segunda-feira, 4 de outubro de 2021

O AMOR VERDADEIRO, É LIVRE! OUVIU, BB?

Mas olha, parece claro que todas as grandes culturas, as realmente predominantes no mundo hoje, são culturas da família e, portanto, têm suas religiões e outros recursos ideológicos hegemônicos assentados na defesa, na sustentação e na afirmação da família. Da família tradicional, da família civilizada ou moderna, se você quiser. A família nuclear, composta por um casal de pais e seus filhos. A família fundada no casamento monogâmico duradouro ou permanente. 

É assim na Índia e na China como nos EUA, Europa e Rússia, pra gente perceber o quanto isto é a forma predominante na atualidade. E está profundamente arraigada nestas culturas, sendo o valor da família, certamente, um dos principais fundamentos das doutrinas de Confúcio assim como de Cristo, por exemplo. 

E é bem óbvio que esta forma familiar de organização da reprodução da vida, da sexualidade e da criação dos filhos. é eficaz nesses aspectos. E também é muito adequada ao mundo capitalista. Enfim, essas unidades vitais, são privadas, né?, e, portanto, entre elas parece natural se estabelecerem as relações de competição privada capitalista.

Com certeza, portanto, toda e qualquer grande alteração no curso social da humanidade tem também que atingir e abranger, e de fato está abrangendo, a questão da família, ou, as questões de ordenamento da sexualidade e da criação das crianças. Mas, quem se contrapõe, quem diverge e quem contesta essa forma tradicional de organização da reprodução da vida humana tem contra si essa barreira cultural trans histórica global que parece ter a força de um fato ou condição inexorável e inquestionável da vida humana.

Como eu posso contestar, me contrapor e negar, algo tão sagrado e aparentemente tão necessário que chega mesmo a ser aparentemente impossível ou, certamente, “anti-natural” contestar? E logo eu que tive a minha vida amorosa sempre marcada por crises e escândalos, eu que, portanto, talvez não possa ser exemplo para ninguém, como eu posso me arvorar a criticar e pretender corrigir fundamentos centrais de Cristo e Confúcio, ao mesmo tempo? Fundamentos de toda a civilização? Eu não sei. O único que eu posso dizer sobre isto é que eu estou vivo agora e dou o meu testemunho verdadeiro.

E o meu testemunho verdadeiro é que eu sinto e penso, no fundo da minha razão e do meu coração, que a família nuclear e a monogamia não são mesmo a melhor forma de organização básica da reprodução da vida humana, da sexualidade e da criação das crianças. Eu realmente penso e sinto que o melhor é a vida coletiva, comunitarista, de liberdade e respeito mútuos. A vida comunitária, sem famílias, ou com toda e qualquer forma de família, mas vida coletiva realmente, com liberdade sexual para os adultos e responsabilidade coletiva sobre as crianças. Realmente eu creio que isto é o mais humano. Com certeza atende melhor aos predicados fundamentais da humanidade, da própria inteligência e consciência humanas: a liberdade individual e a vida social.

Os conservadores em geral certamente pensam mesmo que a família nuclear, privada, monogâmica é uma forma natural, espontânea de organização básica da vida humana, da criação das crianças e da sexualidade dos adultos. Mas de fato não é. Nem é lícito falar de forma natural em se tratando da cultura, mas, se se fosse dar esse título seria à forma tribal e não à familiar. Sim antes da humanidade se organizar em famílias em geral se organizou em tribos, onde havia tanto uma sexualidade mais livre quanto responsabilidade coletiva dos adultos sobre as crianças. E, se a família é a forma mais apropriada para sociedade capitalista, certamente a vida comunitária e o amor livre são, idealmente, e serão na prática mais apropriados para a nova sociedade que está se formando. 

Mas, eu nunca procurei nenhuma comunidade assim jamais na minha vida, pra viver lá. E acho que nunca vou procurar. Principalmente porque não vejo como esse ser o caminho real de transformação, de formação de nova cultura humana. Então, com toda a contradição, toda a dor de viver sempre um tanto muito desajustado, eu fiz essa escolha de tentar mudar aqui por dentro da realidade geral e não fugindo dela. Esse é um dos aspectos em que se aplica um lema que uso com alguma frequência: “É dentro do sistema e contra o sistema”. Posso estar errado e ainda me decidir a procurar uma comunidade ou tentar criar uma e viver mais de acordo comigo mesmo. Mas acho que isso não vai acontecer. Vou continuar nessa contradição até morrer. E é certo que, do outro lado, as forças conservadoras, no mundo todo, sempre estarão em defesa, real ou hipócrita, da família, como esta unidade fundamental e inquestionável. E será assim por um longo tempo. As transições neste campo são, certamente, lentas e não atendem à dinâmica política ou a ações revolucionárias. É a vida vivida se fazendo e transformando.

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