quarta-feira, 7 de junho de 2023

Minhas reflexões epidemiológicas finais sobre a Covid

No curso da pandemia, desde o seu início e até agora, eu assumi posições muito contraditórias com àquelas que foram reconhecidas como verdades científicas aqui no Brasil e no mundo ocidental em geral. Como eu continuo sustentando estas minhas posições sobre o problema, eu achei que valia a pena tentar fazer uma síntese e uma avaliação delas, como me apareceram ao longo do tempo, no curso da pandemia. 1. Na Europa, nos EUA, aqui no Brasil e em vários outros países houve uma reação inicial de pânico e confusão que resultou em maior disseminação da doença, especialmente nos grupos de maior risco, por exemplo, dentro dos próprios hospitais. Isto persistiu durante todo o curso da epidemia e se agravou muito com a principal estratégia epidemiológica adotada nestes países 2.. Hoje parece bem claro que neste aspecto destacaram-se, muito fortemente, dois grupos de países no mundo. Em geral, a resposta epidemiológica dos países do ocidente (Europa e Américas) foi muito diferente daquela do mundo oriental (Ásia). Ambos os grupos de países recomendaram e buscaram impor a aplicação de medidas de proteção individual como álcool nas mãos e máscara nas faces. Creio que é razoável afirmar que em ambos também se aplicaram, circunstancialmente, bloqueios totais de circulação localizados, na forma de lockdowns Mas, realmente houve uma diferença fundamental no próprio centro da estratégia epidemiológica adotada para controlar a doença até o desenvolvimento e aplicação em massa da vacina em cada um destes grupos de países. A estratégia central ou única do mundo ocidental, digamos assim, da Europa em geral, dos EUA e da América Latina, foi de isolamento social e de quarentena generalizada, ou seja, de tentativa de controle da transmissão do vírus pela paralisação generalizada da sociedade, da economia e da vida social, nestes países. Já a estratégia central do mundo oriental, digamos assim, por exemplo, da China, da Korea e do Vietnam, entre outros, foi a tentativa de controle da transmissão por isolamento dos doentes, dos portadores e, eventualmente, até dos contatos, identificados por vigilância epidemiológica, com testagem em massa. 3. Desde o início, e em todo o curso da doença, esteve claro para mim que não havia base material, epidemiológica, para justificar a paralisação completa da vida social em função da pandemia, pois, isto teria um custo social desproporcionalmente alto e com eficácia potencialmente muito baixa, pois seria irrealizável ou muito falho em sua aplicação. Desde o princípio também ficou claro que a estratégia que resultava em maior efetividade no controle da disseminação da doença era justamente aquela mais consistente com a teoria epidemiológica, isto é, o controle baseado na vigilância epidemiológica, com identificação e isolamento de doentes e contaminados. Na minha avaliação os dados de disseminação e mortalidade, sejam aqueles iniciais, ou na progressão da epidemia, realmente indicavam uma gravidade menor do que seria necessário para justificar uma parada geral da economia e da vida social em todo o mundo, ou, em cada país, por tempo indeterminado, até a aplicação em massa da vacina. No Brasil estes dados estão, como todos sabemos, entre os piores do mundo e expressam uma tragédia social de grandes proporções. Por um período, durante a pandemia, devido a um erro na base de dados dos cartórios do site Transparência, que depois foram atualizados retrospectivamente, eu cheguei a considerar que os resultados aqui no Brasil não seriam tão ruins. Mas, mesmo considerando os nossos dados corrigidos, considerando, portanto, os dados reais daqui do Brasil e do mundo, que hoje temos disponíveis com mais segurança, eu continuei sempre avaliando que a estratégia de isolamento social, de quarentena generalizada, não era acertada. Ao contrário, era um tipo de delírio tecnocrático, sem consistência epidemiológica com relação ao risco e às características de transmissão da Covid e, por isto mesmo, também sem qualquer consonância com a realidade social e econômica da vida humana em geral. Desde Abril de 2020, a própria OMS reconhecia a vigilância epidemiológica com testagem em massa como o núcleo estratégico central no controle da pandemia, mas, nos países da Europa e Américas em geral essas medidas foram completamente ignoradas, negligenciadas, ou postergadas e mal aplicadas, Ao contrário, em seu detrimento, a tentativa de quarentena generalizada é que foi a estratégia central adotada. 4. Até onde eu analisei, os dados mundiais não deixam dúvida que a estratégia de vigilância epidemiológica se mostrou muito superior à estratégia de quarentena generalizada em todos os aspectos epidemiológicos e econômico-sociais. Parece que, enfim, a estratégia de paralisação da vida social por tempo indeterminado se mostrou realmente absurda e irrealizável ou muito falha na grande maioria dos países em que foi tentada, resultando nos piores índices de mortalidade pela Covid e também nos piores resultados econômicos. 5.No mundo ocidental prevaleceu, portanto, uma reação inadequada, equivocada, com muita confusão e pânico, travestidos de verdade e responsabilidade científica e política. Este foi um fenômeno de grave irracionalidade com consequências extremamente danosas em termos de adoecimento e mortes, pela própria Covid e outras causas, e também de agravamento das crises socioeconômicas e suas terríveis consequências. 6. A ocorrência deste fenômeno de grave irracionalidade social em alguns dos países centrais, dominantes, no sistema social mundial atual, chama muito a atenção e se associa, no meu entendimento, a características socioculturais e políticas destes países, mas, também, justamente, à gravidade das crises econômico-sociais que vivemos agora. As quarentenas generalizadas foram instrumentos da crise, digamos assim, trazendo uma recessão sistêmica, aprofundando as crises econômicas e sociais, mas aparentemente, apenas por razões não econômicas e inevitáveis, de saúde pública. Mas, não é bem assim, né? Por um lado, a resposta oriental mostrou que não era necessário provocar tal recessão para lidar bem com a pandemia e, por outro, a paralisia da vida econômica e social pela quarentena generalizada, em geral, não trouxe bons resultados de saúde pública, no controle da pandemia, ao contrário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário