segunda-feira, 26 de março de 2018

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http://porem.net/2018/01/03/movimento-pela-maconha-medicinal-e-a-maior-promocao-de-saude-popular-do-mundo/ “Não compre, plante!”. Quando o Planet Hemp cantou essa frase em 1995 o mundo era diferente. Passados mais de vinte anos dessa icônica música, muita poeira subiu, muita fumaça se dissipou no ar, o debate não morreu e o movimento canábico ganhou proporções globais. Dentro deste contexto, um movimento popular tornou-se protagonista: a luta pela livre utilização dessa planta para fins medicinais. Mas é bom deixar claro que a utilização da maconha para fins terapêuticos não é novidade. A história da cannabis já foi contada há milênios pela cultura asiática e sua utilização medicinal é mais antiga que “andar pra trás”, como diz a sabedoria popular. E para explicar essa questão da promoção da saúde através da maconha, o médico especialista em medicina preventiva, Paulo Fleury Teixeira, pioneiro na pesquisa sobre o uso da planta para o tratamento de sinais, sintomas e distúrbios associados ao autismo e outras doenças, concedeu uma entrevista, em dezembro de 2017, quando esteve em Curitiba. Na oportunidade, Paulo visitou a capital paranaense para orientar famílias, pacientes e voluntários interessados em cannabis para fins medicinais. Também ministrou uma palestra na sede da empresa curitibana ‘Ethel- Ammer’ – especialista em pesquisa e desenvolvimento na área biotecnológica e que promove eventos para divulgar o uso terapêutico da planta. Paulo Fleury Teixeira. Foto: Regis Luis Cardoso O médico e o movimento Paulo Fleury Teixeira é mineiro e hoje não tem raiz. Se considera um médico itinerante. Promove encontros com pacientes para fazer orientações ligadas a maconha medicinal. Seu trabalho lembra a Medicina de Família que chegou as universidades latinas na década de 70, como reação à tendência desumanizada do atendimento médico moderno. Ele viaja pelo Brasil com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas através da maconha medicinal. Ele explica que seu trabalho colabora com uma estrutura maior: “Hoje as pessoas estão, através da maconha medicinal, reapropriando o poder sobre seu próprio corpo, sobre a própria saúde. Isso é de máxima importância do ponto de vista da qualidade de vida. O movimento pela maconha medicinal é o principal movimento de promoção da saúde que existe no mundo hoje. É uma afirmação da autonomia do paciente e da população em geral em relação a toda estrutura médica e industrial que domina a vida e a saúde das pessoas. Inclusive dos próprios médicos, que são apenas um instrumento dessa cadeia médico industrial” – Paulo Fleury Teixeira (PFT) Paulo explica que seu maior interesse é difundir uma informação correta sobre o tema. Hoje o médico tem, em rede, mais de 300 pacientes autistas pelo Brasil, além de Argentina, EUA e em Cabo Verde, na África. “Nós estamos conseguindo fazer um movimento social e coletivo. Eu sou só um peão, um contribuinte nessa história, isso vem dos pais, das mães e dos pacientes” – PFT. Para o médico, há uma necessidade de se popularizar esse debate, por isso ele criou a “Rede de Acolhimento e Apoio Mútuo em Terapia Canábica”, que conta com pacientes em Belém (PA), São Luís (MA), Goiânia (GO), Brasília (DF), Maringá, Cascavel e Curitiba, no Paraná, e nos estados do Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. “Essa rede nasceu muito da minha prática. Faço a orientação tanto por rede social ou pela prática itinerante. Eu vou onde as pessoas me chamam. Isso nasceu sobretudo em tratamento com pacientes autistas e epiléticos. Foi algo pioneiro, ao lado dos colegas Leandro Ramires e Renato Malcher; a partir das teorias do Malcher e da minha própria prática começamos os tratamentos com autistas, depois isso se difundiu” – PFT. Paulo explica que a rede está crescendo e com caráter popular: “A maconha sempre será de domínio popular, por mais que seja algo de alto nível de desenvolvimento técnico e tecnológico. Algo que alguém sem qualquer cultura acadêmica poderá realizar na sua própria casa, plantando seus pés de maconha para extrair seus extratos (óleo, haxixe, etc.) e fazer sua terapia. Isso sempre foi e sempre será assim. Queira a medicina ou não. Desde a pré história até hoje as pessoas usaram e vão continuar usando maconha” – PFT. A Rede de Acolhimento, além de popularizar a maconha para fins medicinais, humaniza o próprio tratamento médico. Paulo percebeu que para manter seu trabalho itinerante não é necessário a mesma formalidade que o atendimento médico normalmente exige. “Eu senti a necessidade de trazer para junto de mim pacientes e pais de pacientes para que eles também formem uma rede de acolhimento e suporte mútuo. Isso é algo muito próprio de uma promoção da saúde, pois são as pessoas, no interesse da sua qualidade de vida, buscando seu auto cuidado, conhecimento, informação e partilhando isso” – PFT. Um dos desafios da Rede de Acolhimento é mostrar, através de dados e experiências, material científico que comprove e qualifique ainda mais o tratamento com cannabis medicinal. Com experiência no tratamento de epilepsia, autismo e fibromialgia, o médico também observou bons resultados em neuropatias graves, como doenças degenerativas e distrofias, que levam, além da dor, à incapacitação motora progressiva. Outro relato positivo do médico é no tratamento de pacientes com doenças inflamatórias crônicas e autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide e doença de crohn. Porém, o desafio é se aprofundar ainda mais no campo psiquiátrico: “Tenho cada vez mais pacientes psiquiátricos. Uma fronteira que deve ser explorada é a possibilidade de utilizar a maconha medicinalmente para os diversos quadros: déficit de atenção, hiperatividade, ansiedade, pânico, depressão e especialmente a psicose” – PFT. Autismo e epilepsia “Comecei com poucos pacientes que me procuravam. Era uma coisa proibida, tinha que ser cauteloso e não divulgar. Mas aí aconteceu esse movimento popular, espontâneo, basicamente de mães de crianças epiléticas, que identificaram na maconha medicinal a possibilidade de tratar problemas que põem em risco a vida das crianças” – PFT. Foi através do crescimento do movimento popular encabeçado por mães de pacientes que o médico conseguiu divulgar e expandir seus estudos. Como consequência, a demanda aumentou, primeiramente no tratamento da epilepsia infantil: “Eu e colegas pesquisadores, especialmente o colega Renato Malcher, começamos a desenvolver a perspectiva de usar a maconha medicinal para o tratamento com os autistas. A partir do momento que vi nos pacientes com autismo e crianças epiléticas resultados surpreendentemente bons, além da ausência de efeitos colaterais relevantes, especialmente comparados aos medicamentos hoje usados, comecei a tratar mais pacientes e divulgar os resultados” – PFT. Paulo explica que a partir do momento que começou a estudar as possibilidades de uso terapêutico da maconha, tomou o cuidado de se aprofundar no estudo dos efeitos colaterais. Essa imersão do médico no campo da maconha medicinal comprovou o seguinte: “Não há efeitos negativos colaterais relevantes do ponto de vista de lesão orgânica ao corpo. O sistema circulatório, cardiovascular, pulmões, rins, fígado e sistema digestivo em geral não são lesados pela maconha. É um fitoterápico de baixíssima toxidade comparado aos medicamentos em geral utilizados” – PFT. Paulo Fleury Teixeira em palestra na capital paranaense. Foto: Regis Luis Cardoso Maconha, violência e comunidade médica O médico explica que a maconha entrou na sua vida profissional “por uma convicção na questão político social acerca do que representa a política de guerra às drogas”. A partir de 2010, após se aproximar dos movimentos sociais antiproibicionistas, ele aderiu à causa. Como desdobramento, se aproximou dos grupos sociais ligados à cannabis medicinal. De acordo com Paulo, a comunidade médica e científica ainda está muito fechada. Ele é enfático em dizer que, na questão da política antidrogas, não é a polícia ou a justiça, nem o legislativo ou a igreja, que são os responsáveis pelo desastre social que está por trás da “guerra as drogas”, mas sim a área médico científica: “Se hoje morrem centenas de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, a responsabilidade é das autoridades médico científicas. Aqui no Brasil, grande parte dessa irresponsabilidade deve ser atribuída à Anvisa e à psiquiatria brasileira, que sempre adotaram políticas proibicionistas que reforçam o terrorismo do estado e as mortes relacionadas a isso” – PFT. Ele faz um paralelo entre a liberação de outras drogas em detrimento da proibição da maconha: “Como pode a comunidade médica autorizar o uso livre do álcool, inclusive existindo propaganda dessa droga potencialmente altamente destrutiva, e proibir uma planta cujo grau de destruição é desprezível? A maconha tem efeitos terapêuticos muito grandes! Então, isso não é ignorância, porque a informação existe, isso é má fé. É covardia médico científica, cujo preconceito está levando muita gente à morte e à prisão” – PFT. O posicionamento do médico em relação ao discurso de que a maconha tem responsabilidade na violência social é direto: “Não tem como responsabilizar a maconha por nenhum aspecto da violência envolvida na questão das drogas. No entanto, ela é, talvez, a mais comercializada. A maior parte das pessoas presas hoje no Brasil, relacionada a tráfico de drogas, deve ter sido presa por maconha. Então, é muito paradoxal e muito violento pra mim, ver uma coisa que eu considero benéfica ser considerada socialmente um malefício. Ainda mais dentro de uma situação de altíssima violência” – PFT. No fim da conversa Paulo Fleury Teixeira deixou um canal aberto para as pessoas que têm interesse em participar da Rede de Acolhimento ou saber mais sobre o tratamento com maconha medicinal. Para encontrar o médico via Facebook, basta adicioná-lo através do facebook.com/paulo.fleuryteixeira ou via whatsapp pelo número 031 9 8482 3787. Maconha hoje Atualmente o debate sobre a maconha medicinal avança. O maior exemplo aconteceu no Piauí, quando, no dia 28 de dezembro de 2017, o governo autorizou a produção de óleo canabidiol, medicamento derivado da maconha (leia matéria completa aqui). Outro avanço aconteceu no Senado Federal. A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) aprovou relatório favorável à apresentação de um projeto de lei com o objetivo de descriminalizar a maconha para fins medicinais (leia matéria aqui e o relatório completo sobre o tema aqui). Vale lembra que o Senado do Paraguai aprovou, no início de dezembro de 2017, o uso medicinal da maconha, além de criar um programa nacional para a pesquisa médica e científica da erva. A lei tem o objetivo de permitir aos pacientes o acesso gratuito ao óleo de maconha e a todos os derivados da erva.

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