineficazes nos países ricos e desenvolvidos do ocidente do que no resto do mundo. Mas foi isto que aconteceu com a Covid, ou não foi? De qualquer modo é inquestionável que o Brasil foi um dos expoentes máximos do erro, colhendo, correspondentemente, resultados piores do que a grande maioria dos países no mundo. E certamente eu não me responsabilizo por isto. Nunca compactuei com a estratégia de prevenção adotada no Brasil e que, em grande medida, no fundamental, eu creio, foi também aquela dos Estados Unidos e boa parte da Europa. Não compactuo com o modelo pensado, nem com a execução. Foi tudo errado e certamente eu não sou responsável por estes erros. Sinto muito por aqueles que, seriamente, se dedicaram a tentar fazer cumprir este modelo e fracassaram completamente. Para os idiotas e sem caráter que apenas fizeram jogo de cena e corrupção com a pandemia, pro exemplo, para os farsantes e todo tipo de pilantra que resolveu prescrever medicamentos sem nenhuma comprovação, pra roubar o povo ou por ideologia, para estes eu desejo justiça. Vocês cometeram crimes graves e têm que responder por eles. E o forró continua comendo solto. Isso tá até me dando uma alegria. Esqueço que tô com covid. Que tem as coisas pra fazer. Que é hora de trabalhar. Mas você é doido, hoje é domingo e feriado. Em qual sistema? No meu não é não. Desculpem os forrozeiros. Mas eu não tô pra festa não. Tô sabendo que tá rolando tipo o carnaval de fim da covid. Enfim, e é só isso. A guerra e as contradições do cotidiano também. O que eu posso dizer é que o povo do nosso país e de vários lugares do mundo empobreceu e continua empobrecendo agora, no presente. A covid e a resposta que foi dada a ela aprofundou a crise econômica mundial e a guerra continua aprofundando. A crise precipita decisões erradas e as guerras representam uma solução quase natural para tudo isto. A guerra justifica tudo, qualquer loucura que não poderia mesmo ser feita pode encontrar justificativa na guerra. Assim como na crise. Ou traduzindo de modo bem explícito: a guerra é a crise. E, de fato, na economia capitalista e, extensivamente em qualquer economia instituida em uma sociedade, as crises econômicas têm um efeito catártico que só com o olhar cínico ou científico pode ser reconhecida. As crises são parte do sistema e também o impulsionam para o futuro, para o desenvolvimento. As crises capitalistas, como as podas dos ramos velhos e podres, dão canal para as forças vitais da economia se desenvolverem mais intensamente nos novos ramos. O que a social democracia e o keynesianismo descobriram é que pode-se fazer isto com muito mais suavidade econômica e proteção social real. Eu sou obrigado a conceber que sem estes instrumentos a atual crise econômica mundial teria provocado já catástrofes sociais muito piores do que aquelas que já estamos vivendo. Mesmo no mundo neo liberal dos anos 80 para cá, os instrumentos econômicos, e muito dos sociais também, keynesianos e sociais democratas não deixaram de ser aplicados, apesar de tudo. Enfim seria pior sem eles. Mas é preciso falar do pêndulo entre estas tendências ou vetores contrapostos da economia capitalista mundial, agora estamos começando a voltar para o predomínio da socialização. Isso quer dizer também que estamos no máximo do liberalismo. E também é preciso dizer que a tendência de longo prazo é aquela da socialização e, ainda de mais longo prazo, é aquela da anarquia. Então, em cada movimento pendular contemporâneo, nos últimos 150 a 200 anos, o poder liberal do capital diminui na sociedade em relação aos períodos anteriores. De certo se pode dizer que o liberalismo de hoje já está dentro de um envelope sistêmico social democrata e, progressivamente mais, socialista. Sei que parece bastante absurdo escrever isto quando estamos em um ápice do poder liberal, um longo período de concentração de riquezas, empobrecimento relativo e absoluto de massas, acensão do nacionalismo e do fascismo. E, no momento com guerras interimperialistas, inflação e desemprego em alta. Mas, é a verdade. Eu creio que sim. E também deposito esperança que a resolução deste novo período de crise do liberalismo e, propriamente, do capitalismo liberal, será com menos sofrimento do que foi no século passado, com os eventos de 1914 a 1945. Temos o aprendizado histórico, temos os instrumentos sociais democratas e keynesianos, temos a China socialista.. Ainda que tudo isto pode não ser suficiente para evitar as grandes catástrofes humanas que o sistema capitalista liberal invariavelmente produz, pode e deve conseguir atenuar. Mas para isto as forças liberais terão que ceder as suas posições de poder e abdicar de suas fantasias ideológicas. Bom, realmente eu creio que a existência da China será suficiente para sustentar esta mudança. Simplesmente porque a China já é o maior parceiro comercial de todo o mundo realmente. Porque a China já está na dianteira em educação e ciência mesmo. Porque a China é socialista e, portanto, internacionalista. Com certeza as relações econômicas internacionais não permanecerão da forma como estão sob o império norte americano. Não é a mesma coisa. Não estou nem dizendo que a China não se direcione para ser o novo império mundial. Não acredito nisto, Pode até ser possível, mas não tem evidência em favor disto. Até agora, parece que as relações econômicas internacionais têm uma diferença importante e positiva em favor da China. Eles dizem, reiteradamente que concebem essas relações como um sistema de ganha-ganha, ao passo que os EUA teriam uma visão de soma zero, em que para um ganhar outro(s) tem que perder. De um certo modo podemos dizer que o modelo dos EUA e, antes o modelo colonial e imperial Europeu, era, e é, de exploração, de levar vantagem sobre a desvantagem, a perda e a frustração dos outros povos. É a ideologia do dominador, tão cara aos fascistas no mundo todo. A China diz ser diferente e mostra ser diferente até o momento. Estamos no capitalismo ainda, mas com a perspectiva e o direcionamento socialistas de prosperidade para todos. Esse é o lema que recentemente o presidente da China lançou junto com um novo programa socializante, de reformas sociais e intervenções no mercado. Muitos querem contrapor com um horror afetado a democracia ocidental como o paradigma da política e a China como uma ditadura aterrorizante. Vou voltar sobre este ponto em outro dia. O forró continua quente… E eu vou relaxar que hoje ainda tenho que trabalhar