domingo, 13 de agosto de 2023

O nazismo de Nietzsche, ou a idolatria do poder

Algumas pessoas dizem que o Nietzsche foi um dos precursores do nazismo. Tolice e verdade, não é? Mas, como assim? Eu acredito que no final das contas a questão central é aquela da produção da excelência humana. Com certeza isto era algo que interessava muito ao Nietzsche e talvez fosse realmente o maior valor no seu sistema moral. A produção do excelente e somente ela justificaria toda a existência humana e toda a história. Não importa quanto e quantos sofram por isto. Esta doutrina não é estranha na filosofia e na cultura ocidental, de jeito nenhum. Ao contrário, ela é realmente predominante, em consonância com a nossa realidade histórica, até hoje. E, de certo modo, esta doutrina é uma justificativa eterna da dominação e da opressão social. E do nazismo, inclusive. Do mesmo modo que é a justificativa da escravidão, da guerra, de todas as grandes conquistas das potências imperialistas e de toda a miséria e sofrimento que elas produziram. Tudo se justificaria para produzir o excelente. Do ponto de vista econômico, essa questão se coloca na equação de distribuição e consumo versus a concentração de recursos sociais, de capital e trabalho, sem o que certamente não se faz nada realmente excelente, grandioso, e não se produz o desenvolvimento econômico em geral. A concentração de capitais não pode senão estar acompanhada de concentração grande de poder e isto tem se realizado na história de forma bruta, de violência extrema. O nazismo, infelizmente, não é nenhuma exceção. A violência, as atrocidades, o abuso e a destruição total do sistema colonial são o berço e o alimento da excelência capitalista contemporânea. E é pela violência militar, é pela guerra, que, ainda hoje, os EUA impõem a continuidade do seu império. A possibilidade que nos apresenta uma organização socialista é a concentração dos capitais sob a direção estratégica do poder público e não do capitalista. Esta forma de organização da economia deve permitir uma concentração de riquezas menos violenta e mais inteligente, mais produtiva. E é isto que, de muitos modos, a sociedade chinesa nos comprova. A excelência é conquistada mais pela disseminação ampla e firme do conhecimento em toda a sociedade e pelo esforço coletivo bem organizado e direcionado do que pela “genialidade” de alguns indivíduos. Não é, não pode ser mais, a excelência do dominador, do nobre grego, do senhor de escravos colonial, do bilionário capitalista e dos seus correspondentes intelectuais e artísticos, mas, sim, a excelência da massa, dos comuns, dos medianos. Isto é mais justo, mais pacificador, mais produtivo e mais criativo, promovendo mais e melhor o nosso desenvolvimento. E, com certeza, Nietzsche odiaria.

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