terça-feira, 4 de outubro de 2022

A eleição do governador do Rio tem algo a dizer


 Ele promoveu as maiores chacinas da história da cidade e foi eleito por isto.


Só pode haver uma razão para a maior parte dos eleitores fazerem esta escolha. A situação de violência, insegurança e medo cotidianos está em um nível tão absurdo que uma grande parte das pessoas sentem essas mortes em massa como algo positivo.


Elas sentem que a imposição de força pelo Estado, sem limite e sem lei, é melhor do que a imposição de força sem limite e sem lei por parte do crime.


Tem uma realidade muito miserável com um apelo emocional muto forte aí, mas também tem uma doutrinação ideológica constante, para que isto aconteça.


Parece que estas pessoas ignoram que a morte de índios, negros e favelados sempre foi uma estratégia política adotada aqui no Brasil. E parece que elas ignoram também que essa imposição de força sem limite e sem lei pelo Estado simplesmente não dá certo. Naquele mesmo local onde houve qualquer chacina destas e na cidade e no estado inteiros, as condições de violência, insegurança e medo vão continuar iguais eram antes. Chacinas já foram dezenas, centenas, já houve intervenção das forças armadas, torturas e mortes sem julgamento, assassinatos, portanto, são cometidos diariamente pelas forças policiais do Estado. E nada disto resolve.

Mas o povo, em maioria votou por mais disto.

E não vai dar certo de novo.


A esquerda parece que não tem nenhuma resposta a este estado de medo que a violência criminal e sua manipulação política e ideológica geram. As argumentações de legalidade e direitos humanos e as propostas de desenvolvimento social soam para a população, em estado de pânico manipulado política e ideologicamente, como defesa dos bandidos e complacência com o crime.


Ao ponto da esquerda terminar jogando no campo do adversário e se vendo aprisionada pela visão conservadora e fascista, onde ela só poderá perder.


Seja pela realidade ou pelo imaginário popular a questão da violência no Brasil e especificamente no RJ está ligada à questão das drogas.


E quem está no campo onde eu me encontro sabe bem do caráter opressor, discriminatório, abusivo e letal que o Estado costuma ter, sob a bandeira da política antidrogas. Eu sei, nós sabemos, que a chamada guerra às drogas é uma política fascista, sob alegações falsas de saúde pública e proteção das famílias. Não é com a violência policial, muito menos com a violência policial sem lei e sem limites, que podemos equacionar bem a questão das drogas para a saúde pública e para a segurança das famílias.

Mas parece que esta questão, pelo caráter emocional, pelo estado de pânico até, em que ela é constantemente tratada, torna-se um verdadeiro tabu, uma verdadeira kriptonita eleitoral.

Sorte que eu não sou candidato a nada e posso falar a verdade, sem me preocupar com a reação da população assustada.


Sim meus amigos, não há razão de saúde pública ou de segurança pública ou das famílias que justifique criminalizar as drogas. Pra começo de conversa, poucas drogas são mais perigosas do que o álcool e a nicotina. Poucas drogas podem provocar mais dano à saúde e à vida social e econômica das pessoas e das famílias do que o álcool e a nicotina. E com certeza a própria guerra às drogas provoca mais mortes e destruição de famílias do que aquelas que ela busca evitar. E não funciona.


Quando se fala que a questão das drogas é uma questão de saúde pública esta é uma verdade que não pode ser ignorada. De saúde pública, de saúde mental e de assistência social. Todo mundo que lida com dependentes químicos sabe disto. Criminalizar as drogas só aumenta a violência e dificulta os tratamentos.


A manipulação política e ideológica desta questão se dá de forma massiva e constante nos programas policiais disseminados pelas TVs e rádios de todo o país. Eles incentivam, diretamente ou veladamente, o ódio social e a violência policial. E também nas redes de mídia religiosa que também são totalmente disseminadas e fortemente incentivadas pelo poder público em todo o país.


Essa mídia e essa ideologia são amplamente difundidas se tornam prevalentes justamente em condições de violência e medo altos. Temos verdadeiros ciclos viciosos aí. Porque esta mídia se nutre, justamente, da violência e do medo. E, além destes ciclos viciosos da mídia, temos também os ciclos viciosos objetivos em que boa parte destes propagandistas antidrogas são usuários de drogas, assim como boa parte da polícia e do judiciário. Quem faz propaganda contra, quem prende e mata e quem condena. Boa parte é usuária de drogas proibidas. E boa parte está diretamente envolvida com o tráfico de drogas.


A guerra às drogas não funciona e nunca vai funcionar.


Ver uma esquerda progressista ou uma direita liberal defendendo isto é algo que me faz suspirar profundamente e firmar minhas forças porque sei que a batalha é grande e longa ainda. E no seu curso várias prisões, internações forçadas, torturas e outras formas de violência, mortes e chacinas desnecessárias vão continuar a acontecer.


Mas de alguma forma as sociedades humanas desenvolvem e fazem criticas dos seus erros e o futuro vem, por mais que os tabus e medos tentem impedir

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