segunda-feira, 31 de outubro de 2022
ELEIÇÃO DO LULA. MINHA VISÃO ANARQUISTA: E VAMOS ADIANTE COM NOSSOS CORPOS E SONHOS
terça-feira, 4 de outubro de 2022
A eleição do governador do Rio tem algo a dizer
Ele promoveu as maiores chacinas da história da cidade e foi eleito por isto.
Só pode haver uma razão para a maior parte dos eleitores fazerem esta escolha. A situação de violência, insegurança e medo cotidianos está em um nível tão absurdo que uma grande parte das pessoas sentem essas mortes em massa como algo positivo.
Elas sentem que a imposição de força pelo Estado, sem limite e sem lei, é melhor do que a imposição de força sem limite e sem lei por parte do crime.
Tem uma realidade muito miserável com um apelo emocional muto forte aí, mas também tem uma doutrinação ideológica constante, para que isto aconteça.
Parece que estas pessoas ignoram que a morte de índios, negros e favelados sempre foi uma estratégia política adotada aqui no Brasil. E parece que elas ignoram também que essa imposição de força sem limite e sem lei pelo Estado simplesmente não dá certo. Naquele mesmo local onde houve qualquer chacina destas e na cidade e no estado inteiros, as condições de violência, insegurança e medo vão continuar iguais eram antes. Chacinas já foram dezenas, centenas, já houve intervenção das forças armadas, torturas e mortes sem julgamento, assassinatos, portanto, são cometidos diariamente pelas forças policiais do Estado. E nada disto resolve.
Mas o povo, em maioria votou por mais disto.
E não vai dar certo de novo.
A esquerda parece que não tem nenhuma resposta a este estado de medo que a violência criminal e sua manipulação política e ideológica geram. As argumentações de legalidade e direitos humanos e as propostas de desenvolvimento social soam para a população, em estado de pânico manipulado política e ideologicamente, como defesa dos bandidos e complacência com o crime.
Ao ponto da esquerda terminar jogando no campo do adversário e se vendo aprisionada pela visão conservadora e fascista, onde ela só poderá perder.
Seja pela realidade ou pelo imaginário popular a questão da violência no Brasil e especificamente no RJ está ligada à questão das drogas.
E quem está no campo onde eu me encontro sabe bem do caráter opressor, discriminatório, abusivo e letal que o Estado costuma ter, sob a bandeira da política antidrogas. Eu sei, nós sabemos, que a chamada guerra às drogas é uma política fascista, sob alegações falsas de saúde pública e proteção das famílias. Não é com a violência policial, muito menos com a violência policial sem lei e sem limites, que podemos equacionar bem a questão das drogas para a saúde pública e para a segurança das famílias.
Mas parece que esta questão, pelo caráter emocional, pelo estado de pânico até, em que ela é constantemente tratada, torna-se um verdadeiro tabu, uma verdadeira kriptonita eleitoral.
Sorte que eu não sou candidato a nada e posso falar a verdade, sem me preocupar com a reação da população assustada.
Sim meus amigos, não há razão de saúde pública ou de segurança pública ou das famílias que justifique criminalizar as drogas. Pra começo de conversa, poucas drogas são mais perigosas do que o álcool e a nicotina. Poucas drogas podem provocar mais dano à saúde e à vida social e econômica das pessoas e das famílias do que o álcool e a nicotina. E com certeza a própria guerra às drogas provoca mais mortes e destruição de famílias do que aquelas que ela busca evitar. E não funciona.
Quando se fala que a questão das drogas é uma questão de saúde pública esta é uma verdade que não pode ser ignorada. De saúde pública, de saúde mental e de assistência social. Todo mundo que lida com dependentes químicos sabe disto. Criminalizar as drogas só aumenta a violência e dificulta os tratamentos.
A manipulação política e ideológica desta questão se dá de forma massiva e constante nos programas policiais disseminados pelas TVs e rádios de todo o país. Eles incentivam, diretamente ou veladamente, o ódio social e a violência policial. E também nas redes de mídia religiosa que também são totalmente disseminadas e fortemente incentivadas pelo poder público em todo o país.
Essa mídia e essa ideologia são amplamente difundidas se tornam prevalentes justamente em condições de violência e medo altos. Temos verdadeiros ciclos viciosos aí. Porque esta mídia se nutre, justamente, da violência e do medo. E, além destes ciclos viciosos da mídia, temos também os ciclos viciosos objetivos em que boa parte destes propagandistas antidrogas são usuários de drogas, assim como boa parte da polícia e do judiciário. Quem faz propaganda contra, quem prende e mata e quem condena. Boa parte é usuária de drogas proibidas. E boa parte está diretamente envolvida com o tráfico de drogas.
A guerra às drogas não funciona e nunca vai funcionar.
Ver uma esquerda progressista ou uma direita liberal defendendo isto é algo que me faz suspirar profundamente e firmar minhas forças porque sei que a batalha é grande e longa ainda. E no seu curso várias prisões, internações forçadas, torturas e outras formas de violência, mortes e chacinas desnecessárias vão continuar a acontecer.
Mas de alguma forma as sociedades humanas desenvolvem e fazem criticas dos seus erros e o futuro vem, por mais que os tabus e medos tentem impedir
sábado, 1 de outubro de 2022
QUEM SÃO OS FASCISTAS E PORQUE ELES TÊM QUE SER DERROTADOS
Nesta campanha eleitoral e na anterior bloqueei e desfiz amizade com algumas pessoas. Infelizmente, não era a minha intenção, mas fazer propaganda para o fascismo excede os limites do aceitável para mim.
Fico triste, mas não tem outro jeito. Com o fascismo não se dialoga.
Penso especialmente em uma pessoa específica e acredito que ela não aceitaria esta classificação de fascista.
Mas já tem muita coisa evidente no discurso e nas práticas dos Bolsonaro e dos grupos que subiram ao poder com eles. Mesmo para quem não quer ver.
Enfim há uma origem miliciana e ligada à ditadura militar e ao que há de pior nela: o terrorismo de estado. O uso da tortura e dos assassinatos como armas políticas. E isto tudo é fascismo político. Poder militar e violência armada como estratégia de poder.
Eu entendo que a coisa colocada assim no nível político é abstrata e dá margem a dúvidas.
Mas isto faz parte do nosso dia a dia.
Há uma violência constante, da sociedade e do Estado, atingindo focalizadamente pobres, negros, índios, homossexuais, pacientes psiquiátricos, pessoas com deficiência, mulheres, idosos, crianças, entre outros grupos excluídos ou fragilizados, que são alvo de níveis diversos de violência opressiva da sociedade e do Estado. E há, aqui no Brasil, uma verdadeira guerra aberta de grupos dominantes e do Estado, baseada em violência física, torturas e assassinatos, contra alguns destes grupos oprimidos. A violência armada é estratégia constante do poder dominante no Brasil, desde sempre. Desconhecer isto é uma ignorância absurda. Ser conivente com isto é inaceitável.
Mas eu não tô escrevendo isto apenas pra me justificar, pra explicar porque eu desfaço as amizades neste caso, mas principalmente para tentar entender o que leva alguém com tantas qualidades pessoais e digna de respeito a se aliar a esta ideologia ao ponto de fazer propaganda para o presidente fascista?
Bom, acredito que o ambiente ideológico midiático, digamos assim, conta muito. E este é predominantemente fascista, ou, pelo menos, bastante conivente com o fascismo e vinculado à religião aqui no Brasil. Os assassinatos contra os índios, nas ocupações e favelas e até mesmo contra ecologistas raramente ganham a projeção e a condenação que mereceriam na mídia nacional. Ao contrário, no dia a dia, estas mortes e até mesmo as torturas e os estupros de adolescentes e crianças, são minimizadas, completamente desconsideradas e até mesmo incentivadas, de modo direto ou através de indiretas. Somos continuamente doutrinados, direta ou subliminarmente, a aceitar isto como natural ou inevitável. Cria-se, nas culturas locais onde estes conflitos estão presentes, com grande peso da mídia, um verdadeiro ciclo vicioso de exclusão, abusos, miséria e violência que parece fazer parte da própria condição nacional aqui no Brasil. De algum modo, parece natural para estas pessoas que aqui no Brasil a questão da propriedade e uso da terra, e, por derivado, todas as questões de propriedade ainda tenham que ser cotidianamente resolvidas e impostas na bala. E sempre, nesta visão, por culpa dos grupos oprimidos, nunca dos opressores. Ao ponto de, por fim, parecer justo a estas pessoas que justamente os oprimidos de sempre sofram ainda mais violência. E é por isso que elas aderem ao fascismo e é por isto também que o fascismo é uma face dominante da nossa cultura, de forma mais ou menos explícita, mais oculta ou mais manifesta, no plano político partidário.
Sou capaz de entender também que há uma apelo especial do fascismo ao extrato social médio em busca de ascensão econômica, social e política. É bem possível entender que haja uma adesão forte, especialmente dos empreendedores neste grupo social, à ideologia do livre mercado e até mesmo à imposição, pela força, de limites estreitos para a renda dos trabalhadores. E, novamente, essa ideologia é dominante aqui no Brasil, de um modo ou de outro, desde sempre e, por isso mesmo, também cria-se, no Brasil, essa cultura, fascista, de pobreza e violência, como um ciclo vicioso. É preciso, nesta ideologia e na sua prática objetiva, que os salários dos trabalhadores, que a renda direta e os direitos e ganhos associados ao trabalho, tenham que ser mantidos nos níveis mais baixos o possível, mesmo abaixo do nível mínimo de dignidade humana, pois é sobre esta base que eles acreditam que a economia brasileira deve funcionar e que apenas assim ela será exitosa. A manutenção da população trabalhadora em condições de pobreza e miséria e na ausência de direitos e serviços compensatórios só pode ser feita pela força, pela violência e pela imposição do medo sobre a população trabalhadora e sobre os grupos sociais excluídos e oprimidos, ou seja, pelo terrorismo de Estado fascista. E é por isto também que estas pessoas aderem ao fascismo e que a gente deve entender que o fascismo sempre foi e continua sendo uma força dominante na nossa sociedade. É esta "necessidade econômica" que impõe o próprio fascismo político aberto e o estado de exceção como necessários para o país, de tempos em tempos.
Mas, enfim, o que eu penso ser, hoje, o mais importante, para esta pessoa específica e, talvez, para a grande maioria dos eleitores e propagandistas do fascismo no Brasil, é o seu vínculo com a religião. Eu acredito que o apelo religioso, a reafirmação, sem limites, da ideologia religiosa é a grande força psicológica do fascismo, especificamente aqui no Brasil hoje. E é bastante óbvio, para mim, que, no que realmente importa, no que realmente move a vida e as escolhas das pessoas, essa ideologia religiosa é, como ela mesma se afirma, uma ideologia de defesa da família. É este o centro objetivo, verdadeiro ou prático de toda a ideologia religiosa. E é objetivamente neste sentido que ela é utilizada como arma ideológica do fascismo. Através da identificação aberta com a religião, aqui entre nós, com a religião cristã, o fascismo se afirma como a expressão política da ideologia de defesa da família. É o valor superior da família que mexe com o psicológico dessas pessoas ao ponto delas aderirem ao fascismo e endossarem a violência armada e o terrorismo de Estado como estratégia legítima do poder. O amor à família as torna defensoras da tortura e assassinato de opositores do sistema. A barbárie é afirmada em nome do amor. Não é a primeira vez que o cristianismo cumpre este papel no jogo ideológico ao longo da história. E certamente não vai ser a última.
É necessário aprofundar todas estas análises, especialmente o vínculo do fascismo, ao fim, com a ideologia de defesa da família. Mas não agora.
Enfim, sejam quais forem as razões que levam alguém a aderir ao fascismo, sejam elas conscientes ou não, isso será sempre inaceitável para mim. Como eu digo sempre, toda vez que a serpente do fascismo levanta a cabeça, ela tem que ser esmagada. Isso quer dizer que não se pode negociar com a ideologia fascista. Ela tem que ser abominada e destruída, como perversão e crime contra a humanidade que é. Não estou falando de violência contra as pessoas, mas também não estou falando de ser conivente com qualquer pessoa ou ambiente em que se divulgue ou faça propaganda do fascismo. E é por isso que eu desfaço amizades e dou bloqueios de quem faz propaganda de políticos fascistas.
domingo, 14 de agosto de 2022
EPIDEMIOLOGIA DA MORTALIDADE DA COVID
Epidemiologia da Mortalidade por Covid até Agosto de 2022
Assim que a epidemia de Covid surgiu, em fins de 2019, início de 2020, na China, e iniciou a sua disseminação mundial, surgiu também a ideia, logo amplamente acatada no mundo ocidental, de que, antes da vacina,
a principal forma de se prevenir a propagação da doença e seu rastro trágico de mortes, seria o isolamento social.
Essa ideia foi difundida como uma verdade cientificamente comprovada, especialmente a partir de uma publicação do Imperial College of London (Report 9: Impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID-19 mortality and healthcare demand - Março, 2020), bem no início da pandemia e foi progressivamente adotada, de um modo ou de outro, pelos países ocidentais em geral.
Como afirmam os autores de artigo atual sobre o tema, no Brasil:
“Desde o início da pandemia, as autoridades de saúde pública do Brasil recomendam a adoção de medidas para evitar a propagação do vírus, como o distanciamento social, isolamento dos casos confirmados da doença, higiene das mãos e uso de máscaras. Porém, a principal estratégia para diminuir o número de casos e mortes pela Covid-19 foi o fechamento total ou parcial de locais que reuniam um grande número de pessoas, tais como escolas, estabelecimentos comerciais considerados não essenciais, fronteiras e cancelamento de eventos públicos”. (Adesão ao isolamento social na pandemia de Covid-19 entre professores da educação básica de Minas Gerais, Brasil – Saúde e Debate, Março, 2022).
Deve-se destacar que nos países do mundo ocidental, Europa e Américas, em geral, essas medidas de isolamento social, representando uma quarentena generalizada, de praticamente toda a população do país, foram recomendadas e sua implantação foi de fato tentada, sem prazos definidos, ou seja, por período indefinido, até que se tivesse vacinação em massa contra a doença.
Deve-se destacar também que entre as medidas citadas pelos autores no trecho acima, como recomendadas pelas autoridades no Brasil, não consta a testagem em massa. Não consta a testagem, de modo algum. E isto não é um lapso imperdoável dos autores. Infelizmente, é muito pior. Este foi um erro estratégico real das autoridades de saúde pública no nosso país. Não houve, é claro, nenhuma estratégia de testagem implantada no Brasil, nem a nível nacional nem em outro nível populacional qualquer.
Parece razoável concluir, aliás, que a negligência com relação à importância da testagem na estratégia de prevenção foi estimulada, ou até em parte determinada, pela estratégia de isolamento social geral, de quarentena generalizada por tempo indeterminado. A estratégia de testagem parece mesmo menos importante se realmente tivermos um isolamento geral. Não é de se estranhar que o referido artigo referencial do Imperial College, por exemplo, não faz uma mínima consideração sobre o impacto potencial da testagem em massa como estratégia central na prevenção da epidemia.
A adoção destas
medidas de isolamento social, ou quarentena generalizada, em um país,
por tempo indefinido como o eixo ou núcleo de toda a estratégia,
ou, pelo menos como a medida principal, para o controle da epidemia
antes da vacinação em massa, tinha dois ou três pressupostos que
devem ser considerados:
1. Essas medidas seriam efetivas para a
prevenção da epidemia. Isto quer dizer, que elas seriam aplicáveis
na realidade e teriam os efeitos esperados.
2. O dano potencial
ou real provocado pela epidemia superaria, em muito, o dano causado
por estas medidas de isolamento por tempo indeterminado
3. Essas medidas de isolamento social seriam as únicas, as essenciais, ou, pelo menos, seriam muito mais eficazes do que quaisquer outras que pudessem ser adotadas em seu lugar.
Na verdade esses pressupostos da proposta foram assumidos imediatamente ou progressivamente como certezas cientificamente comprovadas. Apesar de não se ter objetivamente quase dado algum para sustentar estas certezas. E apesar de até mesmo a OMS indicar, ainda no início da pandemia, a testagem como o centro de qualquer estratégia de prevenção.
Na época parecia impossível, e ainda hoje talvez seja, alguém se contrapor a estas certezas midiáticas. Ainda mais pelo caráter político ideológico que elas tomaram na ocasião, sob o impacto aterrorizante de um crescente de mortes causadas pela epidemia. Por motivos que não cabe avaliar agora, apenas a direita e até mesmo apenas a extrema direita combateu diretamente o isolamento social no mundo ocidental. E quem, de outro matiz ideológico também se contrapôs, foi taxado como fascista, na ocasião. Mas agora já temos um conjunto de dados de realidade de mais de dois anos e meio de pandemia, com realidades completamente diferentes entre os diversos países no mundo. Talvez a gente consiga olhar para estes dados com a intenção investigativa e simplesmente perguntar o que eles nos dizem.
Os objetivos das medidas de prevenção eram basicamente diminuir a transmissão e assim o número de casos novos e mortes. Não podemos considerar os dados de números de casos como definidores para a avaliação do impacto de qualquer medida de prevenção neste caso, porque os recursos e as formas de diagnóstico e testagem foram e são muito diferentes nos diversos países mundo afora. Parece mais razoável nos fiarmos nos dados de mortalidade, mais seguros e definidores, de fato, do impacto final da pandemia, ainda que também com um bom potencial de questionamento e divergências.
Por isso concentro a análise abaixo apenas nos dados de mortalidade.
.
Desde o início da pandemia, até 13 de Agosto de 2022, ou seja, em mais de dois anos, o número total de mortes associadas à COVID no mundo foi de 6,4 milhões (Fonte: Johns Hopkins Coronavirus Resource Center). Ou seja, menos de 3,2 milhões por ano. Isto é bastante similar ao total de mortes que ocorrem todos os anos por pneunonia. E está vários milhões abaixo das mortes anualmente causadas por Infarto ou derrame (mais de 10 milhões cada).
A população mundial é hoje de 7.9 bilhões de pessoas. A taxa de mortalidade associada à COVID é, foi, portanto, menor que de 0,4 / 1000 pessoas por ano.
Já o total de mortes anuais é de 60 milhões em todo o mundo e, portanto, a taxa de mortalidade geral no mundo é próxima a 8 / 1000.
Estes são os dados e a realidade no mundo após 30 meses da pandemia.
O seu impacto, sintetizado na mortalidade, é equivalente àquele que ocorre anualmente causado pela pneumonia e várias vezes menor do que aquele causado todo ano pelas doenças cardiovasculares.
O que essa informação nos serve é para pensar se diante deste risco, do risco deste dano, as medidas de quarentena generalizada por tempo indeterminado seriam justificáveis. Avalie por você mesmo.
Duas informações adicionais devem ser contrastadas com essa para que se possa fazer uma boa avaliação realmente.
Primeiro é o custo social, humano, econômico, de saúde e para a vida das pessoas em geral que estas medidas impuseram. A quebra de cadeias produtivas, a recessão generalizada, o desemprego, os aumentos da pobreza e da miséria, a perda educacional, as descontinuidades e atrasos em diversos tratamentos, as rupturas sociais e o sofrimento psíquico etc. Os danos causados pela pandemia e os seus riscos, eram ou foram ou ainda são, tão maiores que estes do isolamento social generalizado por tempo indeterminado, de modo a justificá-los? Ou estas medidas de fato causaram e causam mais danos do que benefícios?
A segunda informação ou questão que deve ser considerada é qual a efetividade real das medidas de isolamento assim adotadas? Qual terá sido o real impacto destas medidas na disseminação da doença? Qualquer um que esteve no Brasil ou na Índia, ou em algum país da Europa nesta época, pode, com certeza, indicar um grande conjunto de falhas nas medidas de isolamento social em seu país. Falhas graves, continuadas e reiteradas que comprometeram de fato o isolamento social no país, constantemente. Mas, mesmo assim, acreditam piamente que o isolamento foi o fator mais importante para a prevenção da propagação da epidemia. Argumenta-se, portanto, que uma mortalidade maior foi evitada pela estratégia de isolamento social generalizado até a aplicação em massa das vacinas. Mesmo com tantos furos e a virtual impossibilidade de uma boa aplicação desta ideia na prática, o isolamento generalizado, a quarentena de toda a população, por tempo indeterminado, até a vacinação, foi difundida e adotada, em países ocidentais, na Europa e nas Américas, como a firme posição científica sobre a questão e, na medida em que foi aplicada, deve ter reduzido de algum modo a mortalidade pela epidemia.
A mortalidade é, com certeza, uma expressão sintética destes resultados, onde a prevenção foi mais efetiva a transmissão deve ter sido menor e a mortalidade também, consequentemente.
Contudo, quando olhamos para a epidemiologia desta mortalidade, em sua distribuição por países, não parece haver a menor consistência na ideia de que estas medidas impactaram de modo realmente efetivo a epidemia no mundo.
Considerando-se os 30 piores desempenhos neste indicador a gente vê o seguinte retrato
COUNTRY |
DEATHS/100K POP. |
Peru |
651,74 |
Bulgaria |
539,47 |
Hungary |
486,17 |
Bosnia and Herzegovina |
485,92 |
North Macedonia |
451,86 |
Montenegro |
439,13 |
Georgia |
423,07 |
Croatia |
401,24 |
Czechia |
379,44 |
Slovakia |
372,35 |
San Marino |
347,69 |
Romania |
344,69 |
Lithuania |
339,05 |
Slovenia |
324,35 |
Brazil |
320,50 |
US |
314,75 |
Chile |
313,50 |
Latvia |
313,28 |
Poland |
308,48 |
Greece |
304,34 |
Armenia |
291,47 |
Trinidad and Tobago |
290,89 |
Moldova |
289,55 |
Italy |
287,54 |
Argentina |
286,40 |
Belgium |
281,61 |
Colombia |
277,67 |
United Kingdom |
275,16 |
Paraguay |
271,39 |
Ukraine |
266,40 |
Fonte: Johns Hopkins Coronavirus Resource Center
O que me chama mais a atenção neste grupo de piores resultados é:
A presença de países da Europa e Américas, exclusivamente.
A grande presença
de países ricos, com alta renda per capita e melhores serviços de
saúde em geral.
A presença de vários países da América do
Sul.
Uma grande concentração de países do Leste Europeu no
pior nível.
Os resultados do Brasil, entre os piores do mundo e
muito próximos daqueles dos EUA.
Não parece razoável atribuir às medidas de isolamento social um peso predominante no pior desempenho destes países. Ainda que, até tautologicamente, em condições iguais, onde a prevenção foi pior realizada os resultados devem ser piores.
O que se pode dizer, com boa dose de certeza, é que este grupo de países não se destaca negativamente por terem negado a estratégia de quarentena generalizada com isolamento social por tempo indeterminado. Ao contrário, parece que a maioria destes países tentou, de um jeito ou de outro, justamente, a prevenção da pandemia através desta estratégia.
Considerando-se 30 países com resultados medianamente satisfatórios
Sri Lanka |
77.59 |
Belarus |
75.33 |
Cuba |
75.30 |
Cabo Verde |
73.74 |
Norway |
70.72 |
El Salvador |
65.01 |
Mongolia |
64.76 |
Iraq |
62.96 |
Kuwait |
59.99 |
Indonesia |
57.47 |
Maldives |
56.79 |
Philippines |
55.62 |
Iceland |
52.45 |
Brunei |
51.43 |
Australia |
50.35 |
Korea, South |
49.87 |
Kyrgyzstan |
45.84 |
Thailand |
45.56 |
Vietnam |
44.27 |
Morocco |
44.07 |
Nepal |
41.13 |
Dominican Republic |
40.41 |
Taiwan* |
39.35 |
India |
38.19 |
Zimbabwe |
37.59 |
New Zealand |
36.31 |
Burma |
35.72 |
Sao Tome and Principe |
34.68 |
Palau |
33.32 |
Lesotho |
32.86 |
Fonte: Johns Hopkins Coronavirus Resource Center
Chama a atenção a imensa distribuição geográfica destes países de resultados medianos, um pouco abaixo do resultado mundial global de 80 óbitos por 100 mil habitantes, desde o início da pandemia.
Novamente é muito
difícil e, provavelmente falseador, tentar atribuir estes resultados
predominantemente à estratégia de quarentena generalizada com
isolamento social por tempo indeterminado, até a vacinação.
Ao
contrário é possível identificar neste grupo estratégias bem
divergentes, com relação ao isolamento social. A Nova Zelândia foi
reconhecida como exemplo de estratégia de sucesso baseada no
isolamento social generalizado e por tempo indeterminado, ao passo
que para países como a Islândia, Belarus, Índia, Vietnã, por
exemplo, não parece justo dizer que a estratégia central de
prevenção foi esta.
Considerando-se os 30 países com os melhores resultados
Sudan |
11.31 |
Kiribati |
11.05 |
Kenya |
10.55 |
Laos |
10.40 |
Timor-Leste |
10.24 |
Guinea-Bissau |
8.84 |
Somalia |
8.56 |
Uganda |
7.93 |
Papua New Guinea |
7.41 |
Haiti |
7.35 |
Cameroon |
7.28 |
Yemen |
7.22 |
Mozambique |
7.10 |
Congo (Brazzaville) |
7.00 |
Ethiopia |
6.58 |
Angola |
5.83 |
Liberia |
5.81 |
Madagascar |
5.09 |
Uzbekistan |
4.89 |
Vanuatu |
4.78 |
Ghana |
4.69 |
Nicaragua |
3.68 |
Mali |
3.65 |
Guinea |
3.40 |
Togo |
3.39 |
Cote d'Ivoire |
3.09 |
Eritrea |
2.90 |
Bhutan |
2.72 |
Central African Republic |
2.34 |
Burkina Faso |
1.85 |
Sierra Leone |
1.58 |
Congo (Kinshasa) |
1.55 |
Nigeria |
1.53 |
Tanzania |
1.41 |
Benin |
1.34 |
Tajikistan |
1.31 |
Niger |
1.28 |
South Sudan |
1.23 |
Chad |
1.17 |
China |
1.05 |
Burundi |
0.32 |
Korea, North |
0.02 |
Fonte: Johns Hopkins Coronavirus Resource Center
Quando se chega aos melhores resultados, novamente não parece que estes resultados devam ser atribuídos a uma adoção especialmente bem realizada da estratégia de quarentena generalizada com isolamento social, por tempo indeterminado.
Chama a atenção a grande concentração de países da África, com alguns poucos países do Oriente e menos ainda da América. E chama atenção também o excelente resultado da China.
Com certeza não se pode atribuir os melhores resultados neste grupo às medidas de isolamento social que eles teriam implantado e executado melhor do que os outros durante a pandemia, até hoje. Com certeza não foi este o fator predominante da grande presença de países africanos nem dos excelentes resultados da China. Ainda que a China tenha o padrão mais rigoroso de controle da pandemia (O Covid zero, criticado pelo mundo ocidental e pela própria OMS), ele não foi baseado em quarentena generalizada com isolamento social nacional por tempo indeterminado. Não, ele foi baseado em testagem em massa, identificação e isolamento precoce de casos, rastreio de contatos, controle rigoroso de alfândega e lockdowns isolados em bairros ou cidades. Essa metodologia, por mais criticável que seja, e eu sou crítico a ela também, foi, é muito mais efetiva e com muito menor custo do que aquela preconizada e adotada no mundo ocidental.
Pode-se criticar as
análises acima indicando que eu estaria comparando coisas
diferentes, pois as realidades sociais, demográficas e étnicas
seriam muito diferentes nestes diversos países. E poderíamos também
levantar várias hipóteses sobre o impacto de cada uma destas
diferenças nos resultados.
Mas tudo isto só reforça a minha
tese de que, ao nível de países, não se tem evidência empírica
suficiente para se atribuir benefício real na prevenção à
pandemia pela adoção das medidas de isolamento social (quarentena
generalizada) por tempo indeterminado.
Talvez alguém considere ainda que o melhor seria comparar unidades menores, como cidades ou pequenos territórios que implantaram medidas de isolamento social com outros que não implantaram. Mas, é acertado considerar estes dados ao nível de país, pois, esta é a unidade política em que as medidas do nível das discutidas aqui são tomadas e a unidade populacional em que elas de fato se aplicam. Logo a sua aplicabilidade real, os seus efeitos práticos na prevenção da doença e o seu custo social real, devem mesmo ser medidos ao nível nacional. É possível, por exemplo, que medidas muito bem implantadas e efetivas em um pequeno território se mostrem inviáveis e por isso inefetivas em unidades territoriais e populacionais maiores.
E os dados epidemiológicos, de mortalidade por países, parecem indicar mais o sentido contrário.
Em geral, países que se concentraram nesta estratégia de isolamento social como centro ou núcleo de suas medidas preventivas tiveram os piores resultados (mais altas taxas de mortalidade). A estratégia clássica de testagem em massa com localização e isolamento de positivos e investigação de contatos parece estar associada aos resultados mais positivos (mortalidade menor do que a global). Também parece claro que a associação dessa estratégia com o controle de alfândega e com os lockdowns em territórios delimitados (bairros ou cidades) por tempo limitado (semanas) foi mais bem sucedida do que o isolamento generalizado por tempo indeterminado e com custo social, humano, muito menor.
terça-feira, 19 de julho de 2022
O MOVIMENTO PENDULAR DA ECONOMIA CAPITALISTA E O MOMENTO HISTÓRICO ATUAL
Eu tive uma primeira intuição do movimento pendular entre liberalismo e socialismo, digamos assim, para simplificar, dentro do capitalismo contemporâneo, no início da década de 80. Quando me pareceu claro que as estruturas econômicas (inter)nacionais e sociais democratas, que tinham ganhado corpo no pós guerra e dado forma à economia mundial desde então, haviam se tornado relativamente obsoletas e se tornado em empecilhos ao avanço do desenvolvimento econômico (sociotecnológico) mundial.