terça-feira, 11 de abril de 2017

Sobre a moral de Cristo e a moral humana

Ao fim, sendo preciso, os evangelhos dão conta de duas proposições éticas ou morais, duas orientações ou princípios, claramente declarados por Jesus, o ungido. E talvez exatamente, ungido no óleo de maconha (kaneh bosm, a erva, cana ou junco aromático do exodus 30:23). Mas isso não importa agora.
Jesus então declarou, segundo os evangelhos, dois, e apenas dois, princípios morais para nortearem as vidas humanas: a generosidade plena e o casamento monogâmico  exclusivo, com o divórcio como recurso, em caso de adultério.
Quanto ao casamento cada um que julgue pelo seu, pelos seus desejos e pela própria vida.
Mas e quanto à generosidade cristã. Que dizer dela? É o coração do cristianismo, a proposta, a projeção de uma generosidade plena: o amor, o amor incondicional de cristo é o ideal moral do cristão. Pois essa é a única regra que seu mestre ensinou. Seja generoso em tudo, seja generoso sempre, especialmente com os menos favorecidos na sociedade, com os excluídos e oprimidos, com as crianças, as prostitutas, os dementes, os doentes, os pobres, os desvalidos. Seja generoso também com os estranheiros e com os diferentes, o amor de Cristo é universal.
Não se discute a importância dessa moral. expressa mesmo na extensão do domínio do cristianismo ainda hoje sobre mentes e corações em toda a terra. Nem se ignora as suas qualidades. Não somos nietszchenianos. Jesus estava certo, sem generosidade e respeito a vida humana é triste, miserável e curta, é a guerra de todos contra todos, como pintou Hobbes. E estava ainda mais certo em abraçar a todos nessa irmandade, tnto o estrangeiro como o estranho, todos podemos nos congr3essar na comunidade humana para o benefício geral. E também estava certo o Cristo em nos ensinar a ter especial atenção com aqueles que são, por algum motivo, excluídos e oprimidos na sociedade, se reconhecemos e  recuperamos a dignidade humana nessas pessoas, até então rebaixadas, então é a dignidade de todos que se eleva.
Mas não somos cristãos, de modo algum. Justamente, ao contrário, identificamos no cristianismo uma moral falha e perversa, uma moral irresponsável e hipócrita, que alimenta, com certeza, as barbáries que se fazem em nome do Deus humano dos judeus.E onde está a falha, a perversão e a hipocrisia inerentes à moral cristã? Precisamente onde ela parece mais superior, no seu coração divino mesmo, no amor universal cristão, na generosidade absoluta que Jesus propõe.
Como dizia o filósofo, o mestre original de todos nós, Heráclito, tudo o que existe, existe em medidas. E Cristo propõe justamente o amor ilimitado, a generosicdade absoluta que não julga, que não condena jamais, que a tudo perdoa, que dá a outra face ao agressor injusto e entrega ao ladrão mais do que ele te pediu. A generosidade absoluta, o amor absoluto de Cristo, essa é justamente a farsa, a perversão e a hipocrisia do cristianismo. E é por isso que elas se alojam no coração mesmo da doutrina de Cristo e não em excessos ou faltas dos cristãos.
Na verdade a doutrina de Jesus é essencialmente imoral, pois nos ensina a fugir da responsabilidade que temos de avaliar e nos posicionarmos de modo justo diante dos outros. Não podemos ser generosos sempre e nem com todos. Todo mundo sabe disso. É mais do que óbvio que se eu der a outra face para quem me violenta injustamente e se eu entregar ao bandido ainda mais qo que ele veio me roubar eu estou é sustentando e dando força para a opressão e a exploração. É isso mesmo, seguir Cristo é fugir da sua responsabilidade humana, é ser irresponsável e essencialmente imoral.
Isso resulta nas duas posições de complementariedade e absoluta adequação à situação de dominação e opressão que marcam os cristãos:
De um lado o bandido hipócrita, o violentador, o abusador, o opressor e explorador que  conta seguro com o perdão absoluto de Cristo para, tranquilamente, seguir em vida seu caminho de opressão e violência contra os outros. Basta, para ser perdoado, rezar de vez em quando, pedir perdão a Deus e pronto... Nada é impossível ao cristão e tudo a ele será perdoado.
De outro lado o violentado, o dominado, o oprimido, o sem chances e sem perspectivas que, no entanto, se resigna absolutamente num eterno dar a outra face, compensado pela esperança na redenção após a morte.
Quando um discípulo foi até Confúcio perguntando se deveria ser generoso com quem era injusto com ele, o mestre respondeu: "Ora, mas então o que vc será com que for generoso contigo? Não, meu caro, seja generoso com quem for generoso com você e justo para com que for injusto com vc!"
Entendeu? Essa pe uma ética humana, centrada e responsável. Seja justo co quem for injusto com vc. Nada da frouxidão falsa e hipocrita do cristianismo, nem a barbárie da vingança ou da violência sem medidas. Nada disso, Confúcio reconhece a responsabilidade de todos nós em julgar e nos posicionar justamente diante dos outros. É uma moral humana, que promove a autonomia, a capacidade e a responsabilidade de cada um de nós. A moral cristã, ao contrário, nos rouba tudo isso.
Abre o teu olho cidadão...