sexta-feira, 20 de outubro de 2017

A redução de danos em raves

Tema: A redução de danos em raves Metodologia: Entrevistas livres e observação participante. Foram realizadas entrevistas informais na forma de conversas pessoais e rodas e conversas sobre uso de drogas pelo público que frequenta raves. Os sujeitos dessas entrevistas foram representativos dos diversos públicos que atendem a estas festas ou pertencem à cultura psy em geral: público em geral, Djs, hippies, pessoal da montagem, decoração e organização das festas, vendedores de drogas etc.. As observações, conversas e rodas de conversa, foram realizadas em eventos e fóruns ligados à música eletrônica psicodélica e à cultura psicodélica ao longo dos últimos anos, especialmente no festival PVT-SecretL25 realizada em 12 a 15 de Outubro de 2017. Buscou-se identificar os usos de drogas durante as festas e festivais e fora deles, assim como a percepção de riscos e usos problemáticos das drogas por parte dos frequentadores. A partir dos resultados dessa pesquisa qualitativa e de informações epidemiológicas e farmacológicas sobre as principais drogas utilizadas por esse público se propõe ações de RD direcionadas a ele. Resultados e conclusões: Os diversos extratos do público frequente a raves e festivais de música eletrônica que foram entrevistados não diferiram muito entre si no que tange ao tipo de drogas consumidas durante as festas. Há uma grande frequência de consumo oral de papéis e gotas, supostamente de LSD e de comprimidos (balas) e cristais, supostamente de MDMA, mas que podem ter várias outras substâncias psicoativas misturadas em proporções diversas. Há também alta frequência de consumo de cocaína (de qualidade duvidosa e também de composição desconhecida), aspirada. Ocasionalmente também se utiliza a Bala ou os cristais de MDMA por aspiração. O consumo de Álcool, seja em bebidas de baixa, média ou alta concentração da droga (cerveja, catuabada e destilados) é também bastante comum. E o consumo de maconha e haxixe fumados é praticamente universal. Mais raro, mas com frequência crescente, tem sido o consumo de DMT (cristais ou Changa), também fumado. Mais raros são os consumos de Metanfetamina, Ketamina e Metilona, diretamente, mas é indicada a sua presença eventual nos papéis, balas e cristais supostamente de LSD e MDMA. Várias outras plantas, extratos e substâncias psicoativas como cogumelos, mescalina etc. são também consumidos com alguma frequência Observou-se que o tabaco é de uso bastante difundido, seja como veículo para o consumo de haxixe, seja diretamente, em cigarros industrializados ou artesanais. É muito baixo o uso de drogas injetáveis e de drogas comuns em outros ambientes como o crack e os solventes (cola, thinner). Nota-se grande interesse sobre drogas, seus efeitos e riscos, entre os entrevistados ou nas rodas de conversa, sendo tema espontâneo frequente nesse público. Nota-se o conhecimento, de nível mais alto do que na população em geral, sobre os efeitos e riscos das diversas drogas psicoativas mais frequentes nas raves. Contudo, verificam-se também grandes lacunas e preconceitos no entendimento do público mesmo sobre as drogas que mais frequentemente se usa. Apesar de o álcool ser utilizado em frequência e intensidade bem menores que em outras festas, os riscos de dependência e do seu consumo em doses elevadas parecem ser negligenciados pela grande maioria dos participantes. O mesmo se pode dizer em relação ao tabagismo. De fato, o tabaco e o álcool são muito pouco lembrados quando se questiona o uso problemático de drogas pelos entrevistados ou por seus amigos e conhecidos da cena rave. São muito raros os relatos de casos de overdose ou lesões orgânicas, sendo estes, com frequência, identificados à adulteração e desinformação sobre o(s) produtos em uso. Os principais problemas relacionados ao uso das drogas pelo público entrevistado foram, de fato, distúrbios de caráter psicossocial. A observação e os relatos de entrevistados indica a presença de episódios transitórios ou duradouros de perturbações psicossociais importantes como psicose, depressão e pânico. Especialmente no grupo de pessoas mais diretamente ligadas às festas (Djs, produção etc.) se identificam relatos de caso e a correspondente preocupação com a dependência e com o uso abusivo crônico, principalmente de cocaína e ecstasy. Nos relatos de casos de uso problemático ou de efeitos negativos psicossociais apareceu como um componente relevante uma percepção de desajuste ou inconformidade na inserção dos sujeitos no ambiente sistêmico social. Parece razoável conceber que tanto as substâncias quanto a própria cultura psy atraem e estimulam os indivíduos que de algum modo se encontram na fronteira do desajuste ou inconformidade psicossocial. Além disso, também parece razoável supor que a alteração de consciência que as diversas substâncias psicoativas em uso nas festas deve ser um estímulo ou um desencadeador de diversos graus desse desajuste e inconformidade psicossociais. Contudo, e talvez justamente por isso mesmo, os eventos (raves, festivais, rituais) e a própria cultura psicodélica em si, são, de algum modo, amplamente reconhecidos, pelos entrevistados e nas rodas de conversa, como terapêuticos, curativos ou purificadores no sentido orgânico, psíquico, existencial e espiritual. Não parece haver lugar para Redução de Danos no sentido mais tradicional de usos substitutivos ou supervisionado de drogas para dependentes em raves e similares. Por outro lado parece haver uma grande oportunidade e uma demanda real por informação sobre características farmacológicas e epidemiologia dos usos e efeitos das principais substancias, plantas ou extratos psicoativos utilizados nas raves. As próprias festas, como ponto de contato e difusão de informação são momentos relevantes neste sentido. A presença de ativadores de conversas e difusores de informação bem preparados nesses ambientes seria uma estratégia interessante neste sentido. Parece bastante interessante também a utilização dos momentos e espaços virtuais e reais de preparação das festas para a ativação dessa troca de informações. A adulteração das drogas é reconhecida como um dos principais riscos no uso de drogas comum em raves. Todas as formas de garantia de qualidade das drogas em uso em festas e festivais de música eletrônica devem ser, portanto, formas de redução de danos nesses eventos. A testagem das substâncias deveria ser, portanto, uma preocupação objetiva dos organizadores. A testagem na pista, ao longo da festa, deve estar sempre disponível. Mas, parece pouco realista esperar uma testagem em proporção suficiente das drogas circulantes no curso da própria festa. Seria mais apropriado fazer também testes nas drogas circulantes no período de preparação da festa, acoplando os processos de testagem com a troca de informações sobre as drogas detectadas com o público envolvido normalmente na preparação das festas (e que certamente é difusor de informações nesse aspecto). Por fim, os espaços e as atividades de acolhimento e suporte para as pessoas que apresentarem quaisquer aspectos problemáticos maiores relacionados ao uso das drogas durante as festas podem ser úteis nessas eventualidades.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

A regra é coletiva - atualizando Bakunin

1. a regra é coletiva, 2. o local é a origem da decisão, 3. os coletivos maiores são compostos por representações vinculadas à decisão local e revogáveis a cada momento pelo coletivo local, 4.processos coletivos de decisão direta podem/devem conviver com e substituir e tornar desnecessários os procedimentos do item 3. 5. a diversidade de comportamentos de indivíduos e coletividades é respeitada pelas regras universais até o limite da proteção à vida de outros. à vida não é igual à propriedade à vida não é igual à tradição, à religião, à ideologia etc