sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Relato de caso de surto psicótico em pte autista epilética em uso de óleo de canabis


Nesta última semana eu tive o meu primeiro caso de um surto psicótico em paciente autista em uso de um extrato de canabis.
Já tive antes casos de paciente psicótico usuário de maconha com crises periódicas e de pacientes autistas com desequilíbrios psicomportamentais importantes, com piora de crises convulsivas, insônia, agitação, irritabilidade, estereotipias, agressividade e crises psíquicas várias. Esses casos foram controlados com a interrupção do tratamento com canabinoides, ou com o retorno de outra medicação antes interrompida, ou com acertos (aumentos ou raramente reduções) de dosagem do óleo e (redução ou raramente aumento) de dose dos medicamentos em uso.
Mas ainda não tinha tido um caso de surto psicótico em paciente autista levando a internação, com contenção física e química. É uma experiência ruim, negativa, pesada e extremamente angustiante, sobretudo para os responsáveis, normalmente, principalmente, a mãe.
Os casos de surto psicótico têm, além da sua gravidade e dramaticidade própria também o grande impacto de ser este justamente um efeito colateral tradicionalmente atribuído ao uso de maconha pela psiquiatria.
A minha visão, contudo, baseada numa casuística de dezenas de pacientes, seja em uso de óleos ricos em cbd, ou ricos em thc, é de que os canabinoides atuam reduzindo o risco desses eventos e de todas as outras manifestações da instabilidade neuropsíquica que caracteriza esses pacientes.
No caso específico a que estou me referindo agora, parece razoável que o risco foi aumentado e o gatilho do surto desencadeado justamente pelo fato de a paciente estar com uma dose muito baixa de canabinoides (mas suficiente para grande melhora no controle das crises convulsivas) quando fez retirada de benzodieazepinico de longo uso.
A paciente foi controlada pelo uso de antipsicóticos em regime de urgência e teve alta esta semana, com prescrição de antipsicóticos e anticonvulsivantes. E reiniciará o uso de canabinoides (com extrato rico em thc) agora seguindo o padrão de início com dose baixa e elevação progressiva da dose do óleo, enquanto se avalia e procede à redução progressiva e lenta dos medicamentos neuropsiquiátricos em uso.
Este caso expõe o fato, que todos que lidamos com esses pacientes, temos que estar cientes: é que os riscos reais de piora, em algum ou vários aspectos (inclusive crises psicóticas e convulsivas), existem, seja já em grande parde dos pacientes, seja pela interferência entre as dosagens dos diversos medicamentos que eles usam, seja pela retirada de qualquer desses medicamentos, ou pelo próprio uso de qualquer desses agentes terapêuticos, inclusive dos canabinoides. Não parece determinável com o nosso conhecimento atual qual ou quais fatores realmente atuaram em cada caso.
Na minha casuística dos pacientes autistas, até agora, os casos de piora, em algum dos aspectos acompanhados, são algo entre 5 e 20%, independente se os óleos são ricos em cbd, de cbd purificado ou ricos em thc. Reversamente, os casos de melhora significativa, seja na agitação, nos aspectos psicocomportamentais, na insônia, nas crises convulsivas, assim como no desenvolvimento global, fala, cognição, interação, motor e autonomia atingem 60 a 80% dos pacientes.
Como, além disso, eu tenho a forte e bem fundada convicção de que os extratos de canabis são mais seguros, têm muito menor toxicidade, que os agentes terapêuticos utilizados por esses pacientes, eu persisto com a perspectiva terapêutica que tenho orientado aos meus pacientes em geral: o melhor cenário, que nós perseguimos, é conseguirmos controlar os aspectos mais graves do caso e contribuir para o desenvolvimento global do paciente somente com o uso dos canabinoides, retirando progressivamente os demais medicamentos. Não é seguro que se conseguirá a retirada completa dos medicamentos e é bastante provável que haja turbulência nesse processo. Ainda assim as perspectivas de melhora e os efeitos negativos e riscos impostos pelos medicamentos neuropsiquiátricos justificam a tentativa mesmo nos casos mas graves e instáveis.





2 comentários:

  1. A pergunta é,os medicamentos nessa pessoa foram retirados de forma abrupta ou gradativamente! Outra questão autistas podem ter várias comorbidades associadas ,,ou seja, alergias alimentares e diversas,intolerâncias,essa paciente dada a gravidade faz algum tipo de terapia especifica ? Todos esses fatores devem ser levados em conta,antes de se responsabilizar apenas o uso do óleo.

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  2. É muito provável que foi o medicamento que foi retirado, mantém em pequena doses o remédio que ele sempre tomou e somente em longo prazo tire totalmente, passei por isso em uma outra situação parecida!!

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