sábado, 1 de outubro de 2022

QUEM SÃO OS FASCISTAS E PORQUE ELES TÊM QUE SER DERROTADOS


Nesta campanha eleitoral e na anterior bloqueei e desfiz amizade com algumas pessoas. Infelizmente, não era a minha intenção, mas fazer propaganda para o fascismo excede os limites do aceitável para mim.


Fico triste, mas não tem outro jeito. Com o fascismo não se dialoga.


Penso especialmente em uma pessoa específica e acredito que ela não aceitaria esta classificação de fascista.


Mas já tem muita coisa evidente no discurso e nas práticas dos Bolsonaro e dos grupos que subiram ao poder com eles. Mesmo para quem não quer ver.


Enfim há uma origem miliciana e ligada à ditadura militar e ao que há de pior nela: o terrorismo de estado. O uso da tortura e dos assassinatos como armas políticas. E isto tudo é fascismo político. Poder militar e violência armada como estratégia de poder.


Eu entendo que a coisa colocada assim no nível político é abstrata e dá margem a dúvidas.


Mas isto faz parte do nosso dia a dia.


Há uma violência constante, da sociedade e do Estado, atingindo focalizadamente pobres, negros, índios, homossexuais, pacientes psiquiátricos, pessoas com deficiência, mulheres, idosos, crianças, entre outros grupos excluídos ou fragilizados, que são alvo de níveis diversos de violência opressiva da sociedade e do Estado. E há, aqui no Brasil, uma verdadeira guerra aberta de grupos dominantes e do Estado, baseada em violência física, torturas e assassinatos, contra alguns destes grupos oprimidos. A violência armada é estratégia constante do poder dominante no Brasil, desde sempre. Desconhecer isto é uma ignorância absurda. Ser conivente com isto é inaceitável.


Mas eu não tô escrevendo isto apenas pra me justificar, pra explicar porque eu desfaço as amizades neste caso, mas principalmente para tentar entender o que leva alguém com tantas qualidades pessoais e digna de respeito a se aliar a esta ideologia ao ponto de fazer propaganda para o presidente fascista?


Bom, acredito que o ambiente ideológico midiático, digamos assim, conta muito. E este é predominantemente fascista, ou, pelo menos, bastante conivente com o fascismo e vinculado à religião aqui no Brasil. Os assassinatos contra os índios, nas ocupações e favelas e até mesmo contra ecologistas raramente ganham a projeção e a condenação que mereceriam na mídia nacional. Ao contrário, no dia a dia, estas mortes e até mesmo as torturas e os estupros de adolescentes e crianças, são minimizadas, completamente desconsideradas e até mesmo incentivadas, de modo direto ou através de indiretas. Somos continuamente doutrinados, direta ou subliminarmente, a aceitar isto como natural ou inevitável. Cria-se, nas culturas locais onde estes conflitos estão presentes, com grande peso da mídia, um verdadeiro ciclo vicioso de exclusão, abusos, miséria e violência que parece fazer parte da própria condição nacional aqui no Brasil. De algum modo, parece natural para estas pessoas que aqui no Brasil a questão da propriedade e uso da terra, e, por derivado, todas as questões de propriedade ainda tenham que ser cotidianamente resolvidas e impostas na bala. E sempre, nesta visão, por culpa dos grupos oprimidos, nunca dos opressores. Ao ponto de, por fim, parecer justo a estas pessoas que justamente os oprimidos de sempre sofram ainda mais violência. E é por isso que elas aderem ao fascismo e é por isto também que o fascismo é uma face dominante da nossa cultura, de forma mais ou menos explícita, mais oculta ou mais manifesta, no plano político partidário.


Sou capaz de entender também que há uma apelo especial do fascismo ao extrato social médio em busca de ascensão econômica, social e política. É bem possível entender que haja uma adesão forte, especialmente dos empreendedores neste grupo social, à ideologia do livre mercado e até mesmo à imposição, pela força, de limites estreitos para a renda dos trabalhadores. E, novamente, essa ideologia é dominante aqui no Brasil, de um modo ou de outro, desde sempre e, por isso mesmo, também cria-se, no Brasil, essa cultura, fascista, de pobreza e violência, como um ciclo vicioso. É preciso, nesta ideologia e na sua prática objetiva, que os salários dos trabalhadores, que a renda direta e os direitos e ganhos associados ao trabalho, tenham que ser mantidos nos níveis mais baixos o possível, mesmo abaixo do nível mínimo de dignidade humana, pois é sobre esta base que eles acreditam que a economia brasileira deve funcionar e que apenas assim ela será exitosa. A manutenção da população trabalhadora em condições de pobreza e miséria e na ausência de direitos e serviços compensatórios só pode ser feita pela força, pela violência e pela imposição do medo sobre a população trabalhadora e sobre os grupos sociais excluídos e oprimidos, ou seja, pelo terrorismo de Estado fascista. E é por isto também que estas pessoas aderem ao fascismo e que a gente deve entender que o fascismo sempre foi e continua sendo uma força dominante na nossa sociedade.  É esta "necessidade econômica" que impõe o próprio fascismo político aberto e o estado de exceção como necessários para o país, de tempos em tempos.


Mas, enfim, o que eu penso ser, hoje, o mais importante, para esta pessoa específica e, talvez, para a grande maioria dos eleitores e propagandistas do fascismo no Brasil, é o seu vínculo com a religião. Eu acredito que o apelo religioso, a reafirmação, sem limites, da ideologia religiosa é a grande força psicológica do fascismo, especificamente aqui no Brasil hoje. E é bastante óbvio, para mim, que, no que realmente importa, no que realmente move a vida e as escolhas das pessoas, essa ideologia religiosa é, como ela mesma se afirma, uma ideologia de defesa da família. É este o centro objetivo, verdadeiro ou prático de toda a ideologia religiosa. E é objetivamente neste sentido que ela é utilizada como arma ideológica do fascismo. Através da identificação aberta com a religião, aqui entre nós, com a religião cristã, o fascismo se afirma como a expressão política da ideologia de defesa da família. É o valor superior da família que mexe com o psicológico dessas pessoas ao ponto delas aderirem ao fascismo e endossarem a violência armada e o terrorismo de Estado como estratégia legítima do poder. O amor à família as torna defensoras da tortura e assassinato de opositores do sistema. A barbárie é afirmada em nome do amor. Não é a primeira vez que o cristianismo cumpre este papel no jogo ideológico ao longo da história. E certamente não vai ser a última.


É necessário aprofundar todas estas análises, especialmente o vínculo do fascismo, ao fim, com a ideologia de defesa da família. Mas não agora.


Enfim, sejam quais forem as razões que levam alguém a aderir ao fascismo, sejam elas conscientes ou não, isso será sempre inaceitável para mim. Como eu digo sempre, toda vez que a serpente do fascismo levanta a cabeça, ela tem que ser esmagada. Isso quer dizer que não se pode negociar com a ideologia fascista. Ela tem que ser abominada e destruída, como perversão e crime contra a humanidade que é. Não estou falando de violência contra as pessoas, mas também não estou falando de ser conivente com qualquer pessoa ou ambiente em que se divulgue ou faça propaganda do fascismo. E é por isso que eu desfaço amizades e dou bloqueios de quem faz propaganda de políticos fascistas.

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