terça-feira, 27 de junho de 2023

Ideologia Socialista x Ideologia Capitalista: A Questão da Guerra

Todas as áreas da vida social atual são afetadas, ainda que desigualmente, pela disputa entre o socialismo e o capitalismo. Entre as diversas questões cruciais do nosso tempo, a questão da guerra e a questão ecológica são, com certeza, questões práticas, políticas, econômicas e ideológicas realmente universais e limítrofes. São verdadeiras questões existenciais, como dizem hoje em dia no cenário geopolítico, mas, não por ameaçarem a existência de um país apenas e, sim, de toda a humanidade, ou, pelo menos, desta civilização. São, por isso mesmo, questões que, no presente, não podem ser ignoradas de modo algum. E são também questões em que a ideologia socialista se diferencia da ideologia capitalista, de modo direto e inequívoco. Vamos considerar agora a questão da guerra e a questão ecológica será o foco de texto posterior. O capitalismo está, em toda a sua história, inequivocamente ligado a guerras e ao imperialismo entre as nações, assim como também está ligado, dentro das nações, a todas as formas econômicas e políticas possíveis de dominação e exploração. Pode-se até alegar que as formas sociopolíticas mais próprias ao capitalismo são a democracia política e, inclusive, a social-democracia. Mas, ninguém pode negar que o capitalismo, conviveu, e convive bem até hoje, com todas as formas de exploração e de abuso de ordem econômica e política, incluindo ditaduras, tiranias e escravidão. E também não se pode negar que, em toda a história do capitalismo, sempre houve algum tipo de imperialismo e colonialismo entre os países no mundo. Não era mesmo de se esperar algo diferente de uma ideologia do conflito e da violência, ou, da paz imposta pelo conflito e pela violência. Preciso explicar isto. A economia capitalista liberal é a economia da livre competição e da liberdade de acumulação. A acumulação ilimitada é, incontestavelmente, um fundamento do liberalismo capitalista, ou, simplesmente, do capitalismo. Isto leva a desequilíbrios de poder extremos no interior de cada país, ao mesmo tempo que sustenta e promove um sistema de grande desigualdade também entre os povos ou nações no mundo. A dominação e a exploração entre entre as classes no interior de cada país e entre os países no mundo são, portanto, inerentes à lógica econômica capitalista. De fato, a imposição de poder é mais do que aceitável, ou, desejável, é algo é necessário no sistema capitalista. É próprio ao modo de produção capitalista. A ideologia capitalista é uma ideologia de dominação, travestida de libertação. Hoje podemos ver isto melhor. A liberdade de acumulação capitalista é, ao fim, a liberdade de dominação e exploração, é a livre dominação do poder dos capitalistas na sociedade e dos países imperialistas no mundo. Não é de se estranhar, portanto, que as guerras entre países sejam frequentes ou constantes no sistema capitalista mundial. Ao contrário, é óbvio que, no capitalismo, o poder internacional ainda se impõe através do militarismo e da guerra. No limite, a hegemonia entre as nações no capitalismo é conquistada e imposta pela força, por meios econômicos e pela guerra propriamente dita. Ações de guerra imperialista tanto econômicas quanto militares são, realmente, inerentes ao sistema capitalista e constantes na sua história. Também parece muito razoável concluir que o capitalismo também tende a nos levar a grandes guerras todas as vezes que o sistema apresenta maiores tensões, como nas grandes crises econômicas. Por isto as guerras terminam sendo bem justificadas e bem-aceitas no sistema capitalista. De algum modo elas são realmente necessárias, neste sistema. São necessárias como instrumentos de poder e são necessárias também como forma de queima intensiva de capital físico e humano, como parte, portanto, da solução liberal das grandes crises econômicas capitalistas. Não se pode negar, por outro lado, que as guerras são fenômenos trans históricos, com presença em todos os períodos da história e nem se pode dizer que, neste aspecto, o sistema capitalista contemporâneo seja pior do que as formas sociais anteriores na história. Isto, contudo, não pode nos impedir de enxergar a barbárie absurda e inaceitável da guerra. Absurdo que, obviamente, é tão maior quanto maior for o nosso desenvolvimento em geral. A guerra é uma forma legal, justificada, organizada e sistematizada, quase ritualizada, de destruição e de assassinatos coletivos. Principalmente de jovens. Como não reconhecer nisto um máximo de absurdidade e estupidez? Como não lembrar dos sacrifícios humanos nos rituais de culturas ancestrais? E como isto pode ser justificado ainda hoje? Não, não pode, e a guerra é realmente injustificável. Tem que ser, por todos os meios, impedida historicamente, como, em algum tempo, os sacrifícios cerimoniais o foram. Hoje, na guerra mais amplamente divulgada, uma das forças armadas envolvidas diretamente no conflito utiliza uma tática militar chamada de “moedor de carne”. Isto mesmo, é um moedor de carne humana. É o sistema operando para a morte, diretamente, sem qualquer limite. E todos os que falam em nome da sacralidade da vida humana agora se calam ou, no máximo, murmuram impotentes. No sistema atual, como antes, a guerra é, de algum modo, aceita e justificada. Mas, de fato a guerra não pode ser aceita, não pode jamais ser justificada e sua absurdidade extrema tem sempre que ser denunciada e condenada. Outros caminhos têm que ser abertos para que as guerras se tornem impossíveis, ou, pelo menos, muito improváveis, ao contrário do sistema atual em que as guerras são muito mais do que prováveis, são necessárias. A ideologia capitalista sempre busca fazer parecer que os seus erros estruturantes, como este, são condições da própria natureza humana e, de tal modo fundamentais, que a tentativa de corrigi-los levaria a algo pior ainda. E os becos sem saída de tentativas de socialismo do século passado pareciam dar razão à ideologia liberal capitalista de modo que a guerra, a dominação e a exploração capitalistas até pareceram serem realmente inevitáveis e insuperáveis. Mas, como sustentei em textos anteriores, a roda da história já girou de novo e não estamos mais no momento de ascensão do liberalismo e derrocada do socialismo soviético. Ao contrário, estamos no momento de esgotamento da onda neoliberal e de ascensão da China socialista. E, por isto mesmo, já podemos ver melhor. Os que se posicionam pela paz não são inocentes idealistas e os que a defendem a necessidade absoluta ou natural da guerra não são realistas e nem analistas estratégicos brilhantes. Esses sistemas de morte e destruição não são inerentes ao nosso ser e tolo é quem imediatamente aceita a guerra como uma fatalidade da natureza humana. Ao contrário, com o avanço do socialismo deve avançar também a possibilidade e a probabilidade da paz. A perspectiva e a posição socialistas, sob o prisma geopolitico, são aquelas do internacionalismo e do globalismo. Sim, por favor, prestem atenção, o socialismo é, internacionalista e globalista do ponto de vista econômico, do ponto de vista social em geral e do ponto de vista geopolítico em específico. Em sua essência ou lógica própria, o socialismo é uma forma de integração econômica e social transnacional. Portanto, em sua lógica própria o socialismo não estimula a guerra entre as nações, ao contrário, o socialismo deve trabalhar, de modo árduo e persistente, pela paz entre as nações.. Em sua perspectiva ideológica a economia socialista é a globalizada, é integrada mundialmente o que corresponde e é, pode-se dizer, até imposto pelos meios de produção atuais. Deposito nisto as minhas melhores esperanças de que transitaremos para a nova onda socializante, agora que estamos no fim da atual onda liberal, com menos dor e sofrimento sociais do que foi no século passado, apesar de estarmos, sob outros aspectos em condições muito semelhantes agora. A integração mundial geral das cadeias produtivas, dos sistemas financeiros, dos mercados consumidores e até mesmo da cultura e do trabalho é realmente muito maior agora, no início do século XXI, do que no início, ou, até em relação a todo o século XX. É bastante curioso e emblemático ver como os países e as forças ideológicas que propugnaram pela globalização na década de 80 do século passado, atendendo a uma necessidade do capitalismo, dos interesses econômicos ou financeiros do sistema, agora têm uma posição antiglobalização, contrária ao avanço da internacionalização econômica e social e contrária aos sistemas e instituições de regulação mundiais. Campeões do internacionalismo, do globalismo e da globalização regridem drasticamente agora ao nacionalismo, ao excepcionalismo, à xenofobia e ao fascismo. Como expliquei em textos anteriores, nada há a estranhar aqui também. Isto é simplesmente correspondente ao momento atual do sistema capitalista mundial Isto é realmente necessário, dado o momento atual de fim da grande onda liberal que vivemos desde os anos 1980. Ao contrário das grandes potências capitalistas e, em especial, em contrário aos EUA, a potência hegemônica no sistema capitalista mundial, a China propõe e tem conseguido estabelecer relações multilaterais de ganho mútuo mundo afora. Não é a toa que a China é hoje o maior parceiro comercial de mais de 130 países e também estende e intensifica suas parcerias com investimentos financeiros e projetos de infraestrutura, em uma rede mundial cada vez mais ampla. É, no plano econômico e geopolítico, a doutrina socialista de ganho mútuo, de ganha-ganha, em contraposição à doutrina capitalista de ganho unilateral e de dominação. Com certeza ninguém pode dizer que o socialismo garantirá o fim das guerras entre países. A história mostra que no processo de transição do capitalismo os países podem viver momentos de revolução armada e tomada violenta do poder. Isto muitas vezes ocorre justamente em um momento de guerra, quando um estado se enfraquece e a revolta popular cresce muito. Portanto, muitas vezes o estado socialista já nasce em guerra com outro país. E, além disso, dentro do sistema capitalista nenhum país jamais estará livre de se envolver em guerras. A não ser que não tenha soberania. Infelizmente estamos ainda imersos em guerras e em imposição violenta de poder. Portanto, a revolução armada e até a guerra entre países ainda podem ser inevitáveis. Não é certo, contudo, dizer que estas sejam guerras socialistas. Não são e o socialismo é realmente pacifista e globalista. A integração econômica e social mundial é inerente à ideologia socialista, que propõe a prosperidade para todos e o desenvolvimento social geral em cada país e no mundo. Isto está em sua lógica interna. E, portanto, esta deve ser uma condição intrínseca e um propósito constante do seu movimento. Estamos agora num daqueles momentos em que a ideologia encontra a realidade como necessidade ou oportunidade. Sim, eu entendo que o pacifismo socialista é uma necessidade do momento histórico. A ameaça de grandes guerras voltou a assombrar o sistema social mundial agora mais do que em qualquer outro momento das últimas 3 décadas, com certeza, e, talvez, das últimas 7 décadas. Para exemplificar, no momento presente a Europa e os US enfrentam queda no crescimento ou recessão e inflação alta. E qual a resposta que eles estão dando? Cortes nos gastos sociais e anticíclicos e aumento dos gastos militares. O resultado disto só pode ser mais dificuldade para sair da crise econômica, mais pobreza, mais crises sociais e mais guerras. O que significa também que o fascismo crescerá como alternativa política e a democracia será ainda mais tripudiada e falsificada nestes países centrais do sistema capitalista mundial. São duas as maiores forças convergentes que fazem a ameaça da guerra aumentar muito agora: a grande crise econômica do fim da onda liberal, que estamos vivendo desde 2007 e a decadência relativa dos EUA, no sistema mundial e internamente, em face da ascensão da China. Talvez a gente deva incluir aí também a consequência imediata disto, a elevação da contraposição entre capitalismo e socialismo no sistema mundial a um novo nível com a ascensão da China. A crise sem solução no liberalismo, cujas respostas só aprofundam o problema e jogam todo o seu peso nas costas dos perdedores, levando ao aumento da pobreza e da miséria; o aparente esgotamento das ferramentas anticíclicas, com a recessão e a inflação golpeando simultaneamente; tudo isto pressiona ainda mais o sistema e põe ainda mais gás na ideologia xenófoba e militarista mundo afora. Mas não é só uma questão ideológica, é também uma resposta objetiva à crise econômica. Com a guerra, como com as quarentenas generalizadas da pandemia, pode-se justificar o injustificável: a paralisação parcial da economia, a quebra de setores e regiões, o desemprego, o grande aumento da pobreza. Estas são, realmente, tanto características da crise quanto respostas necessárias às grandes crises econômicas do capitalismo, ao menos em sua essência liberal. No momento mais crítico da crise econômica capitalista a guerra se torna, portanto, uma alternativa até adequada e aceitável para a sociedade, para a economia social em geral, como foi a quarentena generalizada por tempo ilimitado recentemente, Algo absurdo, mas que, diante do absurdo da crise econômica sem solução, pareceu muito razoável e realmente necessário. O certo é que os sem emprego e sem renda que pipocaram pelo mundo ocidental afora não perguntam o que foi a causa, eles têm uma resposta tranquilizadora e não econômica: “foi a pandemia; não foi a concentração das riquezas, não foi a ganância e a estupidez, foi um fenômeno natural, foi a pandemia”. Pois bem, com certeza, as grandes guerras têm o mesmo efeito moral. Justificam o injustificável, a grande queima de capital, de vidas humanas e de recursos materiais, assim como as quebras generalizadas, o desemprego e a pobreza. Não é verdade? A decadência dos EUA é evidente. O modelo de globalização que eles próprios impuseram, as crises econômicas sem solução das últimas décadas e uma das piores respostas à pandemia do mundo, levaram a um crescimento assustador da degradação econômica e social, material e humana, da pobreza e da miséria, nos EUA, nas últimas décadas, e ainda mais nos últimos anos. A sua inevitável perda de hegemonia ou de poder no cenário mundial também está acontecendo de modo intenso e acelerado no momento. E é óbvio que tudo isto aumenta muito o risco dos EUA se apoiarem mais e mais no seu poder militar, promovendo ainda mais guerras do que já fizeram nos últimos 70 anos. Não foram poucas, ao contrário, o número de guerras com participação direta e promovidas pelos EUA depois da segunda guerra mundial é assustador. E tende a piorar agora. Pois, agora não há uma boa solução imediata para os EUA no modelo capitalista. Ao contrário, as apostas na concentração de renda e na desindustrialização estão cobrando seu preço e não será fácil reverter tudo isto e nem ao menos de conter os seus danos. Enquanto isto, com todas as dificuldades da pandemia e da crise mundial a China continua mantendo um crescimento bem maior; E estende e aprofunda suas alianças comerciais e sua integração produtiva e financeira com o mundo todo. Os impulsos para a guerra, que vêm da crise econômica e da perda de hegemonia dos EUA, com a ascensão da China no mundo, tomam um caráter ainda mais ameaçador pelo fato que, ao fim, o conflito entre EUA e China é e será, de qualquer modo, o conflito entre capitalismo e socialismo, que se apresenta em movimento intenso e acelerado agora e assim será ainda mais nos próximos anos, nas próximas décadas. A questão existencial que se coloca e se colocará cada vez mais para o sistema capitalista, não é apenas aquela de substituição do centro imperialista do sistema, mas de sua sobrevivência histórica. Hoje já parece bastante evidente que, sob quaisquer indicadores sociais ou econômicos a China já superou os EUA ou está em um caminho inexorável para o fazer. E a vitória histórica da China é, queiram as pessoas ou não, uma imensa vitória histórica do socialismo dentro do sistema capitalista mundial. Uma vitória que, obviamente, influencia e influenciará cada vez mais o mundo todo, tanto pela força econômica da própria integração mundial, da globalização, assim como pela força do exemplo moral do caminho chinês. Esta vitória é inevitável, a não ser que o sistema mergulhe em guerras autodesttrutivas extremas. Não é, no entanto, de estranhar que, dadas as condições atuais, as forças dominantes no sistema se alinhem enfim para uma solução absurda e estúpida assim. O socialismo deve resistir à guerra de todo modo. Não há ganho possível para o socialismo com a guerra. Uma grande guerra entre dois blocos liderados pela China e pelos EUA só pode resultar em uma grande regressão, não apenas recessão econômica e destruição da integração mundial, mas de fato uma grande regressão civilizatória. Ou seja, uma regressão no próprio caminho do socialismo. O socialismo deve resistir à guerra de todo modo e deve buscar os caminhos socialistas, de solução globalizante, o desenvolvimento dos fóruns e instrumentos internacionais para o estabelecimento e a garantia da paz. Aquilo que no século passado só ocorreu depois da primeira e da segunda guerras mundiais, nós temos que conseguir, agora, já, antes que seja tarde, desta vez para evitar a guerra e não para consolidar o seu resultado e restabelecer o caminho da paz, da integração e do desenvolvimento mundial. A minha esperança de que agora a gente realmente consiga evitar as grandes guerras, como eu já disse, repousa no aumento da integração econômica e social transnacional e também no fato que a grande potência ascendente no momento é a China socialista, Mas isto não garante nada e a conquista da paz parece realmente ser uma tarefa histórica de todos nós agora. A guerra mundial só interessa ao capitalismo e ao imperialismo.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Minha Experiência Mística Com o DMT

Eu sou ateu desde a adolescência. Mas, nas primeiras vezes que fumei a changa, talvez por influência de amigos que viam deuses, divindades espirituais etc, eu senti aquela forte sensação de transcendência, de estar sendo transportado para o além. Só que eu me segurei nos meus calcanhares, pensando: deixa de ser tolo, Paulo, vc vive é aqui e agora e não no além! Voltei então para mim mesmo e tive uma viagem incrível e brilhante sobre as necessidades do Ego, que até hoje me ilumina. Mas, ficou uma pulga atrás da orelha, sobre a questão da transcendência e de Deus, que me incomodava toda vez que fumava a Changa. Isso se resolveu quando, um bom tempo depois, fumando a Changa novamente, ela sussurrou no meu ouvido este 'hino' que me solucionou todas estes incômodos ou dúvidas: "Este Ser que está aí ao teu lado é Deus, Você é Deus. Todo Ser é Deus, Cada Ser é Deus, Deus é o Universo, O Universo é Deus." Percebem que aí não há transcendência, nem seres imaginários ou fantásticos, nem moral alguma, nem nada além da pura e bruta realidade. Quase que se pode dizer que o que este hino ensina é simplesmente que tudo o que existe É. Simples assim. E isto é Deus. Eu, você e os nossos inimigos. O pássaro e o verme, a estrela e a pedra. O assassino, a vítima e a testemunha. O mentiroso e o verdadeiro, o justo e o bandido. Tudo é Deus. Uma outra vez, muito tempo depois, faz uns 6 meses, eu tomei muito chá de Ayuasca, muito mesmo, do mais forte, do mel, e fumei a changa uma meia hora depois, quando a viagem começou. É algo incrível, que recomendo pra fortes. Porque aí vc viaja mesmo e por muito tempo. Pois bem, nessa onda bem longa e muito forte mesmo, não só a Changa falou comigo, mas desta vez a gente conversou de verdade. Eu perguntei pra ela: Mas, então vc não vai me mostrar o além, as tais divindades que os outros vêem? E eu pedi a ela: me mostra! Mas, ela respondeu, rindo pra mim: pra você não! E eu ri, eu entendi, ri e falei: vc está certa! E ficamos, novamente, em paz. Eu e o DMT. ❤️

Ideologia Socialista x Ideologia Capitalista

Ao concentrar a nossa atenção no aspecto ideológico, imediatamente a gente se transpõe para a perspectiva trans histórica e projeta o pensamento no futuro, para além do imediato. Pensamos, neste aspecto, necessariamente, num futuro de médio e de longo prazo, onde colocamos nossas melhores e mais generosas projeções para a humanidade. Isto que no idealismo está posto na forma de princípios absolutos ou ideais, religiosos ou filosóficos, e que, para nós, são pontos de chegada, possíveis e desejáveis, no nosso projeto histórico de ser. Este é o plano em que se localizam todas as questões ideológicas, sob qualquer aspecto simbólico, normativo ou representacional, legal, moral ou institucional das relações entre as pessoas, inclusive, obviamente, as relações de poder e força. Mas, antes de avançar num plano teleológico mais longínquo, ainda que ele seja o mais propriamente ideológico, sinto que eu preciso tratar da questão ideológica no nível do presente e do futuro próximo. Ou seja, preciso tratar da oposição entre socialismo e capitalismo no plano ideológico. Isto inclui também a contraposição entre socialismo e fascismo, na medida que o fascismo é uma forma extrema e extremamente perversa do capitalismo liberal, uma forma extrema de imposição do poder dos capitalistas sobre toda a sociedade, que surge e ressurge nos momentos extremos de crise do sistema capitalista mundial. As relações capitalistas, as formas capitalistas de produzir, distribuir e consumir, se conectam e se atravessam, se imbricam, enfim, com todas as outras relações sociais na nossa sociedade. Na mesma medida, todas as questões identitárias, de direitos humanos, de liberdades e de democracia, a questão ecológicas e todas as outras grandes questões sociais do nosso tempo têm relação com a questão histórica entre socialismo e capitalismo e, em geral, terão melhor ou pior encaminhamento e solução em função do processo de superação do capitalismo pelo socialismo. Do ponto de vista ideológico o socialismo é superior ao capitalismo em todos estes aspectos, ainda que isto pareça contra intuitivo num mundo em que os países capitalistas ocidentais, dominantes no sistema mundial atual, aparecem como os mais avançados em termos de respeito à pauta identitária e aos direitos humanos. Pode ser que isto seja verdade, mas, é bem mais verdade que os países capitalistas não se resumem aos dominantes ou ricos. E, muito ao contrário do melhor padrão europeu ou canadense, o que predomina no sistema capitalista mundial não é o respeito aos direitos humanos ou a uma pauta identitária etc. O socialismo é superior ao capitalismo liberal no plano ideológico, sob todos os aspectos mais relevantes, e isto se prova pela história mesmo. A história está seguindo um curso coerente com a superação do capitalismo pelo socialismo, justamente porque o socialismo é melhor do que o capitalismo. Progressivamente isto se mostra mais presente na realidade e mais seguro em sua veracidade. A superioridade ideológica do socialismo se dá desde as dimensões mais básicas ou profundas, na base econômica mesma da sociedade, no cerne do modo de produção e distribuição de bens, simplesmente por que o socialismo propõe a comunhão de esforços e o respeito mútuo onde o capitalismo liberal propõe a competição e a imposição do poder. A ideia motora forte do capitalismo liberal, o verdadeiro cerne desta ideologia, é ideia da liberdade econômica capitalista: a livre propriedade, a liberdade de mercado e a liberdade de acumulação ilimitada. Mas, ainda que estas ideias de liberdade capitalistas possam ter um alto valor ideológico próprio, o que é questionável, elas realmente se tornaram os ideais moventes de todo o já longo curso da história capitalista quando se associaram à ideia de que a riqueza de todos cresce através da livre competição capitalista, através da ‘mão mágica’ do mercado. E cresce mais do que em todos os modos de produção anteriores. Realmente não parece ser razoável questionar se o capitalismo está ou não relacionado a um grande desenvolvimento das forças produtivas da humanidade. Sob este aspecto, no capitalismo, realmente realizamos um grande desenvolvimento humano. E estamos todos, pelo nosso ego mesmo, vinculados ideologicamente r emocionalmente a este processo, Ele corresponde também a desejos pessoais nossos muito profundos, que nos ligam aos nossos descendentes e ao humano em geral. O desenvolvimento da humanidade, o desenvolvimento científico, tecnológico, produtivo, material, nos interessa a todos, ainda que não tenhamos consciência clara disto. Bem antes de Smith e de forma ideologicamente ainda mais poética e emblemática, Mandeville, já tinha identificado que, com a livre competição, os vícios pessoais levariam a maiores benefícios públicos, de tal modo que, assim, “os pobres de amanhã serão mais ricos que os ricos de hoje”. O ângulo destacado pelo autor da Fábula das Abelhas permite identificar virtudes essenciais ou muito desejáveis de um sistema social e que são verdades, ainda que parciais e contraditórias, no sistema capitalista. Isto corresponde diretamente a profundos desejos humanos, arraigados nas dimensões do ego e até mesmo na própria natureza genética do nosso ser biológico. Queremos reproduzir e proteger as gerações futuras. Queremos que nossos filhos e os filhos dos seus filhos desenvolvam as suas capacidades, se realizem, tenham uma vida boa e segura. Isto é intuitivo e natural a todos nós e certamente percebemos como virtude de um sistema social ele ser capaz de produzir isto. Eu entendo que esta é, de fato, uma grande fortaleza do sistema capitalista que, por sua lógica mesma, ainda que de modo muito contraditório, tem produzido este resultado histórico. E enquanto ainda se puder acreditar que neste sistema, melhor do que em qualquer outro, os filhos dos nossos filhos serão mais ricos do que nós, ele ainda terá um forte sentido histórico e um forte apelo ideológico, correspondente. Além disto, obviamente, a proposta ideológica do capitalismo permite, propicia ou promove a livre inciativa individual, o risco e a responsabilidade pessoais e, com isto, libera e intensifica a dinâmica, o movimento, de empreendimentos e trajetórias pessoais no sistema. E isto certamente também tem correspondência com desejos, também profundos, de liberdade pessoal e de justiça em relação aos esforços e às escolhas pessoais. Parece que aí se encontra uma resolução muito virtuosa dos desejos, próprios e inelimináveis do nosso ego, de liberdade e autoafirmação, por um lado, e de justiça, de justa retribuição a cada indivíduo pelo seu valor, pelo outro. A ideologia capitalista parece trazer uma aliança muito forte mesmo entre os nossos maiores desejos e as nossas melhores expectativas. A devida recompensa ao esforço pessoal, que a impessoalidade do mercado parece garantir, resultaria no melhor desenvolvimento da humanidade e no maior benefício de todos. O livre egoísmo de cada um resultaria em ser a melhor base da justiça e o melhor caminho para o bem de todos. Estas são, no entanto, verdades apenas parciais e muito contraditadas pela própria lógica econômica capitalista. As ideias fortes de liberdade e desenvolvimento se ligam realmente à história do capitalismo, mas, ela também está ligada a uma realidade de opressão e de crises, de pobreza e de guerras. É historicamente incontestável que a lógica capitalista leva a crises sistêmicas periódicas de grande intensidade, levando a grandes perdas econômicas e crises sociais extremas E isto se manifesta tão mais intensa e claramente quanto mais plenamente esta lógica se realizar, ou seja, quanto mais liberal a economia for. E também está mais do que óbvio, pela longa história, que o capitalismo liberal não é especialmente justo e que, ainda hoje, nem os mínimos de liberdade, segurança e dignidade pessoais são plenamente garantidos na maior parte sistema capitalista mundial contemporâneo. O capitalismo realiza seus melhores desígnios ideológicos de modo muito parcial e contraditório. No capitalismo, a liberdade e o desenvolvimento, a justiça e o mérito pessoal são frequentemente transformados em opressão e atraso, injustiça, humilhação, crises e violência para massas enormes de pessoas. E, no fim, o sistema todo se corrompe e se atrasa. E tem que ser assim, pois isto está mesmo na própria lógica econômica capitalista. A ideologia liberal propõe o desenvolvimento econômico e a prosperidade sociais, tendo como base a liberdade e a responsabilidade individuais, através da livre competição no mercado, o que garantiria ainda a justiça, na proporcionalidade dos ganhos ao mérito pessoal. Mas isto ocorre na realidade apenas através de muita opressão e exploração, de crises econômicas e conflitos sociais extremos e de guerras. Ao fim, a ideologia liberal reconhece que tudo isto é mesmo inevitável, mas sustenta que, mesmo assim, o caminho e as respostas capitalistas liberais são as únicas possíveis, ou, pelo menos, as melhores possíveis. De fato, a ideia de que a livre competição no mercado capitalista é a melhor forma de garantir o desenvolvimento e a justiça sobrevive enquanto não se assegura que é possível algo melhor. Mas, eu vejo que a história contemporânea tem se encarregado de nos demonstrar esta possibilidade e o seu caminho. Nos últimos 150 anos houve incontestável avanço de conquistas sociais dentro do sistema capitalista, transformando-o, controlando suas distorções e melhorando a qualidade de vida e a dignidade das massas trabalhadoras, mesmo ainda dentro das perversões do sistema capitalista. Neste período histórico é clara a diferença em favor do desenvolvimento e implantação de recursos, práticas e instituições socializantes dentro do sistema capitalista mundial, apesar dos atrasos e das perdas sociais, que ocorrem em momentos de retorno de um maior predomínio do liberalismo no sistema. E, em alguma medida, é apenas por isto que a sociedade realmente se desenvolveu intensamente neste período. É isto mesmo. Foram os instrumentos, a ideologia e a prática socialistas, que se desenvolveram dentro do sistema econômico capitalista contemporâneo, que garantiram o grande desenvolvimento produtivo e social contemporâneo, apesar de todas as terríveis crises que também ocorreram no período. Estas crises são próprias do capitalismo e teriam sido mais frequentes e certamente muito mais intensas se não fossem empregados os recursos socialistas que o sistema capitalista mundial adotou progressivamente nestes últimos 150 anos. Os sistemas públicos de regulação financeira e estratégica da economia e os serviços e institutos públicos de proteção e promoção social foram e continuam sendo fundamentais para tudo de bom que aconteceu no capitalismo contemporâneo, reduzindo a intensidade das crises e permitindo uma vida mais digna, ou menos indigna, para as massas. Creio que estas verdades se manifestam claramente quando fazemos o simples exercício mental de conceber o que seriam estas crises econômicas e suas consequências sociais sem a existência destes recursos socialistas, numa comparação com o capitalismo puramente liberal e com as respostas realmente liberais às crises econômicas e sociais. Na realidade histórica a socialdemocracia e o próprio socialismo se apresentaram como alternativas ao capitalismo liberal. Mas, durante algum tempo pareceu que a socialdemocracia só era realmente possível nos países centrais e dominantes e que o socialismo estava condenado ao fracasso. Estamos, no entanto, em outro momento já. A roda da história já girou um tanto mais e agora já podemos ver o sucesso socialista superar os feitos do capitalismo liberal em todos esses aspectos. A ideologia e a prática socialistas estão superando aquelas capitalistas, como era esperado, como está indicado na ciência da história. A velocidade, a aceleração, a intensidade e a continuidade do crescimento econômico da China comprovam, mais uma vez, que existem alternativas sociais superiores, em geral, economicamente e socialmente, em relação ao modelo liberal de capitalismo. Esta conquista histórica, assim como aquelas da socialdemocracia nos anos 40 a 80 do século passado, indicam que a ideologia socialista realmente está correta, que é possível o controle público da economia com prosperidade social e sem crises sistêmicas extremamente destrutivas. Acredito, portanto, que hoje, mesmo que muitos ainda não consigam ver, já há uma história real e bem concreta de ganhos econômicos e sociais da socialdemocracia e do socialismo no modelo chinês que podem muito bem serem contrastados com a alternativa liberal, seja de períodos anteriores, seja com atual onda liberal no sistema capitalista mundial. Estamos, de fato no fim desta onda liberal atual e, mais uma vez, se comprova o quanto a alternativa liberal é destrutiva e nos leva a ciclos de empobrecimento, crises econômicas e sociais extremas e guerras. A ideologia socialista é superior porque, sob uma maior gestão estratégica pública e com melhor regulação e colaboração tanto internacional quanto no interior das nações, a economia pode realmente ser muito mais racional e efetiva e trazer desenvolvimento e ganhos sociais muito maiores do que o que a economia capitalista liberal consegue produzir, através do conflito dos interesses privados no mercado. E se antes tínhamos apenas a ciência para nos afirmar isto, agora já temos um bom tanto da história ao nosso lado também. O socialismo cresce dentro do sistema capitalista no longo curso da história contemporânea porque sem ele o capitalismo é destrutivo demais e ameça tanto a vida e a dignidade das pessoas quanto o desenvolvimento e a própria existência da humanidade, negando todas as melhores promessas da ideologia econômica liberal. Não é, pois, apenas, nem sobretudo, porque é moralmente superior que o socialismo deve se impor na economia mundial. Ao contrário, é só porque ele é mais efetivo economicamente que ele pode realmente ser superior moralmente. Não fosse assim nunca passaria de idealismo. De fato, a própria possibilidade do desenvolvimento econômico, do desenvolvimento das capacidades produtivas da humanidade, de desenvolvimento do ser humano em geral, é melhor assegurada pelo socialismo ou, certamente, é muito melhor assegurada pelo socialismo do que pelo capitalismo liberal. E, por isso, a conjunção dos valores de desenvolvimento social e de proteção e promoção das gerações futuras, que são tão próprios aos determinantes antropológicos, genéticos e do nosso ego, se mostra muito melhor assegurada no socialismo do que no capitalismo. É claro que isto que eu tratei aqui não responde diretamente a várias questões ideológicas centrais do nosso tempo, relativas à liberdade pessoal e ao controle social, as questões de democracia e autoritarismo, as questões identitárias, a questão ecológica, entre outras questões sociais e históricas cruciais do campo ideológico atual. Mas, como não poderia deixar de ser, todas elas estão bastante ou, até, essencialmente, vinculadas à questão do modo de produção social, e, portanto, à questão da oposição ideológica entre socialismo e capitalismo e serão consideradas no desenvolvimento desta análise, em textos seguintes.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Minhas reflexões epidemiológicas finais sobre a Covid

No curso da pandemia, desde o seu início e até agora, eu assumi posições muito contraditórias com àquelas que foram reconhecidas como verdades científicas aqui no Brasil e no mundo ocidental em geral. Como eu continuo sustentando estas minhas posições sobre o problema, eu achei que valia a pena tentar fazer uma síntese e uma avaliação delas, como me apareceram ao longo do tempo, no curso da pandemia. 1. Na Europa, nos EUA, aqui no Brasil e em vários outros países houve uma reação inicial de pânico e confusão que resultou em maior disseminação da doença, especialmente nos grupos de maior risco, por exemplo, dentro dos próprios hospitais. Isto persistiu durante todo o curso da epidemia e se agravou muito com a principal estratégia epidemiológica adotada nestes países 2.. Hoje parece bem claro que neste aspecto destacaram-se, muito fortemente, dois grupos de países no mundo. Em geral, a resposta epidemiológica dos países do ocidente (Europa e Américas) foi muito diferente daquela do mundo oriental (Ásia). Ambos os grupos de países recomendaram e buscaram impor a aplicação de medidas de proteção individual como álcool nas mãos e máscara nas faces. Creio que é razoável afirmar que em ambos também se aplicaram, circunstancialmente, bloqueios totais de circulação localizados, na forma de lockdowns Mas, realmente houve uma diferença fundamental no próprio centro da estratégia epidemiológica adotada para controlar a doença até o desenvolvimento e aplicação em massa da vacina em cada um destes grupos de países. A estratégia central ou única do mundo ocidental, digamos assim, da Europa em geral, dos EUA e da América Latina, foi de isolamento social e de quarentena generalizada, ou seja, de tentativa de controle da transmissão do vírus pela paralisação generalizada da sociedade, da economia e da vida social, nestes países. Já a estratégia central do mundo oriental, digamos assim, por exemplo, da China, da Korea e do Vietnam, entre outros, foi a tentativa de controle da transmissão por isolamento dos doentes, dos portadores e, eventualmente, até dos contatos, identificados por vigilância epidemiológica, com testagem em massa. 3. Desde o início, e em todo o curso da doença, esteve claro para mim que não havia base material, epidemiológica, para justificar a paralisação completa da vida social em função da pandemia, pois, isto teria um custo social desproporcionalmente alto e com eficácia potencialmente muito baixa, pois seria irrealizável ou muito falho em sua aplicação. Desde o princípio também ficou claro que a estratégia que resultava em maior efetividade no controle da disseminação da doença era justamente aquela mais consistente com a teoria epidemiológica, isto é, o controle baseado na vigilância epidemiológica, com identificação e isolamento de doentes e contaminados. Na minha avaliação os dados de disseminação e mortalidade, sejam aqueles iniciais, ou na progressão da epidemia, realmente indicavam uma gravidade menor do que seria necessário para justificar uma parada geral da economia e da vida social em todo o mundo, ou, em cada país, por tempo indeterminado, até a aplicação em massa da vacina. No Brasil estes dados estão, como todos sabemos, entre os piores do mundo e expressam uma tragédia social de grandes proporções. Por um período, durante a pandemia, devido a um erro na base de dados dos cartórios do site Transparência, que depois foram atualizados retrospectivamente, eu cheguei a considerar que os resultados aqui no Brasil não seriam tão ruins. Mas, mesmo considerando os nossos dados corrigidos, considerando, portanto, os dados reais daqui do Brasil e do mundo, que hoje temos disponíveis com mais segurança, eu continuei sempre avaliando que a estratégia de isolamento social, de quarentena generalizada, não era acertada. Ao contrário, era um tipo de delírio tecnocrático, sem consistência epidemiológica com relação ao risco e às características de transmissão da Covid e, por isto mesmo, também sem qualquer consonância com a realidade social e econômica da vida humana em geral. Desde Abril de 2020, a própria OMS reconhecia a vigilância epidemiológica com testagem em massa como o núcleo estratégico central no controle da pandemia, mas, nos países da Europa e Américas em geral essas medidas foram completamente ignoradas, negligenciadas, ou postergadas e mal aplicadas, Ao contrário, em seu detrimento, a tentativa de quarentena generalizada é que foi a estratégia central adotada. 4. Até onde eu analisei, os dados mundiais não deixam dúvida que a estratégia de vigilância epidemiológica se mostrou muito superior à estratégia de quarentena generalizada em todos os aspectos epidemiológicos e econômico-sociais. Parece que, enfim, a estratégia de paralisação da vida social por tempo indeterminado se mostrou realmente absurda e irrealizável ou muito falha na grande maioria dos países em que foi tentada, resultando nos piores índices de mortalidade pela Covid e também nos piores resultados econômicos. 5.No mundo ocidental prevaleceu, portanto, uma reação inadequada, equivocada, com muita confusão e pânico, travestidos de verdade e responsabilidade científica e política. Este foi um fenômeno de grave irracionalidade com consequências extremamente danosas em termos de adoecimento e mortes, pela própria Covid e outras causas, e também de agravamento das crises socioeconômicas e suas terríveis consequências. 6. A ocorrência deste fenômeno de grave irracionalidade social em alguns dos países centrais, dominantes, no sistema social mundial atual, chama muito a atenção e se associa, no meu entendimento, a características socioculturais e políticas destes países, mas, também, justamente, à gravidade das crises econômico-sociais que vivemos agora. As quarentenas generalizadas foram instrumentos da crise, digamos assim, trazendo uma recessão sistêmica, aprofundando as crises econômicas e sociais, mas aparentemente, apenas por razões não econômicas e inevitáveis, de saúde pública. Mas, não é bem assim, né? Por um lado, a resposta oriental mostrou que não era necessário provocar tal recessão para lidar bem com a pandemia e, por outro, a paralisia da vida econômica e social pela quarentena generalizada, em geral, não trouxe bons resultados de saúde pública, no controle da pandemia, ao contrário.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

A PAZ É O CAMINHO: A QUEDA DO IMPÉRIO AMERICANO E O AVANÇO DO SOCIALISMO MUNDIAL

Estamos vendo os momentos finais da hegemonia ou do império do EUA, que se seguiu, e deu continuidade, ao império da Inglaterra. De acordo com a análise de Ray Dalio, uma das últimas etapas na sucessão de hegemonias no capitalismo mundial é a substituição da moeda internacional. E isto está justamente ocorrendo diante dos nossos olhos. É claro que quando um poder hegemônico está em decadência cada ato de força da sua parte corre o risco de se voltar diretamente contra ele, demonstrando, consolidando e aprofundando a sua fraqueza. E é isso mesmo que ocorreu com as sanções econômicas que os americanos tentaram impor contra a Rússia. Os efeitos negativos estão se manifestando diretamente nos próprios EUA e nos países da Europa, que estão se colocando como vassalos dos EUA. Inflação e queda no crescimento econômico, empobrecimento e crises sociais, esta é a colheita da aliança Ocidental. Do outro lado, a economia russa vai bem e só cresceram, numa resposta forte e imediata, os acordos para tracas internacionais sem o uso de dólar. Acordos neste sentido estão ocorrendo agora, até entre o Irã e a Corea do Sul, por exemplo, e eles se disseminam rapidamente mundo afora, de um modo inesperado e impossível até muito pouco tempo atrás. Especialmente o comércio de petróleo está saindo da área de influência e controle, ao fim, do dólar. Obviamente, isto é um golpe tremendo contra a força do dólar e, correlativamente, a hegemonia dos EUA no mundo. Se a análise de Dalio estiver correta este processo termina sendo acompanhado por grandes guerras. Mas, eu tenho dito, repetidamente, que eu acredito que este processo será bem menos violento e destrutivo agora do que aquele das grandes crises econômicas e guerras europeias e mundiais da primeira metade do século passado. E baseio esta esperança em dois pontos, sobretudo: no aprendizado histórico que estas grandes tragédias sociais nos trouxeram e no fato que a maior potência emergente e que está substituindo os EUA na hegemonia da economia e, logo, da vida social mundial é a China socialista. Ou seja, deposito minhas esperanças no processo histórico de socialização do sistema capitalista mundial, que se aprofundou e desenvolveu decididamente a partir das grandes crises econômicas e guerras da primeira metade do século passado. É, mais uma vez, o avanço decidido e incontrastável do socialismo no sistema capitalista mundial que pode nos salvar de crises e violência ainda muito maiores do que as que já estamos vivendo no mundo atualmente. Parte importante disto é o reconhecimento de que o socialismo é vencedor no processo histórico mundial e que a colaboração e integração entre os povos e é algo positivo, realmente, para todos. A globalização da produção e da vida social em geral verdadeiramente devem representar ganhos para toda a humanidade. A violência e a destrutividade que se apresentam no sistema global, no presente, com empobrecimento e guerras, não se devem à integração econômica e social mundial, ao contrário, mas, são expressões da violência e destrutividade próprias do capitalismo na sua etapa atual. Ainda assim o avanço e a hegemonia chinesas se mostram, progressivamente, em todos os aspectos relevantes da economia mundial, desde os indicadores de educação e produção científica até os de patentes e desenvolvimento produção, assim como nas trocas e no investimento internacionais. Não há como deter este processo, a não ser através de guerra destrutiva. Não sendo a China socialista um país imperialista, não tem pretensões colonizadoras expansionistas, mas, mesmo assim, os EUA vão procurar manter as condições de guerra atuais e criar mais condições de guerra, pois, não há alternativa para a perda final da sua hegemonia mundial, que de fato já está em curso e avançada. No momento, além da participação na guerra da Ucrânia e outras guerras mundo afora, os EUA exercem, com variado sucesso, ações destrutivas de guerra econômica contra muitos países, diretamente, do modo mais violento, destruindo economias e chantageando nações inteiras, através dos bloqueios econômicos e financeiros, como contra Cuba, contra Venezuela, contra o Irã, entre outros países. Agora, com a Rússia, é que isto fracassou completamente, acelerando a própria decadência do poder hegemônico dos EUA. E, talvez, a guerra econômica mais importante do momento é a tentativa dos EUA de bloquear o acesso da economia chinesa aos chips e à tecnologia para a produção de chips mais avançados, seja de empresas americanas, seja no mercado internacional. Neste caso, mais uma vez, parece que o feitiço está virando contra o feiticeiro. A China está acelerando seu desenvolvimento e são as empresas de chips e outros setores da economia dos EUA que estão enfrentando mais dificuldades. Estes são exemplos de ações contra os povos e contra a economia mundial em geral, contra a globalização e o desenvolvimento, ações unilaterais e abusivas de poder e controle da nação hegemônica, mas que já não se sustentam e começam a dar resultados contrários em todos os lados. A ameaça das guerras cresce com a deterioração da hegemonia americana, com o aumento da sua impotência no campo econômico e político, a sua força militar se torna o seu último recurso de poder.. Mas, o desenvolvimento econômico precisa da paz. O desenvolvimento social precisa da paz. Os imperialistas e os liberais em geral se unem para sustentar a guerra. Em contrário estão as forças da própria globalização da economia mundial e a força da China socialista nesta economia e na geopolítica no mundo globalizado, polarizando uma ação sistêmica de defesa e avanço do sul global contra o imperialismo, o colonialismo, a xenofobia e o fascismo. Estamos no caminho, com certeza difícil e tempestuoso, da transição, simultaneamente, para além da grave crise econômica mundial atual, que já persiste há mais de uma década, da perda de hegemonia dos EUA e do avanço socialismo mundial. E a paz deve voltar a ser uma grande bandeira política e ideológica mundial. Precisamos garantir que a paz se mantenha pelo menos nos níveis das décadas passadas. Precisamos evitar que a guerra seja proclamada e adotada como solução para a crise sem saída do capitalismo atual e da hegemonia dos EUA.