domingo, 18 de fevereiro de 2024

O que está diante de nós e o que podemos fazer? Uma análise geopolítica e econômica do momento histórico atual

A coisa mais óbvia, aquela que todos nós podemos sentir, mesmo que não se tenha a menor ideia de suas causas, é que o mundo está mais tenso, os conflitos estão se tornando mais agressivos, as guerras estão se ampliando, ou, pelo menos, que o risco de grandes guerras está se tornando maior a cada dia. E isto é simplesmente realista, infelizmente. No momento, a limpeza étnica sionista na Palestina prossegue, com o apoio das grandes potências ocidentais e sem maiores oposições reais, sem que o mundo consiga fazer qualquer coisa efetiva para deter ou impedir, por mais que muitos, em nome da razão e da dignidade humana, se manifestem e protestem contra. Ninguém consegue deter também a guerra proxi da OTAN versus a Rússia, na Ucrânia, que parece longe do fim e com alto risco de se ampliar. E uma guerra, proxi ou direta, dos EUA contra o Irã parece estar apenas no começo. Nestes e em outros conflitos armados internacionais, milhares, talvez, dezenas de milhares, de pessoas morrem todos os dias. Jovens, em especial, são, assim, assassinados e trilhões e trilhões em recursos produtivos são simplesmente destruídos, cotidianamente, nos campos de guerra. E o risco que isto se amplie para níveis ainda mais catastróficos é, realmente, cada vez maior. A OTAN é uma máquina de guerra que compele todos os seus membros a um gasto militar de pelo menos 2% do seu PIB. Isto é absolutamente criminoso, destruidor, para todas as nações da própria OTAN, que poderiam ter uso muitas vezes melhor para estes recursos, e para todo o resto do mundo, que fica sujeito, sempre, à potência militar crescente da OTAN. Isto só pode dar em uma corrida armamentista e, obviamente, na necessidade de guerras, para sua própria justificação. Mas, esta determinação está no estatuto da OTAN e ninguém parece disposto a questionar isto agora. A própria existência da OTAN pressupõe um inimigo que, ao fim da guerra fria, já teria deixado de existir. Contudo, o espírito belicista do império prevaleceu e, desde então, a OTAN só se ampliou. De fato, a existência da OTAN é contrária à carta das Nações Unidas, que pressupunha uma força mundial de imposição da não agressão entre os povos. Sob muitos aspectos, é verdade que a ONU nasceu morta, pois, era, e ainda é, prematura demais. Na área estratégica de segurança militar e garantia da paz internacional, foram a criação do Conselho de Segurança e a definição dos membros permanentes com poder de veto que decretaram a morte da ONU. Simplesmente, as 5 maiores potências militares vitoriosas em 1945 se impuseram, pelo seu poder na época, e a elas foi dado o direito de veto nas decisões estratégicas, como, por exemplo, a imposição de sanções a países e o uso da força militar internacional. Este modelo é estruturalmente injusto, disfuncional e esclerosado. Já nasceu velho e morto. Não funcionou desde então, não funciona agora e não vai funcionar no futuro. Foi feito para isto. Mas, alguma forma de governança internacional, com força de imposição sobre os países individualmente, é cada vez mais necessária, na medida em que os riscos de guerra aumentam e as potências bélicas se agigantam, cada vez mais, em seu monstruoso poder destrutivo. A ONU está morta. Viva a ONU! Ou qualquer outra forma de organização pública mundial, com o mandato da paz e com força para interferir realmente nas situações de guerra no mundo. Algo realmente novo precisa surgir, precisa ser criado, nesta área. E de uma coisa a gente já pode estar bem certo: não vai ser apenas com a entrada de novos membros permanentes no Conselho de Segurança que isto vai melhorar. Ao contrário, mais países com poder de veto, sem mudar mais nada, apenas vai tornar o Conselho de Segurança e, portanto, a própria ONU, ainda mais inoperante no plano estratégico da segurança militar e de imposição da paz internacional. A criação da ONU e a definição do seu mandato de garantidora da paz internacional foram consequentes às grandes guerras internacionais da primeira metade do século passado, que produziram perto de uma centena de milhões de mortes e uma destruição monstruosa da riqueza material e da capacidade de produção da humanidade. Imaginemos o que pode ser a guerra total agora, com o poder destrutivo dos países elevado exponencialmente desde então. Realmente, ninguém quer, nem pode querer, a guerra total entre grandes potências militares, agora, no século XXI. Mas, por outro lado, todo o sistema imperialista se mantém pela imposição do seu poder militar. O poder imperialista capitalista, da Inglaterra e dos EUA, por exemplo, não deixa qualquer dúvida sobre isto. Ele é baseado na vantagem tecnológica, na superioridade econômica, mas jamais deixou de se apoiar na sua superioridade militar. De um modo ou de outro, no limite e constantemente, é, e será sempre, pela força bruta que eles se impõem. E é óbvio que, quando as vantagens tecnológicas e a superioridade econômica estão deixando, ou já deixaram, completamente, de existir, é na força militar que o império decadente vai se apoiar cada vez mais, para tentar manter a sua hegemonia, o seu poder no mundo. Isto necessariamente contribui para a própria bancarrota do império, pois os altos gastos militares se tornam cada vez mais danosos para as próprias economias imperialistas. Também é claro que, nestas condições, a necessidade de tomar poder material sobre as riquezas de outros países e dominá-los estrategicamente se torna cada vez mais imprescindível para os poderes imperialistas. Tudo isto, obviamente, alimenta a máquina da guerra. E é esta, justamente, a situação do império no atual momento histórico. Não é realmente de se estranhar que as guerras se ampliem e intensifiquem, mundo afora, agora. Isto corresponde às necessidades estratégicas do império ocidental (EUA-Inglaterra-Europa e aliados) e de sua máquina de guerra, neste momento de sua decadência relativa no mundo. Decadência relativa que já é claramente evidente e, tendencialmente, inevitável. Agora que nações emergentes realmente se tornam mais potentes economicamente e estão tomando a dianteira do desenvolvimento produtivo da humanidade, só resta às potências em declínio a tentativa de imposição de seu poder pela força. Algo que eles sempre fizeram, é óbvio, mas que agora se mostra cada vez mais necessário. As razões e os movimentos geopolíticos e militares não devem, contudo, serem avaliadas em dissociação da dinâmica econômica. Ao contrário, de um ponto de vista estrutural, do processo histórico, digamos assim, as “razões” econômicas são, no limite, as predominantes. E é bem razoável que seja assim, pois se trata da prevalência, em último caso, das necessidades da produção e do consumo sociais, da realidade social mais objetiva, portanto. Ao fim, é mesmo bem razoável a gente apostar que, no longo curso da história, as necessidades, a estrutura e o sistema da economia vão realmente prevalecer na realidade, de um modo ou de outro, sobre qualquer razão ou posição simplesmente política, jurídica, moral, religiosa ou de qualquer outra ordem ideológica ou institucional. E o fato é que a economia mundial está em uma crise estrutural, de grandes proporções, desde o final da primeira metade deste século, no Ocidente e nos centros de poder do chamado Oeste Global, sobretudo. Esta crise está sendo mitigada, como deve mesmo ser, pela injeção de trilhões e trilhões de dólares pelos governos, pelas casas da moeda, pelo Federal Reserve nos EUA, por exemplo. Estas medidas anticíclicas podem estar nos salvando da crise econômica mais extrema, da depressão econômica prolongada, mas não têm sido efetivas para promover um novo ciclo de desenvolvimento sustentado. Ao contrário, a crise persiste aí, protraída, mitigada, mas ainda assombrando o cenário econômico mundial e se manifestando, por exemplo, em picos recessivos frequentes, em especial nos países do centro imperialista, o chamado Oeste Global. Ocorre que as medidas anticíclicas adotadas foram, e continuam sendo, parciais, limitadas, ainda, pelo contexto ideológico atual, e, por isso, insuficientes. Foram parciais e limitadas porque os trilhões e trilhões de dólares injetados na economia apenas se concentraram nos setores mais ricos da sociedade, mantendo e, na verdade, ampliando a imensa desigualdade econômica e o empobrecimento das massas, o que está na raiz da grande crise atual. Ou seja, as medidas anticíclicas adotadas nos países centrais do sistema imperialista mundial, até o momento. ainda estão presas ao ideário liberal, neoliberal, que dominou a economia mundial nos últimos 40 a 50 anos. Mas, a crise atual é, justamente, a crise final desta grande onda (neo)liberal, que dominou a economia mundial, desde o início dos anos 80 do século passado. Durante a onda liberal, sob o predomínio da ideologia e dos modelos liberais na economia, ocorre uma progressiva concentração da renda e, consequentemente, uma progressiva dificuldade na realização dos investimentos e na própria continuidade do ciclo econômico de desenvolvimento capitalista. As medidas anti cíclicas, anti recessão, devem, portanto, direcionarem os recursos públicos suficientes para evitar a disseminação sistêmica da crise, a derrocada do sistema financeiro e de setores produtivos, mas, também precisam, necessariamente, se dirigirem à recuperação da renda e do poder de compra das massas empobrecidas da sociedade. Não sendo deste modo, a resolução de uma grande crise econômica capitalista somente se dará após grandes catástrofes econômicas e sociais, com depressão econômica, desemprego e empobrecimento generalizados. Ou seja, através da queima de grande parte do capital socialmente desenvolvido, físico e humano. Grandes conflitos sociais e guerras internacionais de grandes proporções são, ao mesmo tempo, uma consequência política deste estresse econômico extremo imposto sobre as sociedades, quanto são formas extremas de resolução da crise, tanto em sua dimensão política quando na própria dimensão econômica. As grandes guerras são uma forma extrema de queimar capital físico e humano e, ao mesmo tempo, de garantir destino seguro ao investimento financeiro, no consumo destrutivo da indústria bélica. Elas são, por isso mesmo, realmente muito adequadas à resolução liberal das crises econômicas e à imposição do domínio econômico imperialista. Obviamente, trata-se de uma “resolução” de crises com um custo econômico, humano, alto demais, para a gente persistir repetindo este erro. Para se evitar e superar os custos extremos de grandes depressões econômicas e de grandes guerras mundiais, tanto em vidas e quanto em recursos da humanidade, é necessária a derrota ainda mais completa do capitalismo liberal. No século passado, as condições para que a grande crise econômica do sistema capitalista mundial fosse superada, somente surgiram após a grande depressão e as grandes guerras internacionais, com um custo de mais bem mais de 100 milhões de mortos e com a destruição física de recursos humanos a um nível completamente absurdo. Ao fim das grandes guerras mundiais do século XX, em 1945, o terror destes eventos catastróficos propiciou uma forte sustentação emocional para a imposição de uma onda socializante no sistema. a partir de então. Ainda que de forma muito desigual, seja na forma da social-democracia e do Estado de bem-estar social, ou não, o fato é que houve, então, um avanço mundial dos recursos de proteção social e regulação pública da economia. Como é mesmo de se esperar, a onda socializante, social-democrata, da segunda metade do século passado, terminou levando, por seu turno, a uma crise estrutural no crescimento da economia capitalista mundial, dada a sua esclerose em estruturas político-sociais, no interior dos estados nacionais e nas relações internacionais, que se tornaram progressivamente mais incompatíveis com o avanço das forças produtivas, da tecnologia e da capacidade produtiva no sistema econômico mundial. Estas estruturas foram, de algum modo, quebradas, ou, no mínimo, flexibilizadas, com o pêndulo da economia mundial se dirigindo para a nova onda liberal, a onda (neo)liberal dos anos 80 para cá, que resultou em imensos saltos de crescimento econômico, desenvolvimento produtivo e integração dos sistemas financeiros e produtivos mundiais, através da globalização. Mas, resultou também em grandes perdas para as massas populares, nas diversas nações mundo afora, de renda, relativa e até absoluta, e nos sistemas de proteção e promoção sociais. Agora, a concentração da riqueza, nesta onda neoliberal, chegou aos níveis de inviabilizar relativamente, a realização do próprio ciclo de desenvolvimento econômico capitalista, de produção e consumo de massas, e nos jogou nessa grande crise atual que já dura algo como 15 anos. A pobreza e a miséria, o desemprego e a falta de perspectivas, estão, como fantasmas, rondando todo o mundo ocidental agora, mesmo nos centros de poder mundial. Parte das sociedades responde com a ascensão da ideologia fascista, de culpabilização dos migrantes e da xenofobia, de criminalização dos mais atingidos pelas crises sociais e de promoção do conflito internacional e da guerra. No momento histórico atual nos encontramos em um ponto já bastante avançado dentro desta grande crise (neo)liberal do sistema econômico capitalista mundial, onde os níveis de estresse dentro das principais nações imperialistas do chamado Oeste Global estão próximo do insuportável para os seus padrões: recessões, descontrole do endividamento público, desindustrialização e sucateamento da infra-estrutura, empobrecimento e desalento; crises sanitárias; multidões de moradores de rua; crises de migrantes e xenofobia; tudo isto está presente, atualmente, no dia a dia tanto nos EUA quanto na Inglaterra e Europa nas últimas décadas. E, no plano internacional a perspectiva de guerras internacionais, muito maiores do que as que já estamos vendo, é, também, cada vez mais presente. A forma mais grotesca e extrema da ideologia liberal é o fascismo e a ideologia da guerra. E necessariamente, a crise liberal traz em seu bojo estes frutos podres de pura destrutividade e atraso. Portanto, tudo isto apenas se agravará enquanto a ideologia liberal conseguir impedir ou retardar o necessário movimento de novo avanço socializante no sistema capitalista mundial. A vitória sobre a ideologia e, sobretudo, sobre as práticas e instituições liberais no sistema econômico e social mundial é, portanto, agora, uma questão vital, ou existencial, para toda a civilização, dado o risco de destruição ilimitada, com grandes depressões e grandes guerras internacionais. Do mesmo modo, a perspectiva de uma grande crise ecológica, climática e de recursos naturais em geral, não pode ser enfrentada de fato dentro dos marcos (neo)liberais. Temos, portanto, que nos defrontar com estes desafios principais: 1. superar a grande crise econômica atual, através da melhora da distribuição das riquezas no interior das nações, sem o que os trilhões de dólares já injetados na economia, recursos para evitar o alastramento sistêmico da crise e as grandes depressões, não poderão jamais serem suficientes para dar início a novos ciclos de desenvolvimento sustentado. 2. evitar as grandes guerras, conquistando real avanço na garantia da paz mundial, ou no mínimo, a contenção das guerras aos níveis das últimas décadas. 3. evitar e minorar as grandes crises ecológicas. Nestes três aspectos, absolutamente vitais para a humanidade no presente, é fundamental a vitória sobre a ideologia e as práticas e instituições liberais e o avanço real da socialização das nossas sociedades nacionais, e do mundo como um todo, é o processo real pelo qual esta vitória ocorre, está ocorrendo e ocorrerá cada vez mais. A vitória econômica da China socialista dentro do sistema econômico capitalista mundial, justamente no período da onda (neo)liberal e da globalização econômica e financeira, tem muito a nos dizer sobre todas estas questões e as perspectivas atuais. Antes de qualquer indagação sobre a classificação da China como socialista, eu já estou respondendo: o controle estratégico e financeiro da economia capitalista, de mercado, da China está sob domínio do Estado e isto se mostrou de efetividade econômica muito superior aos países de economia liberal, de todo o mundo, nas últimas décadas. Para título de comparação, a produção industrial chinesa a 30 anos atrás era 10 vezes menor do que a norte americana e hoje é duas vezes maior. E esta não é uma exceção, ao contrário, esta mesma comparação pode ser feita quase com todos os países, que o avanço da economia chinesa, neste período, é muitas vezes maior. Isto indica, com muita segurança, a efetividade do controle e direcionamento central, estratégico e financeiro, da economia capitalista. Prova que a sociedade não precisa entregar completamente o poder de organização e direcionamento da economia aos capitalistas, ao “mercado”, para que tenhamos grande desenvolvimento econômico. Ao contrário, a experiência socialista chinesa indica que este poder realmente não pode estar nas mãos dos capitalistas, se queremos ter desenvolvimento sustentado de fato. Tanto do ponto de vista econômico quanto ecológico, o livre domínio econômico dos capitalistas, do mercado, é destrutivo demais e se mostra, com clareza já, na atualidade, como menos eficiente e seguro que o modelo socialista chinês. Também do ponto de vista do risco da guerra, a derrota da ideologia liberal, ou seja, o avanço socializando no mundo é absolutamente necessário. Como eu procurei sustentar acima, seja do ponto de vista político, seja econômico, a guerra se mostra um recurso extremo, porém necessário e defensável, dentro da realidade liberal. E, por isto, a guerra é vista como uma alternativa viável e razoável dentro da ideologia liberal e imperialista. Isto tem que estar muito claro nas nossas consciências. A barbárie assassina de milhões de vidas e a destruição massiva de recursos sociais estão dentro do modelo econômico e politico liberal e imperialista, como soluções extremas, mas, totalmente defensáveis, dentro deste modelo. Não podemos ter dúvida disto nunca. No limite, sob a ameça da inevitável perda da sua hegemonia econômica e do avanço, também necessário e historicamente inevitável, do socialismo, o império capitalista nunca hesitará em se apoiar no sistema da guerra e em fazer recurso à guerra como resposta racional. Por mais absurdo que seja, o sistema capitalista imperialista apoia-se, racional e estrategicamente, na guerra e sempre fará recurso a ela como forma de imposição de poder e de resolução de crises políticas e econômicas. O sistema da ONU foi, ao contrário, criado como um sistema de garantia e imposição da paz, percebida como valor superior, como realmente é, após o terror absolutamente e absurdamente destrutivo das grandes guerras do século passado. Mas, nasceu morto, era precoce demais, não havia ainda o desenvolvimento da integração produtiva capitalista e nem da socialização das sociedades, que são necessários para que um sistema de governança mundial, para a garantia da paz, realmente pudesse acontecer. Ou, que, realmente possa, por que ainda vai, acontecer. É verdade que foi a criação do Conselho de Segurança da ONU e a designação de 05 membros permanentes com poder de veto que decretaram a morte da ONU ao seu nascimento e é verdade também que não temos nenhum outro sistema para garantia da paz internacional. Ao contrário, o sistema capitalista imperialista se sustenta na guerra e recorre à guerra como forma legítima de imposição de poder e resolução de crises, sempre que necessário, ou adequado. Agora, exatamente agora, o porta-voz da OTAN manifesta sua alegria em comunicar que o gasto militar da aliança, dos países-membros da aliança, em 2024, será o maior da história. Isto quando estas economias estão realmente em crise já há muito tempo. Um absurdo, que custará caro para todo o mundo. E o mesmo porta-voz da OTAN manifesta também um grande orgulho de que a aliança tenha garantido a segurança dos seus membros desde a sua criação. Sim, é verdade, nenhum país-membro da OTAN teve seu território atacado. Mas a que custo? Em quantas guerras os membros da OTAN ou a própria OTAN estiveram diretamente envolvidos, desde então? Dezenas. Sem autorização da ONU, na maioria delas. Como diz o próprio porta-voz, neste período de 7 décadas, nenhum dos seus membros foi atacado, mas eles estiveram envolvidos em dezenas de guerras, quer dizer, então, que os membros da OTAN é que foram os agressores. E. em geral, esta é a verdade. O império se impõe, ainda, pela força terrorista da guerra, do seu poder destrutivo. Ou seja, os membros da OTAN garantiram a segurança e o bem-estar das populações dos seus países, nos seus territórios, pela imposição do terror da guerra mundo afora. Agora, exatamente agora, o presidente fantoche da Ucrânia corre para assinar mais acordos de financiamento militar com a Alemanha e a França, enquanto ele ainda tem algum poder para isto, diante da derrocada cada vez mais evidente da tentativa de resistência militar da Ucrânia, na guerra proxi da OTAN contra a Rússia. A derrota da Ucrânia no campo militar é evidente, mas, a França e a Alemanha vão injetar mais bilhões de Euros nesta guerra perdida, por quê? E os EUA devem fazer o mesmo, com mais dezenas de bilhões de dólares, mas, por quê? Ora, é claro, para a Ucrânia comprar armas deles mesmos e depois ainda pagar o empréstimo com juros. Por isto, e para desgastar, no que puderem, objetiva e moralmente, o poderio russo, a OTAN, o Oeste Global, quer lutar esta guerra proxi contra a Rússia, até o último soldado ucraniano, se estes não se rebelarem e acabarem com esta loucura antes disto. Toda esta análise se alinha, do ponto de vista estratégico, com a posição do presidente Lula, ao apontar insistentemente para a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU, ampliando os membros permanentes e, ainda mais, quando há um ou dois dias, em visita ao Egito, ele afirmou claramente que o sistema de vetos. Lula acerta em muito ao indicar este ponto estratégico fundamental, pois, realmente precisamos de uma governança mundial com o mandato e a força suficientes para reduzir os riscos de guerras internacionais, reduzindo sua frequência e intensidade. Um sistema de governança mundial para a garantia da paz internacional, justamente como foi projetado na Carta das Nações Unidas. A paz é realmente fundamental para a dignidade e o desenvolvimento humanos e ninguém razoável pode duvidar disto, ainda que os nossos sistemas sociais sejam, em grande medida, sistemas de violência e guerra. Agora, a defesa da paz e, no que conseguirmos, a conquista e a garantia da paz são, mesmo, fundamentais para a progressão civilizatória, com a nova onda socialista. A perpetuação do sistema de guerras e ameaças de guerra e, pior ainda, a emergência de grandes guerras mundiais, só pode interessar às forças, conservadoras e verdadeiramente regressivas, de manutenção do imperialismo capitalista liberal. Apenas as grandes guerras mundias e os cataclismos ecológicos, impondo grandes retrocessos a toda a humanidade, poderão atrasar o avanço da nova onda socializante que já está em curso. Ao mesmo tempo que apenas o avanço da nova onda socializante poderá nos livrar destes riscos maiores do capitalismo liberal, ou, pelo menos, mitigar os danos destes eventos, caso eles venham a ocorrer. A continuidade do predomínio ideológico (neo)liberal, ao contrário, só nos conduzirá mais rapidamente, mais diretamente e mais intensamente às grandes guerras e aos eventos ecológicos catastróficos. Apesar de muito correto em suas intenções, ou, dito de outro modo, ideologicamente, nem o Lula, e nem ninguém mais, tem os instrumentos, ou os recursos para conduzir a uma refundação da ONU, agora. E, certamente, o que ele está propondo, em especial a extinção do poder de veto, não será realizado nos próximos anos e, provavelmente, nem nas próximas décadas. Estamos, agora, sob um risco crescente de grandes guerras mundiais, com a formação de blocos antagônicos e com a crescente necessidade do bloco do Oeste Global de promover o conflito para a manutenção do seu poderio, dada a sua crescente perda de poder econômico relativo, em função sobretudo do avanço da China socialista. Isto põe uma ameaça existencial dupla para o imperialismo capitalista mundial atual: uma nova potência assume a hegemonia na economia mundial e não se trata de uma nova potência capitalista imperialista, como foram os EUA e a Alemanha no início do século passado, por exemplo, mas, trata-se de uma potência econômica socialista, o que ameaça não apenas o poder hegemônico do império do oeste global, mas também, ao mesmo tempo todo o sistema de poder capitalista liberal. É claro que o sistema já está reagindo e reagirá cada vez mais e com maior potencial agressivo, destrutivo, a uma ameaça existencial assim tão profunda. Não há, é óbvio, nenhum interesse dos EUA, da Inglaterra ou de Israel, por exemplo, em se submeterem a uma governança mundial qualquer. Isto terá que ser imposto a eles. Mas não através da guerra, que é o que eles, em seus delírios liberais imperialistas, mais podem desejar agora. Ainda que o Lula seja o cara, como disseram, é, principalmente na liderança chinesa onde podemos apoiar a nossa melhor expectativa de que transitaremos para além o império capitalista, sem maiores guerras e crises extremas, nas próximas décadas. A história nos dá respaldo para isto, pois a China buscou e busca os objetivos da Carta das Nações Unidas, muito mais do que qualquer outro país-membro permanente do Conselho de Segurança. Além disto, a história também nos dá algum respaldo para as nossas melhores expectativas porque as grandes guerras do século passado ainda não estão, completamente, apagadas na memória operacional das populações e lideranças das grandes nações do mundo. E, desta vez, talvez, por isto mesmo, a gente não tenha que passar, novamente, pelo horror destrutivo de guerras com dezenas ou centenas de milhões de mortos, apenas para podermos reconhecer, ao fim, mais uma vez, que as perspectivas de desenvolvimento, e até de subsistência, da humanidade estão atreladas à integração econômica e social mundial e ao (novo) processo de socialização do sistema, dentro dos países e no mundo em seu conjunto, com a melhor distribuição dos recursos sociais, com a melhor regulação e direcionamento da economia e com a melhor governança mundial e mais paz entre os povos.