terça-feira, 30 de maio de 2023

A QUESTÃO HISTÓRICA ATUAL: SOCIALISMO X CAPITALISMO. PARTE 2 – As oscilações no processo histórico da economia capitalista contemporânea

Creio que já está bem estabelecido na teoria da história que o desenvolvimento econômico acaba forçando transformações no modo de vida social nos pontos em as relações sociais vigentes terminam por ficar em contraposição e por funcionar como barreiras contra o avanço dos novos modos de produção oriundos do próprio desenvolvimento econômico. Essa contradição termina por ser rompida e o modo de produção antigo é, de algum modo, superado. Ou seja, quando as forças de produção se desenvolvem significativamente, criando novas condições e possibilidades para novos desenvolvimentos da capacidade produtiva e da riqueza, este desenvolvimento acaba encontrando algumas barreiras nas próprias estruturas sociais onde ele ocorreu, até um ponto que, necessariamente, força a transformação destas estruturas. Novas devem surgir, mais compatíveis com a realidade e as possibilidades dos novos recursos, das novas tecnologias da economia social, e estas novas estruturas terminam por suplantarem as anteriores, através de conflitos e diversas formas de crises sociais, muitas vezes muito violentas, com grandes revoluções e guerras. Esta é uma tendência inerente à produção social humana em geral, que se manifesta de modo mais definido e incontestável justamente no sistema capitalista, em que vivemos nos últimos séculos. Portanto, é claro que este movimento, que esta dinâmica trans histórica, deve levar à superação também do próprio sistema capitalista, como foi bem indicado por Marx. Eu avalio que este processo já é realmente perceptível no desenvolvimento histórico do capitalismo, sobretudo no período contemporâneo. E é isto que vou tentar explicar abaixo. Entendo ser correto, ou, aceitável, pelo menos, considerar como economia capitalista contemporânea aquela que emerge após a revolução industrial, ou seja, a economia capitalista mundial dos últimos150 anos, aproximadamente. É o período em que a grande indústria e o sistema financeiro capitalistas se desenvolveram aos saltos, se consolidaram e dominaram completamente a economia mundial, conformando um verdadeiro sistema econômico e social capitalista mundial. Este período corresponde à maioridade e ao amadurecimento, digamos assim, do capitalismo mundial e, ao mesmo tempo, ao início e avanço decisivo de sua superação social. Neste período, conceitos e práticas socialistas se implantaram e se desenvolveram dentro do sistema capitalista, mundo afora. E, apesar dos momentos de inflexão liberal, persiste um gradiente socializante positivo, no longo curso deste período do capitalismo contemporâneo, em praticamente todo o mundo. Não vejo como alguém poderia negar que, pelos parâmetros econômicos e sociais mais relevantes, o sistema capitalista mundial é hoje, em geral, mais socialista e menos liberal do que há 150 anos. Certamente, nenhum grande processo de transformação social deste tipo pode ocorrer de modo imediato, como resultado de um ato de revolução política e social apenas e nem se realizar de modo sido linear e homogêneo. Grandes transformações socializantes realmente ocorreram no interior do sistema capitalista mundial neste período que persiste, transformado, mas, até o momento, ainda capitalista. E hoje, depois destes últimos 150 anos de maturidade do capitalismo mundial, já parece suficientemente claro que no processo de desenvolvimento e superação do sistema capitalista há períodos de avanços e regressos, ou seja, flutuações históricas, com períodos com mudanças mais acentuadas de socialização e outros momentos de vitória do liberalismo se sucedendo alternativamente. Tudo indica que estas ondas alternadas têm ocorrido, ocorrem e devem necessariamente ocorrer no desenvolvimento da sociedade capitalista mundial contemporânea, atendendo à lógica econômica e social própria deste desenvolvimento mesmo. A minha primeira percepção deste movimento ondulatório ou pendular, entre avanços socialistas e retomadas liberais, no processo de desenvolvimento e superação do sistema capitalista mundial surgiu nos anos 80 do século passado, no início da onda liberalizante que ainda prevalece até hoje. Antes disto um longo período de crises sistêmicas da economia capitalista, de guerras disseminadas, mundiais, de violentos conflitos sociais e revoluções, foi sucedido por um período exitoso e também longo de estabilização e desenvolvimento socializante dentro do sistema capitalista mundial, que pode ser chamado, sinteticamente, de social democrata. Utilizo este nome como uma marca, que sintetiza os sistemas políticos e as diversas formas de serviços públicos e de instrumentos de controle e de regulação estatais, nacionais e até transnacionais, que foram desenvolvidos sobretudo a partir da segunda guerra mundial. Foi uma fase de importante desenvolvimento social na economia capitalista mundial em geral, mesmo dentro da sua desigualdade brutal. Mesmo assim, andamos um tanto, de algum modo, avançamos, no mundo todo, neste período. Avançamos na regulação financeira e no emprego dos recursos anticíclicos e de proteção social, o que resultou em um bom momento, de décadas, de grande desenvolvimento econômico e melhora acentuada da qualidade de vida das populações em geral, nos centros dominantes do sistema capitalista sobretudo, mas até nas suas periferias. De algum modo, apesar da onda liberal atual, tudo isto ainda persiste, impedindo, pelo menos até o momento, que as crises atuais sejam tão destrutivas como foram aquelas da primeira metade do século passado. Obviamente, não é possível fazer uma análise objetiva do que seria a economia capitalista mundial sem os mais diversos instrumentos de intervenção e regulação do Estado na economia e na vida social em geral que se desenvolveram e se incorporaram no sistema capitalista mundial contemporâneo. Mas, eu sou daqueles que entendem que estes diversos instrumentos socialistas têm se desenvolvido no interior do capitalismo a bem do próprio capitalismo e da humanidade, que hoje vive, obviamente, no sistema capitalista mundial. Os avanços sociais na regulamentação e controle dos mercados e nos sistemas e serviços públicos de proteção e promoção social foram, e continuam sendo, fundamentais e decisivos. Eles evitaram, e estão evitando, mais atrasos no desenvolvimento e verdadeiras regressões da economia social em crises econômicas insolúveis, com conflitos sociais violentos e guerras de grandes proporções destrutivas no nível mundial, ou seja, a repetição, em proporções ainda muito maiores do que a que já tem havido no sistema capitalista mundial contemporâneo. Pode-se dizer, então, que o socialismo salva o capitalismo, temporariamente, ao superá-lo progressivamente, para o bem da humanidade. De fato, as forças destrutivas do modo de produção capitalista, por sua lógica inerente mesmo, são grandes demais e a alternativa ao desenvolvimento das estruturas e recursos socialistas no interior do sistema capitalista seriam as grandes crises econômicas ainda mais virulentas e destrutivas e também as guerras, ainda mais frequentes e destrutivas do que já têm sido. Mas, também é fato que parte das estruturas sociais de regulação e direcionamento estratégico do capital financeiro e produtivo e de proteção social, desenvolvidas desde as grandes crises do capitalismo liberal na primeira metade do século passado, no interior dos países e no sistema mundial, se tornaram um tanto anacrônicas e limitantes diante do grande desenvolvimento da economia mundial, que elas próprias tinham permitido até ali. A onda socializante, tão grande e definidora, enfim encontrou seus limites e uma nova onda liberal tomou o sistema capitalista mundial. Isto resultou nas crises dos anos 70 e na solução liberalizante que se implantou e disseminou a partir do início dos anos 80. A onda liberalizante trouxe a quebra de barreiras financeiras e comerciais dos estados nacionais, a desregulamentação e privatização de setores da economia e, especificamente, de relações de trabalho e a eliminação ou redução de instrumentos e recursos de proteção social, e tudo isto resultou em forte globalização financeira e produtiva e em grande desenvolvimento econômico mundial. Apesar de representar perdas muito significativas sobre conquistas de regulação e proteção social do período anterior, esta nova onda liberal, logo acertadamente identificada como neoliberalismo, foi também responsável por uma grande globalização produtiva e financeira mundial e pelo desenvolvimento econômico acelerado que ocorreram a partir de então. Mas, por seu turno, as forças do capitalismo, deixadas livres, no exercício de sua lógica liberal própria ou inerente, resultam necessariamente em grande destrutividade, em crises econômicas prolongadas e sem solução, a não ser com grande queima de capital, empobrecimento, conflitos sociais extremos e guerras. E agora chegamos a este ponto na atual onda liberal da economia mundial. Estamos, novamente, vivendo um longo período de crises econômicas sem solução razoável, com redução do crescimento e empobrecimento de populações nos próprios centros do sistema capitalista mundial e com ampliação da presença e do risco de guerras. Ocorre que o boom econômico desta última onda liberal na economia capitalista mundial foi acompanhado de grande concentração de riquezas, como não poderia deixar de ser, pois isto é da própria natureza da lógica econômica capitalista liberal. E a concentração de riquezas, nos níveis que se atingiu no interior dos diversos países do sistema capitalista mundial, persistindo e se ampliando ao longo das últimas décadas, terminou por nos trazer um grande empobrecimento relativo e até empobrecimento absoluto de massas, o que traz dificuldades progressivas para a própria realização do capital e, consequentemente, a emergência e o acirramento das grandes crises econômicas mundiais que estamos vivendo atualmente. A resposta liberal a este problema é justamente dobrar e triplicar a sua aposta, defendendo, com todos os recursos ideológicos e materiais possíveis, a concentração das riquezas que está no cerne da crise. Apostam que com mais liberalismo, com mais liberdade e poder econômico para os capitalistas, com mais capitalismo, como eles mesmo dizem, vão conseguir vencer as crises que foram criadas justamente por isto mesmo. É claro que fica mais e mais difícil sustentar esta insanidade no tempo, com a persistência e o agravamento das crises, e é por isto mesmo que, nestas condições, as soluções, absolutamente irracionais, delirantes e macabras, do fascismo e da guerra tornam-se mais prováveis, mais aceitáveis e até mesmo mais necessárias para o capitalismo liberal. E é justamente o que estamos vivendo no presente. Este é o fim da atual onda liberal. E cada movimento no cenário econômico e político mundial no momento pode ser bem compreendido dentro deste quadro geral de crise sistêmica do capitalismo no fim da onda liberal atual. Isto está ocorrendo, e deve mesmo ocorrer, porque a roda da acumulação, do investimento e do desenvolvimento capitalistas não pode se realizar. e não se realiza de fato, se não tiver um mercado de consumo de massas florescente e não estagnado ou decadente. E isto tem a ver com a distribuição da riqueza na sociedade. Com o avanço de uma onda liberal os recursos sociais se distribuem mais e mais desigualmente e isto resulta em dificuldades especiais para a realização do ciclo do capital em geral. Nestas condições o investimento cai e se afasta mais das necessidades e interesses populares e o crescimento da economia desacelera ou cai, correspondentemente. Ao contrário de crescimento o que se passa a ver então é a destruição mais acelerada e intensa do capital social. É o ciclo da crise no capitalismo liberal: se investe menos em capital produtivo, se destrói e inutiliza capital e riqueza em ritmo acelerado e o crescimento da economia regride, com o corolário de desgraças sociais que isto traz. As grandes crises capitalistas são caracterizadas, enfim, pela queima de capital, sucateamento acelerado de setores e métodos produtivos, recessão, desemprego e pobreza, que perduram até que um novo ciclo de investimento e inovações possa criar novas condições de desenvolvimento. De fato, uma grande onda liberal resulta, necessariamente, em concentração excessiva e persistente da riqueza, levando a dificuldades também progressivas de realização do próprio capital e isto leva a crises econômicas sistêmicas de muito difícil resolução dentro dos marcos do capitalismo liberal. Neste aspecto, o próprio capitalismo liberal pede o seu fim. Mas apenas através de crises, violência e sofrimento desnecessários. Não conseguindo se realizar de modo sistêmico a economia capitalista liberal tende a exacerbar as suas piores características, insistindo no erro e indo ao delírio para preservar a lógica de concentração da riqueza e os privilégios de poder do capital. Exacerbam a exploração e a concentração de riquezas, o desequilíbrio produtivo, a grande perda de investimentos, a dissociação da produção das necessidades populares e a destruição da natureza, por exemplo, com seus correspondentes de violência e destruição nas sociedades, de aumento da opressão, da pobreza, das guerras e mortes. É sempre necessário lembrar que tudo isto está aí, presente agora, mas, ainda sobre um colchão regulatório e protetor trazido pelas conquistas sociais históricas, desenvolvidas dentro do capitalismo e que persistem ainda hoje, mesmo depois de tantas décadas da onda liberal atual. Em grande parte, foi justamente para controlar estas crises, minorar estes efeitos e reduzir as suas consequências que todo o aparato de regulação e intervenção pública nos mercados financeiros e de proteção social se desenvolveu e se aplica, de um modo ou de outro, disseminadamente no mundo ainda atualmente. E, realmente, é mais do que razoável conceber que a coisa estaria bem pior se não tivéssemos desenvolvido estes conceitos e práticas socialistas no interior do sistema capitalista, mundialmente, e estivéssemos hoje apenas dotados de recursos sistêmicos do capitalismo liberal. Mas, mesmo assim chegamos, enfim, agora a um ponto em que os limites da onda liberal atual já foram atingidos e ela trouxe o sistema capitalista mundial a uma sequência de crises econômicas sem solução razoável, crescimento econômico baixo, aumento de gastos militares, inflação alta e empobrecimento em geral. E isto está acontecendo agora nos próprios centros do sistema capitalista mundial. Chegamos ao ponto em que esta crise precisa encontrar uma solução ou tende a se agravar drasticamente. Não há saída fora de um novo avanço social decisivo, significativo e persistente, no sistema capitalista mundial. Seja como for, ao fim, esta onda liberal também será, e na realidade já está sendo, superada por uma nova onda socializante. O caminho para sairmos da grande crise sistêmica do capitalismo liberal do século passado foi, essencialmente, de ampliação significativa do socialismo no interior do capitalismo, pela onda social democrata que persistiu desde os fins da primeira metade até o início da década de 80 do século passado. E agora iremos para uma nova onda socialista. De fato já estamos no momento em que esta nova onda socialista se ergue, toma corpo e se põe em movimento. Ou seja, a nova onda socializante já começou e se manifesta em pleno avanço sobretudo com o desenvolvimento da China socialista e a incrível expansão da sua influência mundial. Esta nova onda socializante terá mesmo que se alastrar e se impor no restante do mundo para, mais uma vez, salvar o capitalismo de si mesmo e a humanidade do capitalismo. o Tudo indica que seguiremos ainda por algum tempo, necessariamente, pelas razões estruturais indicadas, pendulando entre momentos de mais liberalismo e momentos de mais socialismo no sistema capitalista mundial, mas numa direção consistente de socialização e, ao fim, de superação do próprio capitalismo. Repousam sobre nós, sobre o nosso aprendizado histórico, a responsabilidade e a esperança de conseguirmos reduzir as crises e a violência que está associada a elas, acelerando e facilitando o processo de superação do capitalismo. Tenho repetido muitas vezes que a minha esperança de que o sistema capitalista mundial não venha a nos mergulhar em crises e guerras tão destrutivas quanto ou ainda piores do que aquelas da primeira metade do século passado está embasafa no aprendizado histórico acumulado no processo de lutas e transformações sociais justamente saída das últimas grandes crises do capitalismo liberal, no século passado, e também na emergência da China socialista como potência mundial. A China, por sua doutrina socialista e por sua própria história, não é, até o momento, e não deve mesmo vir ser uma potência imperialista. O estado socialista chinês tem a economia sob sua direção estratégica e não o contrário, o que ocorre no sistema liberal, quando o poder capitalista tem o estado nacional sob seu direcionamento estratégico. Isto significa que a posição e o papel da China nas relações entre as nações não deve ser e não é realmente do mesmo tipo que aquela da Inglaterra ou dos EUA, por exemplo. A história recente das relações internacionais da China, em contraste com aquela dos EUA, mostra isto acima de qualquer dúvida. A guerra nos ronda e ameaça cada vez mais, basta dizer que os orçamentos militares aumentaram significativamente nas economias centrais do sistema capitalista mundial neste mesmo momento em que as suas populações enfrentam o empobrecimento, com a inflação alta e com a estagnação ou recessão da economia. O fascismo também nos ronda mais e tem atacado mais, atualmente no sistema capitalista mundial. E isto infelizmente continuará assim. São formas do último estágio da resposta do capitalismo liberal diante das crises e do estresse social que a concentração de riquezas, as crises econômicas e o empobrecimento necessariamente trazem. A irracionalidade extrema destas respostas é coerente com as irracionalidades próprias, intrínsecas ao sistema capitalista. E a irracionalidade absoluta e desmedida do fascismo e da guerra realmente se tornam aceitáveis para o sistema capitalista liberal quando a se chega ao beco sem qualquer saída socialmente digna ou aceitável, que as grandes crises sistêmicas terminam por representar para o capitalismo liberal A imposição irracional e absurda da violência e da destruição passa a ser razoável, apenas uma extensão a mais da irracionalidade e da violência abusivas que são inerentes ao sistema capitalista.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

A QUESTÃO HISTÓRICA ATUAL: SOCIALISMO X CAPITALISMO. PARTE 1

Em texto anterior eu indiquei aquelas que eu entendo serem as grandes questões, ou encruzilhadas históricas, da nossa época. E destaquei que, em primeiro lugar e sobretudo, a grande questão do nosso tempo histórico ainda é a questão do Socialismo x Capitalismo. Com certeza esta ainda é a questão fundamental do nosso tempo e todas as outras grandes questões de nosso tempo estão inseridas ou condicionadas por esta. E isto persistirá assim enquanto ainda estivermos no sistema econômico e social capitalista. Toda a ilusão de que esta questão já teria sido superada é apenas mais uma expressão da última onda liberal vigente desde os anos 80 do século passado e que, justamente, se aproxima do seu fim na atualidade. No tocante ao presente, a grande questão é, na verdade, Capitalismo Socialista x Capitalismo Liberal. Pois, o socialismo ainda é, também e necessariamente, capitalismo; é capitalismo sob a regulação e controle socialistas e deve ser a fase de transição final do sistema para além do capitalismo, mas, ainda assim, capitalismo. É o que a China nos mostra e eu não tenho o direito de não considerar a China como a forma mais desenvolvida, mais avançada de socialismo no mundo atual. Este deve ser o modo de produção, de organização social mais exemplar do socialismo, portanto, obviamente, não é? Então é isto. O Socialismo Chinês nos mostra com total clareza que é justamente esta transição dentro do capitalismo. A China é socialista porque regula de modo socialista os mercados capitalistas. Desculpem, mas é esta a realidade, por pior que pareça para entender. É simples assim, o controle estratégico e financeiro é do sistema político, estatal, e é dentro deste controle apenas que operam os agentes do mercado. Isto resulta em um sistema econômico e social muito mais consciente, com certeza, que o sistema liberal de domínio estratégico e financeiro da economia pelos capitalistas apenas. Como a China tem mostrado o socialismo é mais consciente e mais eficiente, social e economicamente, e mais ecológico inclusive. Todos estes aspectos se mostram verdadeiros na trajetória chinesa atual e queiram as pessoas ver ou não, elas estão sendo forçadas a ver. O que não podemos é acreditar que o socialismo se dá ou se daria de um modo quase instantâneo, em um ato revolucionário que criaria um absoluto antes e depois e não em um verdadeiro processo histórico de transformação social. Muito ingenuamente, grande parte da teoria e da práxis política, social e econômica do século passado e ainda deste início de século pensa assim, concebendo que o socialismo seria um modo de produção completamente diferente do capitalista implantado imediatamente por uma revolução social e política. Esta ingenuidade, este equívoco teórico e prático, é, com certeza um dos principais motivos do fracasso de grande parte das experiências socialistas do século passado. Acreditavam que através da revolução socialista chegariam de modo quase imediato ao sistema comunista. Confundiam assim a transição socialista com seu ponto de chegada possível ou desejável. Não, o socialismo é um processo de transformação do sistema social capitalista, que, como tal, como ensinam os mestres da dialética, surge por dentro do sistema, por suas contradições. Ou seja, no longo curso da história capitalista, desde seu início e, de modo mais evidente, com o seu desenvolvimento e maturação e, ainda mais, na fase de sua superação, progressivamente o socialismo se desenvolve, se fortalece e se realiza. O socialismo é o processo de superação do capitalismo. Assim foi identificado na teoria e assim está acontecendo na prática, em um processo que se mostra mais perceptivelmente desde os anos de 1850 na Europa e ao fim no mundo praticamente todo, e que tem dois marcos recentes inquestionáveis no crescimento e predomínio sistêmico da social democracia a partir do fim da segunda guerra mundial e na ascensão contemporânea da China. Qualquer pessoa que compare, com um olhar realista, as sociedades, os países, no longo curso da história, com toda certeza tem que notar que os últimos 150 anos foram anos de aumento da socialização, aumento de aspectos socialistas, em geral, no seio do sistema capitalista mundial. Apesar de todas as flutuações e movimentos históricos em contrário, é impossível não reconhecer o surgimento e grande difusão e desenvolvimento de instrumentos, instituições, regulações e práticas sociais socialistas no sistema capitalista neste último século e meio, A ideologia e a prática socialistas, em contrário às puramente liberais, se manifestam, por exemplo, nos serviços públicos de amplo acesso social nas áreas de saúde e educação básica, na proteção do meio ambiente, nas regras e nos sistemas de proteção aos trabalhadores com relação às condições de trabalho e na previdência social, assim como nas instituições e medidas de regulação e controle dos mercados capitalistas pelo estado, pelo setor público. Tudo isto se desenvolveu e se consolidou fortemente no sistema capitalista contemporâneo mundo afora. Estas características se desenvolveram especialmente nos países mais poderosos do sistema, mas, de fato, realmente se espalharam, de algum modo, mundo afora, de tal modo que não é nem mesmo mais possível pensar o sistema capitalista atual sem estas características socialistas que surgiram e se desenvolveram no seu interior neste grande período histórico recente. Assim é e assim será progressivamente mais. Mesmo que existam grandes diferenças entre os países nestes aspectos, não é contestável que, no interior de cada país, este gradiente ou esta tendência socializante se manifesta de modo claro no período referido. Sim, em geral os países mostram evolução nos seus níveis de educação e assistência à saúde das populações através de recursos e serviços públicos dos estados nacionais. Neste período, sistemas públicos de previdência social e de proteção aos trabalhadores, assim como de assistência social e de renda mínima foram implantados, se desenvolveram e se mantiveram apesar dos momentos de retrocesso. Ainda que em condições muito diferentes entre os diversos países, em geral cada país realmente está melhor hoje do que há 150 anos e os estados em geral fortaleceram sua atuação direta e regulação sobre os serviços ao público e também sobre os mercados em geral. De fato, neste período, mais e mais mecanismos de intervenção e controle públicos foram desenvolvidos e implantados no sistema capitalista mundialmente e nada disto está no ideário liberal capitalista em sua origem ou por princípio. Parece muito estranho falar isto ao fim de uma onda liberal que nos trouxe a grandes crises econômicas e sociais mundiais e a grandes perdas e retrocessos para as populações trabalhadoras e pobres e para desenvolvimento social em geral em grande parte do mundo. Mas, olhando no longo da história, nestes últimos 150 anos realmente o gradiente é visível, mesmo com os limites, as barreiras e os retrocessos reais que também ocorreram neste mesmo período. Estamos falando, portanto, de um processo real de socialização do sistema capitalista e a emergência da China socialista no cenário mundial é o ato decisivo, no presente, deste processo mundial de desenvolvimento e transformação e superação do sistema social capitalista. Processo que continuará, agora mais aceleradamente, sejam quais forem as conjunturas futuras com uma única exceção: a destruição da China pela guerra. Caso isto não ocorra, o processo histórico de socialização do capitalismo se intensificará e acelerará nas próximas décadas. Para o bem da humanidade. Na questão central do presente, que realmente persiste sendo aquela do socialismo x capitalismo, está incluída a questão do risco de guerras em geral, sobretudo, das grandes guerras mundiais e do risco real que elas trazem para a existência da civilização e da própria humanidade. Será apenas com o avanço da socialização que as grandes guerras mundiais que nos ameaçam atualmente poderão ser evitadas. As guerras eventualmente são formas extremas de se resolverem as grandes crises econômicas dentro da lógica liberal capitalista. As guerras realizam uma grande queima de recursos e vidas humanas que de outro modo não seriam justificadas e isto, por incrível que pareça, pode ser a solução para crises econômicas. Não que se planejem guerras como resposta às crises econômicas, mas, certamente, as grandes crises econômicas tornam as guerras mais prováveis e aceitáveis e, por fim, realmente elas respondem às necessidades destrutivas do sistema capitalista nas grandes crises econômicas. E assim a guerra, a absurda e assassina guerra, o delírio de violência e de abuso, de agressão e de destruição de recursos e vidas, este delírio de violência destrutiva se impõe como uma necessidade do sistema, como se tivesse a inevitabilidade de um fenòmeno natural além do nosso controle social. Na atualidade esta necessidade se mostra mais presente e ameaçadora. Uma guerra regional de grandes proporções ocorre na Europa, enquanto o mundo inteiro se reagrupa com o declínio relativo das potências ocidentais diante da emergência da China. Os ânimos beligerantes estão sendo incrementados na OTAN e aliados e podem mesmo ser a última resposta que eles buscarão para o seu declínio relativo, o qual está em curso nas últimas décadas e que se acelerou nos últimos anos. E, obviamente os antagonistas também se armarão mais. Um dos mais terríveis resultados da guerra na Ucrânia é que os investimentos macabros nas máquinas de guerra aumentaram mundo afora e até a Alemanha e o Japão já entraram nesta febre belicista. As consequências destas e outras decisões absurdas devidas à guerra da Ucrânia já se manifestam e vão se manifestar ainda em desaceleração e atraso no desenvolvimento social e empobrecimento das populações dos países mais diretamente afetados como aqueles da Europa. Tornando as grandes guerras mundiais ainda mais prováveis e aceitáveis. Certamente o alvo final deste esforço de guerra está definido pelo confronto histórico e ideológico entre capitalismo liberal e socialismo. A possibilidade da guerra da OTAN e aliados contra a China e aliados, portanto, está na ordem do dia no nosso tempo e é a questão central na perspectiva geopolítica contemporânea. Neste plano e na atualidade nada mais importante, portanto, do que evitar esta guerra dos Estados Unidos e seus aliados contra a China. O pacifismo volta a ser uma posição política necessária no mundo atual e o avanço inquestionável e decisivo do socialismo surge como a única resposta possível para a drástica crise econômica e social das economias capitalista, fora das grandes guerras mundiais. A questão da contraposição entre a preservação ou a destruição progressiva, ilimitada e talvez irrecuperável da natureza e das próprias condições naturais de vida humana na terra também está envolvida ou incluída nesta questão do capitalismo liberal x o socialismo. É claro, é manifesto, que na lógica propriamente capitalista, em seu núcleo econômico mais próprio, ou seja, na lógica econômica própria do capitalismo, a preservação da natureza não é um objetivo nem um resultado necessariamente considerado. Hoje existem, é claro, muitas empresas capitalistas que têm a preservação e recuperação do meio ambiente natural em sua visão e algumas também em sua prática. Mas isto não altera a lógica do sistema capitalista e, certamente, esta lógica não considera, em seu núcleo, a preservação da natureza. Ou seja, na equação de desempenho, no resultado financeiro, na taxa de lucros, na distribuição de dividendos, em geral, não se considera o desempenho ecológico das empresas e dos investimentos. E não há nada que se possa fazer para mudar isto dentro da ideologia e da prática econômicas liberais e nem no anarco liberalismo como ideologia. Seguindo este raciocínio é apenas o socialismo que pode nos salvar do cataclismo ecológico total. E é isto mesmo. O sistema capitalista não é e não pode ser estruturalmente comprometido com a preservação da natureza e os avanços neste sentido dentro do capitalismo devem ser considerados como os demais avanços da ideologia e das práticas de regulação social ou pública da atividade econômica fora, em contrário, ou, para além, dos mecanismos de mercado. E, portanto devem ser igualmente considerados avanços do socialismo dentro do capitalismo. Em cada momento histórico foram as lutas sociais dos trabalhadores, dos oprimidos, dos excluídos e dos conscientes que conquistaram estes avanços sociais contra a ideologia e as práticas do capitalismo liberal. E, por lado, estes avanços foram possibilitados pelo reconhecimento histórico, objetivo, de limites e até da própria inviabilização do capitalismo, por suas regras ou leis próprias, tanto pelas crises econômicas verdadeiramente destrutivas que assim se formam periodicamente, quanto pelo caráter desumano e abusivo das relações sociais na base do modelo de capitalismo liberal. A socialização progressiva, que se mostra com segurança, como estou afirmando, desde o fim da chamada revolução industrial, é um movimento, um processo histórico, longo, com marchas e contra marchas ou oscilações em sentidos contrários, mas com um sentido predominante claramente manifesto neste período em praticamente em todo o mundo, dentro dos países e também no plano internacional. Esta percepção não nega que estamos ainda no fim de uma onda liberalizante do sistema capitalista mundial. Nem nega nenhuma das grandes consequências históricas que resultaram, na atualidade, desta onda liberal do sistema: o aumento da desigualdade social e até mesmo da pobreza, crises econômicas sucessivas e sem solução razoável, redução do crescimento econômico e recessões, guerras e aumento do gasto militar, reemergência das ideologias e movimentos políticos nazistas e fascistas. E tudo isto é mesmo condizente e coerente com a lógica central do capitalismo liberal ou do sistema capitalista, quando deixado por si mesmo. Esta lógica é concentradora de riquezas e necessariamente levará, após um período de anos ou algumas décadas de crescimento econômico, a crises sistêmicas da economia capitalista. Crises que só podem ser solucionadas, dentro do capitalismo liberal, com a desaceleração do crescimento, recessão. com destruição de capital e empobrecimento de grandes massas populacionais. Este é o resultado e o caminho para a solução das crises econômicas no capitalismo liberal. Todo o arsenal de políticas anticíclicas e de proteção social que hoje são acionadas nestas crises são, também, parte do processo de socialização da sociedade capitalista que vivemos nos últimos 150 anos, ou seja, desde quando o capitalismo atingiu a sua maioridade, após a revolução industrial. Sobretudo a partir do fim da primeira metade do século passado o sistema econômico capitalista sofreu e continua sofrendo regulações e intervenções contrárias à lógica capitalista liberal e é somente em função destas intervenções que o sistema capitalista ainda está de pé, dada a destrutividade intrínseca à sua lógica caso deixada sem controles, livre, como os liberais sempre querem. Todos estes temas têm que ser muito melhor descritos e analisados, mas creio que já indiquei aqui acima de modo suficiente, ainda que muito sucintamente, porque o confronto entre capitalismo e socialismo, ou entre capitalismo liberal e capitalismo socialista, ainda é a questão principal ou central ou definidora no sistema social contemporâneo. Já no tocante ao futuro, como projeção ideológica do futuro humano, devemos considerar que a questão mais importante de nossa época histórica é a contraposição entre anarco comunismo e anarco capitalismo, ou, no limite, entre anarquismo e fascismo, pois, no limite o socialismo deve resultar na anarquia comunista e o capitalismo liberal, na realidade, ou o anarco capitalismo, em ideologia ou logicamente, resultam, necessariamente, em fascismo., Mas isto será objeto de textos posteriores.

segunda-feira, 1 de maio de 2023

A POLÍTICA ANTIDROGAS VIGENTE NO BRASIL É UMA FERIDA ABERTA SANGRANDO CONSTANTEMENTE NO MEIO DA NOSSA SOCIEDADE.

Os hipócritas e os psicopatas, os fascistas e seus aceclas atribuem às drogas e aos drogados a violência e as mortes que esta política cria. Estes pilantras e dementes afirmam que o maconheiro é um coautor das mortes no conflito armado do tráfico de drogas. Mas ninguém ouviu o maconheiro falar que quer esta guerra às drogas. Os ignorantes e os mal intencionados repetem constantemente que as drogas só trazem dor e sofrimento, doença e morte para os drogados e suas famílias. Falsários, vocês sabem que as drogas que causam mais destruição e morte na nossa sociedade são o álcool e o cigarro. E vocês deveriam saber que a maconha, por exemplo, tem um risco menor para a saúde, muito menor que estas drogas legalizadas e também do que os remédios psiquiátricos em geral. É muito difícil se fazer uma avaliação do risco real de cada droga para a saúde e para a sociedade, caso todas fossem legalizadas, mas eu sempre tive a impressão que os riscos da cocaína não seriam muito maiores do que aqueles das bebidas alcoólicas ou do cigarro, ou de opiáceos, por exemplo. E pode-se dizer com segurança que os riscos de violência e destruição diretamente ligadas à produção, ao comércio e consumo da maconha e algumas outras drogas ilegais são muito menores que daquelas diretamente ligadas às drogas que são legais hoje no Brasil. Enquanto a massa é induzida a usar químicas danosas, que causam forte dependência e realmente podem estar no centro de vidas destruídas de diversas maneiras, eles querem dizer que os drogados são pessoas derrotadas ou decadentes. Mas eles sentam no próprio rabo para apontar o do inimigo. Acontece que o inimigo aí são milhares e milhares, são milhões de usuários de drogas ilegais, pessoas que têm sua liberdade e a sua dignidade desrespeitadas pelo preconceito e pela ignorância. Preconceito e ignorância que servem como mantos para a perseguição social. Então, vejam bem, a justificativa para a criminalização e a guerra às drogas não pode ser de saúde pública. Toda a conversa, de esquerda ou de direita, que pretende justificar a criminalização de drogas por razões de saúde pública, é uma falácia, sem ninguém nem se dar ao trabalho de sustentar. É uma irresponsabilidade geral que sustenta as políticas atuais de violência e morte para o combate às drogas. Uma irresponsabilidade geral que todos os anos resulta em milhares de prisões, mortes e outras formas de violência, como uma ferida que sangra sem parar no meio da nossa sociedade. Os perversos e os iludidos afirmam que o tráfico de drogas é violento e que portanto os usuários da droga são financiadores desta violência. Mas todos sabem que no ato de compra e venda de drogas não há, necessariamente, mais violência do que no ato de compra e venda em geral, ou, especificamente, na compra e venda de cigarro, ou de bebidas alcoólicas ou de remédios neuro psiquiátricos. A violência, não tem que estar presente na compra ou na venda das drogas. Só um completo idiota ou alguém que teve a mente martelada por mentiras a vida toda pode se negar a entender isto. Pois é, a verdade é que hoje, no Brasil e no mundo ocidental em geral, em toda essa questão das drogas, a maior violência e destruição de vidas vem da proibição.