segunda-feira, 21 de maio de 2018

Diante do abismo

Digamos que Marx fez duas denúncias contra o capitalismo. 
Uma é ética: o capitalismo é injusto e imoral, é, sob o manto da legalidade e da liberdade, uma forma de engodo, apropriação indébita e opressão. Sobre isto já se falou demais e, como em geral com qualquer um de nós, ele estava certo e errado nessa denúncia. E agora não vou discutir isso.
A outra é teleológica, ou ontológica, se vc quiser. O capitalismo inverte a relação entre fins e meios e os meios financeiros passam a ser o objetivo final da produção. É um ciclo vicioso infernal que certamente promove desenvolvimento. Mas, qual desenvolvimento?
A questão para ele, neste caso, é que seres humanos nós queremos e estamos formando, forjando agora e para o futuro.
E Marx condenava o humano que o capitalismo vinha criando. A babilônia, o monstro de fogo, cinza, concreto, metal, plástico, líquidos e gazes poluentes que tritura humanos para se reproduzir, produzindo mais mais e mais fogo, cinza, concreto, metal e poluição. Uma produção autodestrutiva, degenerada, portanto, é o q Marx denunciava no capitalismo.
Hegel tinha, antes, apontado neste mesmo mecanismo de moto-perpétuo do capitalismo, uma forma de conduzir os indivíduos, inconscientemente, a cumprir o verdadeiro destino da humanidade, levando a todos, impulsionados como burros atrás da cenoura, pela necessidade e a ganância do dinheiro, a reproduzir e deenvolver sempre mais o sistema humano.
Nos colocar diante dessa questao histórica é agora mais relevante do que em qualquer momento anterior. Pois é somente agora que estamos diante de um verdadeiro e completo salto ontológico da humanidade, pois estamos de fato progressivamente criando as condições para a mudança radical e. por fim, completa da plataforma de existência do ser humano. Estamos criando tanto as bases para as mais radicais intervenções na nossa biologia quanto para a sua integração com recursos mecânicos e biomecânicos, assim como para o desenvolvimento da inteligência fora da nossa palataforma biológica.
Que ser será este que estamos gestando agora, na babilonia global? Agora diante das possibilidades absolutamente titânicas de autocriação da humanidade, dentro da babilônia de violência, abuso e destruição ilimitadas em que vivemos, que humano estamos gestando?
Essa é a disputa fundamental q, ainda que muito inconscientemente, move a todos os egos, não há como negar. O q é o humano q estamos formando? A minha força vital do ego quer dizer q este humano sou eu. É o meu modo de ser e de pensar. É o meu agir, para o ego mundano e é o meu projeto de homem, de humano, para o ego teórico. Sou eu o caminho da humanidade! É isto que todo ego quer, sobretudo, afirmar. Essa uma responsabilidade da qual não podemos fugir, melhor ter consciência dela.

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